“O sofrimento é sempre um encontro consigo mesmo:
sofrer amadurece.”
– Clarice Lispector
Diante da correria do dia a dia, da luta constante pela sobrevivência neste mundo selvagem, acabamos, na maioria das vezes, por não prestar atenção aos sinais que nosso corpo e nossa alma nos enviam. Conquistamos posições de destaque, bens materiais, visibilidade na mídia e, nem sempre, paramos para nos olhar. Fugimos de nós mesmos por acharmos que estamos perdendo tempo com indagações, conflitos, questionamentos que só nos colocarão distantes dos nossos objetivos – profissionais e sociais.
O momento em que nos decidimos a parar e olhar para nós mesmos nem sempre é um momento agradável, muitas vezes é imposto por meio de uma doença que nos acomete ou que acomete os seres que amamos. E quando isso acontece, fugir não é o remédio. Fugir é uma solução paliativa para algo que vem da nossa alma e refletiu em nossa vida. Precisamos reconhecer que somos humanos, feitos de carne e osso, que não somos perfeitos, que não precisamos dar conta de tudo e nem entender de tudo, que podemos errar e fraquejar, que podemos tratar melhor as pessoas, pois nem todos farão o mal que um dia nos fizeram.
Precisamos reconhecer nosso sofrimento e buscar ajuda, sim. Não estamos sozinhos neste mundo. Quando reconhecemos nosso sofrimento, seja ele físico ou emocional, devemos tratá-lo com bondade, sem violência, sem culpa, sem autopunição, sem autoflagelo. Neste momento, é importante abraçar o nosso medo, acalmar a nossa raiva, acariciar o nosso ódio, e aceitar que precisamos nos olhar no espelho com carinho e colocar no colo essa pessoa, esse corpo, essa alma que está em lágrimas.
Para sofrer, basta estar vivo, porém a dor é um caminho para o crescimento. E disso ninguém escapa. Ela nos pertence, e somos nós quem a criamos. Nem sempre nossas escolhas nos levam para o caminho do amor. No entanto, aceitar a dor é um meio para nos encontrarmos, para pararmos de fugir de nós mesmos, para entendermos que algo não está bem. Ela é um meio para refletirmos sobre nós, sobre a nossa vida, sobre a maneira que estamos conduzindo nossos desejos, sonhos e expectativas. A dor é uma oportunidade, uma chance para prestarmos atenção em nós mesmos.
No seu livro Linguagem do corpo 2, Cristina Cairo diz que a física quântica comprova que o pensamento interfere diretamente na trajetória de nosso destino, pois pensamentos são vibrações que se deslocam instantaneamente, sem depender de tempo ou de espaço. Ou seja, assumem formas, realizam sonhos, transformam ambientes, fabricam doenças e geram no corpo o que desejamos ou não, consciente ou inconscientemente. Diz ainda que: compreender que a doença é o reflexo de seu comportamento, de suas palavras, de seus pensamentos e sentimentos já será um grande passo para a sua evolução. Quanto mais formos flexíveis em nossas opiniões e pensamentos, mantendo o equilíbrio entre o que sabemos e o que os outros sabem; mais saúde e tranquilidade teremos para seguir nosso caminho.
O se conhecer e conhecer o outro é fundamental para a saúde emocional e física. Conhecer nossos mecanismos de defesa psicológicos e das outras pessoas, tentar entender o porquê de alguns desentendimentos, de alguns “surtos” que geram mágoas, ressentimentos, raiva e demais componentes que só vão nos levar a um lugar – à doença – é crucial para os relacionamentos saudáveis. É comum usarmos de um mecanismo de defesa – o da resistência. Resistência em reconhecer nossas fragilidades, nossos defeitos, assumir nossos erros, afinal é muito mais fácil achar que o outro é errado ou culpado pelos nossos sofrimentos. Sigmund Freud dizia que quando você se irrita profundamente com alguém a ponto de comentar e apontar os defeitos dessa pessoa, está dando um forte indício de que você se projeta e se identifica com ela.
Podemos a qualquer momento parar e começar a refletir como estamos trilhando nosso caminho, como estamos construindo a nossa história, o que estamos sendo para nós mesmos e para o mundo. A doença é um sinal de alerta da nossa alma. É uma forma de comunicação de nossos desejos frustrados, vontades não expressas e/ou emoções reprimidas. Não há como separarmos alma, matéria e emoção. A busca pelo equilíbrio desses três componentes do nosso ser constitui-se num exercício e em uma prática constante, que exige paciência e persistência e que faz parte do nosso processo evolutivo. Não desista de você!
Ana Matos
Psicanalista Integrativa, Filósofa e Coach.
SINPESP 769