Por Luiz Alberto Mendes
Sinto-me acelerado, assim febril e ansioso, tentando acompanhar o tempo da minha vida, observando como fazem as pessoas para ver se elas encontram meios melhores que os meus. Será que tudo isso que construímos foi só para viver nosso tempo confortavelmente? Mas viver somente, há tempos ficou constatado, já não nos basta. O que temos é pouco; precisamos de mais. Somos pessoas de desejos sólidos e profundos. Vivemos empilhando, ou enterrando, quais acumuladores ensandecidos, restos de sonhos que não conseguimos realizar.
Já não durmo direito há tempos. Sabe aqueles sonos de acordar sem querer acordar? Fechar os olhos, virar para o lado e desmaiar, emborcado, de sono? Esses há tempos não conheço mais. Até o prazer de ficar na cama sem fazer nada, bolando o próximo livro, inventando o próximo projeto, se foi. Até há pouco, culpei a angústia do pós-operatório, mas não tem nada a ver. E tomo chá de tudo que me é indicado para dormir. Só não tomo psicotrópicos porque tenho certeza de que viciarei, tal a vontade que tenho de dormir gostoso como todo mundo. Acordo várias vezes por noite e para pegar no sono novamente é um sacrifício. Vira e mexe acordo de dentro de um pesadelo enlouquecedor de ainda estar preso. Que agonia que dá! O medo de que vai ser assim para sempre invade; afinal lá se vão 13 anos solto e ainda tenho esses pesadelos horríveis?
Como parar com todo esse tumulto, com esse aceleramento e com esse desespero acumulado? Como escapar a essa roda-viva?
Ao tempo em que devemos pensar se a solução é fugir para longe ou se devemos encarar de frente, assumir riscos para aprender mais? A primeira opção é um tanto quanto absurda e paliativa. Não há como escapar sempre. A segunda me parece a mais condizente com o real. Primeiro é preciso definir por que estamos aqui. Para gozar, ser feliz, sofrer, doer e se dar mal ou bem, tá na cara que não é. Tudo isso já temos, até um pouco mais, e é pouco ainda. Só vai nos fazer correr em todas as direções e que sempre nos declaremos incompletos. Não temo riscos; antes temo não aprender o que os riscos que vivencio têm a me ensinar. Aprender me parece a missão humana; tudo se encerra em pequenos ou grandes aprendizados.
Tudo é som
Acho que o maior aprendizado do momento é aprender a parar. Não é parar sem fazer mais nada. Antes é parar para pensar, para ver onde chegamos e se estamos indo bem. Parar é pensar, é deter a velocidade que o mundo quer nos impor. Parar sem acomodar. Parar para estar em si concentrado. Parar para encontrar o melhor caminho para prosseguir.
Riscos fazem parte da existência. Mas, vamos ser práticos e francos: quanto menos ou menores os riscos, melhor. Afinal de contas, depreende-se que, quanto mais tranquilidade, maior a precisão de todos os nossos sentidos. É preciso cadência e harmonia para que a música e a arte fluam sensíveis pelos nossos sentidos. A chamada “nobre arte” (o boxe), assim como as “artes marciais”, exigem ciência, cadência e harmonia. A África, sua magia e superstições. Na verdade, parece que tudo é som. Sufis, iogues, mantras e sons sagrados. Dança e movimentos mansos, sensivelmente desenhados. Os hindus, os islâmicos e os africanos tentam nos entregar essa sabedoria milenar.
Parar, fazer um exame autocrítico, pensar, principalmente, em nossos erros. Até que ponto estão os erros infiltrados no substrato de nossos valores para errarmos tanto? Cabe-nos conhecê-los desde quando nascem para não sermos surpreendidos. Temos muito a pensar e a fazer: nosso próximo passo é algo de extrema importância. Talvez possa ser nosso próximo erro; embora nada impeça que venha a ser um enorme sucesso.
TEXTO ORIGINAL DE REVISTA TRIP
Imagem de capa: Shutterstock/ Rosa Araci Henriques