Na minha adolescência, descobri as revistas de fofocas. A cada semana, corria para a banca de jornal e comprava aquela cuja capa tinha o maior babado ou trazia as informações mais detalhadas sobre meu famoso preferido. Devorava a revista em instantes e me divertia acompanhando a realidade daquelas pessoas tão próximas e distantes de mim. Na semana seguinte, uma nova manchete estampava a próxima capa e, durante alguns minutos da minha semana, eu me distraía da minha própria realidade e ia acompanhar outros mundos.
Era um vício de menina, e não me ocupava tanto tempo. O que eu não imaginava naquela época é que a curiosidade da humanidade pela vida das celebridades seria substituída pelo hábito de seguir, acompanhar, vigiar e até perseguir vidas comuns, de pessoas próximas, tão importantes ou tão insignificantes para nós.
Vivemos uma era de superexposição, que gera uma super curiosidade, com uma super possibilidade de espionar e vigiar. Pessoas super comuns agem como super detetives, e pessoas super banais são vigiadas como super celebridades. Porém, isso também gera uma super ansiedade e uma super possibilidade de se frustrar e de se machucar repetidas vezes.
Não bastasse isso, a história toda se complica quando há amor, paixão ou interesse envolvido, principalmente o não correspondido. De repente tudo ficou muito fácil e acessível, e num piscar de olhos lá está você, fuçando pela milésima vez num mesmo dia, o perfil da pessoa. Não que isso lhe traga algum tipo de recompensa ou conforto – porque não traz – mas sim porque você já não sabe viver de outro jeito, já não encontra maneiras de aplacar essa ansiedade, já está completamente viciado em fuçar e espionar, como se isso trouxesse algum tipo de alívio e paz. Só que não traz…
Há uma frase, cuja autoria desconheço, que diz: “Para curar uma ferida, você precisa parar de conversar com ela”. E o mesmo se aplica a essas visitas que você insiste em fazer ao perfil de quem não está nem aí para você. Pare de cutucar essa ferida, pare de se machucar repetidas vezes, pare de acreditar que “tendo controle” sobre a vida do outro você controla tudo. Pare de tentar aplacar essa ansiedade assim.
Se a pessoa sabe do seu interesse, sabe onde te encontrar e não te procurou, esqueça. Bloqueie da vida, delete o hábito de fuçar o perfil dela nas redes sociais, se distraia com outros assuntos, respire fundo e desligue o celular quando o dedo coçar para se conectar.
A gente se engana e se trai constantemente. E mesmo sabendo o quanto dói, o quanto nos desaponta e despedaça, a gente insiste. Insiste em justificar ausências, em amenizar desinteresse, em atenuar desconsideração. Até que chega uma hora em que não dá mais. Porém, nem sempre a gente vira a mesa como deveria. Bloqueia no WhatsApp e no Facebook mas faz um perfil falso para fuçar ou pede a senha da amiga para bisbilhotar.
Se for para bloquear, bloqueie de verdade. Bloqueie e desista de explorar, espiar, vasculhar, fuçar, investigar. Bloqueie e não visite o perfil de parentes ou amigos da pessoa. Bloqueie e se ocupe com outros interesses. Bloqueie e não cutuque essa ferida. Bloqueie e siga a sua vida.
O tempo das revistas de fofocas passou, e hoje percebo que apesar de entreter, não acrescentaram nada à minha vida. Do mesmo, de vez em quando é necessário ficar off-line. Desconectar para apaziguar o espírito, para desintoxicar a alma, para se reconectar com o que é essencial. Quanto mais em Off você viver, menos necessidade de On você vai ter. E, aos poucos, as coisas vão dar certo. Você perceberá o que deve escolher, e onde realmente vale a pena permanecer.
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