A banalização de qualquer coisa, infelizmente, acaba por tornar aquilo invisível, descaracterizando-lhe a força, a importância, tornando lugar comum o que deveria ser especial. É assim com fatos, com objetos, é assim com sentimentos. E é o que vem ocorrendo em relação ao amor, que parece estar perdendo a grandiosidade de seus domínios, de sua dimensão mágica e especial, uma vez que, hoje, diz-se “eu te amo” para qualquer um, em contextos banais e cotidianos.
Tempos atrás, a gente guardava a explicitação do amor para o momento em que ele não cabia mais aqui dentro do peito, quando já tínhamos tateado os terrenos incertos que adentrávamos ao nos relacionarmos com alguém. Dávamos tempo ao tempo, conhecendo o outro e nos reconhecendo junto dele, sentindo e refletindo cada momento, cada dia, sentindo o gradativo intensificar-se das batidas de nosso coração ao lado de nosso parceiro.
O amor era tão especial, que não ousávamos expressá-lo para qualquer um, em qualquer situação, muito menos para alguém que conhecíamos há pouco tempo. Entendíamos que o amor vai sendo construído ao longo da jornada, aos poucos, enquanto o que a gente doava se ia retornando, enquanto sentíamos que ali havia reciprocidade e verdade. Escrevíamos “eu te amo” às escondidas, nos cadernos e diários, como um tesouro afetivo que só seria dividido com a pessoa certa, aquela que ficou e se demorou perto da gente.
Hoje, por outro lado, vemos jovens escrevendo e dizendo “eu te amo” para amigos que acabaram de conhecer, para os recentes paqueras, muitas vezes para gente com quem não possuem nem um mínimo de intimidade. Parece que o amor vem se tornando um sentimento qualquer, que surge assim do nada, sem necessidade de que seja trabalhado, suado, vivido e revivido continuamente, sedimentado com o passar do tempo. Banaliza-se o amor, diminuindo-lhe toda a carga afetiva, toda a magnitude de que se reveste.
É preciso atribuir ao amor sua verdadeira intensidade, sua devida importância, entendendo que ele é um sentimento único, especial, que se alimenta de transparência e de retorno sincero, de permanência e de cumplicidade íntegra, de luta, de maturidade, de mãos dadas e firmes, que não se soltam por qualquer coisa. Parem de banalizar o “eu te amo”, parem de esvaziar o preenchimento emocional de que o amor se vale, ele não pode cair no marasmo da nulidade, ele não merece ser relegado ao lugar comum do que passa sem ser visto, sorvido, regado.
Quanto mais valorizarmos o amor, mais forte ele se tornará e mais capaz de resistir e de sobreviver a essa futilidade que permeia a sociedade atual, que torna tudo obsoleto em pouco tempo. Amor não envelhece. Amor não cai em desuso. Amor é vida.
Imagem de capa: Milles Studio/shutterstock
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