O “Após” um desastre corresponde às ações de Reconstrução de médio e longo prazo, quando são realizados: restabelecimento de serviços essenciais (água, luz, comunicação e transporte); avaliação de danos; e, nas áreas mais afetadas, reconstrução das estruturas danificadas ou destruídas. (Marcelino, 2008).
De acordo com Silveira (2011), após um desastre, as políticas públicas se unem para atender, de forma eficiente e eficaz, às pessoas afetadas. É nesse contexto que a psicologia se insere promovendo ações que otimizem o tempo; criando uma rede de informações; facilitando a transmissão de dados importantes sobre a realidade das pessoas afetadas; dando referências e possibilitando a reorganização social e psíquica de cada um e do coletivo (rede de suporte social); participando da reabilitação das casas, dos espaços comunitários, da comunidade, da criação de uma rede de atendimento para prevenir problemas comuns após os primeiros meses da tragédia (como o Transtorno de Estresse Pós Traumático, o uso abusivo de álcool e drogas, entre tantos outros paliativos nocivos que o ser humano utiliza como meio de lidar com a sua dor, a sua angústia, os seus medos).
Com a intenção de que o processo de reconstrução seja também um momento para a prevenção, é preciso considerar quais os riscos que devem ser gerenciados e previamente mapeados para que outros desastres sejam evitados. A psicologia pode contribuir na reconstrução pós-desastre e articular saberes, ao facilitar a escuta das organizações e instituições envolvidas com relação às demandas e opiniões das comunidades afetadas. (Brasil, 2010).
Assim como não há ações padronizadas para serem desenvolvidas durante um desastre não há, também, após um desastre. Deste modo, será apresentado um resumo do papel do Psicólogo como operador de emergências e desastres, relatado por Silveira (2011). Esta Psicóloga refere que sua vida mudou depois que um Município localizado no extremo oeste catarinense, que faz divisa com o Paraná e com a Argentina, e no qual trabalhava no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), foi atingido por um tornado, com ventos que passaram de 200 km por hora. Em decorrência, quatro pessoas morreram e mais de 1.000 (de uma população total de, aproximadamente, 10.600 habitantes) ficaram com suas casas e propriedades rurais destruídas.
Embora tenha atuado entre setembro de 2009 a março de 2010 nas áreas atingidas pelas enchentes, não se colocou apenas como profissional mas, também, como afetada pelas enchentes, por morar no Município e trabalhar na reabilitação, na organização e na continuidade do processo de retomada do cotidiano da população.
Diante do monte de entulhos que se formou onde antes era o lar de mais de 120 famílias, que perderam bens materiais, filhos, esposa, netos, irmãos, cunhados, colegas de aula, muitas vidas ficaram marcadas pela tristeza, apatia, desilusão, raiva, culpa, incerteza, medo de que o desastre acontecesse novamente e esperança de que o sol resurgisse para secar a roupa e as lágrimas, resgatar a dignidade de um povo sócio histórica e culturalmente habituado à lida diária no campo, a ter nas mãos as marcas do trabalho na lavoura e na criação de animais.
Naquele momento, a psicologia, como campo de atuação comunitária e de desastres, iniciou a intervenção para que as famílias atingidas pudessem receber alimento, água e roupa seca. A escuta, o tempo para simplesmente ouvir e mesmo o silêncio do encontro foram essenciais. Inúmeros contatos foram realizados, várias instituições se colocaram à disposição, profissionais se apresentaram como voluntários, muita solidariedade por parte de psicólogos e assistentes sociais, não somente da região do extremo oeste catarinense mas de todo o país.
Sob a coordenação dos profissionais do CRAS, um grupo de São Paulo que cursava especialização em Psicologia dos Desastres se prontificou a ir para o Município. Utilizaram terapia em sessão única, trabalho de grupo com as escolas, com pessoas de diferentes faixas etárias e, ainda, preparação dos profissionais e voluntários que atendiam às pessoas atingidas. Assim, começou a vislumbrar um novo fazer: o fazer da Psicologia Comunitária, agregado ao fazer da Psicologia de Emergências e Desastres. Novo em todos os aspectos, inclusive teórico, uma vez que, no Brasil, pouco se tinha notícia de desastres naturais de tamanhas proporções.
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