O início dos namoros em geral, baseiam-se em ideais, ou em características que não necessariamente são reais de fato quando nos relacionamentos mais permanentes. Ou seja, quando o parceiro percebe, é necessário que outras características apareçam, a fim de que o casal se adapte às modificações necessárias. Caso contrário, o desencantamento pode se instalar lentamente.
E aquele ideal imaginário do parceiro começa a se desfazer. Quando é muito evidenciado, logo nos primeiros sinais, os parceiros levam um choque e acabam por se separarem ou se distanciarem. Mas, muitas das vezes, esse processo já envolve tantas situações, que fica mais fácil se empurradas para debaixo do tapete. Não sendo aquele momento o mais adequado para se levar estas questões em conta, e assim o tempo se arrasta. O comodismo ganha corpo e tudo fica para depois.
Quando há confiança, já no início da relação promove-se entre o casal segurança, para que cada um dos parceiros fale e mostre suas fragilidades, suas necessidades, dificuldades e desejos. Uma espécie de elo que será o reconhecimento e aceitação de dificuldades que farão toda a diferença no decorrer do tempo. Muitos casais se queixam no sentido de que “o marido ou a esposa não são mais os mesmos depois do casamento” ou quando não “após a chegada dos filhos”.
Quando em psicoterapia de casal, ambos analisam o contexto em que vivem e frequentemente percebem que os “problemas” apontados, em realidade surgiram com a convivência e queda do ideal no imaginário, todavia essas diferenças foram deixadas propositalmente “embaixo do tapete”, pois ameaçam à estabilidade da relação.
Existem casais, que se maltratam nas atitudes tomadas individualmente, sem que um deles, leve em conta as necessidades do outro, bem como as consequências destas na vida do parceiro. Não é a relação em si a causadora dos desentendimentos, mas que as atitudes irrefletidas de cada um dos parceiros, quando não se observa consequências na vida do outro, podem ser fontes desencadeadoras dos problemas.
Uma relação estreita entre os casais, deveria ser traduzida por “união”. Pois um casal unido normalmente é aquele que toma decisões em conjunto, levando-se em consideração o que o outro pensa. Mas, para que haja o entendimento, o principal critério é a comunicação.
Infelizmente há casais que não se comunicam. Pequenas atitudes na rotina, que afetam ambos, por vezes não são comunicadas, com o acumulo destas, formam-se os pedregulhos, por exemplo: a famosa toalha molhada em cima da cama ou a tampa do vaso sanitário aberta (quando já foi solicitado “n” vezes para que seja abaixada após o uso), sapatos espalhados pela casa, ou roupas jogadas sobre os móveis. São pequenas situações, mas que acabam por gerar consequências desagradáveis à saúde do relacionamento, somadas a outros estresses rotineiros. Uma bola de neve que vira queixumes e reclamações.
Hábitos ruins em um dos parceiros, tornam-se problemas/desentendimentos maiores com o tempo. A tolerância tão presente no início da relação, aos poucos vai perdendo a força, e a impaciência se alojando, uma espécie de “desencantamento”. Por isso a necessidade do parceiro se atualizar a respeito da saúde de seu relacionamento/casamento, adequando-se e melhorando a “performance”. Nada de comodismo ou achar que “está bom assim”. A velha frase “ sou assim”, “ que me aceite do jeito que sou”….de um jeito nocivo, mina a relação, sabotagem que tende a estragar a qualidade de vida a dois. Às evidências de realidade, mostram que é necessário que haja um movimento de adequação em ambos, a fim de que os comportamentos dos parceiros continuem a estimular o desejo pela relação.
Pequenos mimos do dia-a-dia fazem parte dos carinhos que não podem ser esquecidos. Este é o aquecimento feminino para uma noite de intimidades. Pequenas gentilezas não devem ser abandonadas, delicadezas que fazem toda diferença. Aquele velho padrão comportamental aprendido pelo indivíduo no decorrer de sua história acaba sendo uma armadilha fatal. Quando se escolhe alguém com quem conviver, nem sempre este traz para o convívio padrões comportamentais semelhantes, em razão das diferenças, das suas experiências de vida. O que é muito comum. No entanto, se não revisados podem causar desconforto no companheiro. No início podem não ter sido relevantes ou não ter se falado sobre eles, ou ainda, terem sido compensados por momentos prazerosos. No entanto no casamento não serão suportados.
Muitos casais só buscam auxílio profissional quando o relacionamento já está muito difícil, e já envoltos em muitos sofrimentos, em especial no que se refere aos filhos. Restabelecer ou mesmo instalar uma comunicação mais eficiente, que favoreça a continuidade da relação passa a ser um desafio. O psicoterapeuta basicamente decodifica os não-ditos, os ruídos na comunicação comprometida.
– “Ele/ela…
… as tarefas de casa não são divididas (sobrecarregando um dos parceiros, as mulheres quem apresentam a queixa.
…. Não me ouve. Fico falando sozinha….
O celular…. ele não tira das mãos….
Não tenho atenção….
…não sabe se desculpar…., ou seja: a valorização do parceiro.
…não lembra de datas importantes … (Mais uma vez, estamos diante da questão da valorização do parceiro. Perceber o esforço individual, valorizando).
Lembrar que o fato do esquecimento destas datas importantes na história deste casal, não tem relação com a importância do outro na vida, as comemorações estão mais relacionadas com as expectativas, com uma necessidade de pequenos carinhos, pequenos prazeres diários, como “bom dia”, “que linda(o)que você está, um carinho ou elogio, celebrações da vida do casal.
No entanto, enquanto existir o relacionamento, existirá a possibilidade de mudanças significativas no comportamento de ambos ou o bom aprendizado. Ainda mais se desde o início da relação, alimenta-se comemorações especiais juntos, tornando-se mais fácil manter este padrão no decorrer dos anos.
…dá mais atenção para a televisão.
No entanto, assistir televisão, falar ao telefone, sair para o futebol, academia, são necessidades individuais que ajudam até na manutenção da relação. A ideia de que o parceiro faça atividades paralelas, não necessariamente precisa ser ruim. Preservar a autonomia é fator indispensável para qualquer ser humano. Caso não priorize algumas necessidades pessoais, deixa de sentir-se pleno e assim de oferecer o seu melhor ao outro. Não é a quantidade de tempo que se passa juntos, mas a qualidade deste tempo que nutre a relação. Uma certa autonomia é importante bem-vinda, desde que respeitados determinados limites de em decorrência da intimidade do casal.
Imagem de capa: Shutterstock/Leszek Glasner