Por Edith Casal
Amar é tocar o infinito e, ao mesmo tempo, descobrir que os braços nunca o alcançarão, embora tentemos muitas vezes. Esse é o grande paradoxo do amor: o experimentamos como se fosse eterno, mas um dia termina. Ele termina, mas nunca morre. Quando amamos, descobrimos uma nova lógica, onde o tudo e o nada estão constantemente flertando um com o outro.
O verbo “durar” pode ser impreciso para falar de amor. É uma palavra que se encaixa melhor nos objetos e não nos sentimento. Porque amar é uma realidade dinâmica, que se modifica, que muda, se transforma e faz metamorfose com o tempo. Mas se vivemos todos estes processos é porque persistimos, porque ele não morre, mas se transforma.
Se falarmos de amar os filhos, pais, irmãos, amigos, o grau de estabilidade pode ser muito maior. Outra coisa é quando falamos do amor entre um casal, principalmente se olharmos a partir da perspectiva do ideal do amor romântico, que é estático e imutável para sempre. Esse tipo de amor geralmente termina rapidamente. As pessoas costumam dizer que é “o amor eterno que dura três meses”. Essa é a fase mais intensa do amor, mas também a mais fugaz.
Vamos falar inicialmente de amar o parceiro, porque normalmente este é um dos amores mais problemáticos para quase todas as pessoas. Somos herdeiros de uma ideia romântica do amor, que foi construída entre os séculos XVIII e XIX e que continua imperando até hoje dentro da nossa cultura. Essa perspectiva, por sua vez, é a filha do idealismo que tanto influenciou o Ocidente, que nos fala sobre “metades da laranja” e amores que vivem felizes para sempre.
E na verdade, quando estamos apaixonados, qualquer um de nós poderia jurar que seria um sentimento eterno. Não conseguimos imaginar como poderíamos mudar essa maneira de amar o nosso parceiro. Nesse estado de “quase loucura”, perdemos, sem perceber, o senso de proporção. Por isso, prometemos e juramos que será para sempre.
Esse tipo de amor gera muitas expectativas. Embora as promessas e os juramentos não digam especificamente, parece que o que é oferecido e o que é esperado é a manutenção de um estado de plenitude e do amor romântico entre os dois. As primeiras desilusões provêm dessas expectativas elevadas, porque o amor é um sentimento que não apaga os nossos defeitos, a mesquinhez e as limitações.
Mais cedo ou mais tarde, essas realidades vem à tona e destroem o ideal romântico que havíamos sonhado. Em última análise, a paixão se torna um obstáculo para o amor. É verdade que é muito bom, mas também pode aumentar muito o tom das nossas emoções, o que nos impede de ver claramente a grandeza e as restrições sobre tudo o que nós sentimos. Se superarmos esse obstáculo sem nenhum trauma, iniciaremos o verdadeiro caminho para o amor.
A metáfora da árvore é muito apropriada. Basta prestar atenção, ver a maneira como ela nasce e cresce a partir de uma pequena semente, para percebermos que o destino de tudo o que tem vida é expandir e alcançar o céu. A árvore adulta tem flores, frutos e novas sementes para que possa ser plantada em outro lugar e começar um novo ciclo de crescimento, uma nova história.
O amor também é assim: uma vez que germina, nunca acaba. Ele vai continuar a crescer e dar frutos, para reiniciar o mesmo ciclo para sempre. Conforme ele cresce, você vai percebendo se esse amor é como um carvalho, uma cerejeira ou alguma espécie desconhecida. Não espere que ele permaneça inalterado: ele está sempre mudando. A cada dia alguma coisa vai mudar e, mesmo que morra, ele nunca morre: será sempre a semente de algo novo.
Quando amamos verdadeiramente, amamos para sempre. Os pais amam seus filhos e os filhos amam os seus pais, mesmo que já não estejam junto de nós. Amamos os nossos amigos na alegria e nas épocas de dificuldades. Amamos os nossos irmãos e a família, apesar de qualquer problema que se apresente: os amamos, mesmo quando os odiamos. O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença.
TEXTO ORIGINAL DE A MENTE É MARAVILHOSA
Imagem da capa: Shutterstock/Anton Watman
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