Antes Que Eu Me Esqueça (2018), dirigido por Tiago Arakilian, é um drama sensível e agridoce que explora os desafios do envelhecimento, as relações familiares e a busca por significado nas diferentes fases da vida. Com um roteiro que equilibra leveza e emoção, o filme convida o público a refletir sobre temas universais como perdão, reconexão e a redescoberta de si mesmo.
A trama acompanha Polidoro (José de Abreu), um juiz aposentado de 80 anos que, cansado da monotonia e do distanciamento da família, toma uma decisão inesperada: investir em um barco de striptease. Essa escolha inusitada serve como descoberta para uma reaproximação com seu filho Paulo (Danton Mello), um pianista frustrado que vive à sombra de suas próprias inseguranças. Ao longo da história, pai e filho são obrigados a lidar com suas diferenças, mágoas e expectativas, enquanto redescobrem os laços que os unem.
A atuação de José de Abreu é o ponto alto do filme, trazendo profundidade e consequências a Polidoro. Sua performance transita com naturalidade entre momentos de teimosia, fragilidade e humor, revelando nuances de um personagem complexo. Danton Mello também se destaca, oferecendo um contraponto emocional à interpretação de um homem dividido entre a cobrança paterna e seus próprios dilemas internos.
O roteiro de Antes Que Eu Me Esqueça aposta em um ritmo intimista, com diálogos que são genuínos e tocam questões contemporâneas, como a solidão na terceira idade e os conflitos intergeracionais. Embora o tema central seja denso, a narrativa é permeada por toques de comédia sutil, que alivia o peso da trama sem comprometer sua profundidade.
A fotografia de Gustavo Hadba contribui para criar um ambiente visual acolhedor, destacando tanto os cenários urbanos do Rio de Janeiro quanto os espaços mais introspectivos dos personagens. A trilha sonora, discreta mas eficaz, complementa o tom melancólico e esperançoso do filme.
Por outro lado, a longa apresenta algumas limitações no desenvolvimento de personagens secundários e no aprofundamento de certas subtramas, que poderiam ter enriquecido a narrativa. Apesar disso, Antes Que Eu Me Esqueça conquista por sua sinceridade e por abordar questões muitas vezes negligenciadas no cinema brasileiro.
Este é um filme que, mais do que contar uma história, nos lembra da importância de valorizar os pequenos gestos e reencontros, mesmo quando parecem tardios. Uma obra que emociona sem apelar para exageros e que ressoa de maneira especial para aqueles que já enfrentam o desafio de se reconectar com suas raízes.