A crença na relação do destino humano com os astros talvez tenha nascido no momento em que, o primeiro homem, preocupado com a própria sorte, mirou o céu imaginando que lá estaria escrito o futuro.
Desde então, muitos povos conservaram o hábito de consultar os astros. Os romanos, por exemplo, apegavam-se aos sinais estelares como oráculos infalíveis sobre vitórias nas batalhas e fartura na colheita.
E a consulta aos astros para perscrutar a sorte futura não pode ser vista como prática de ‘primitivos’ ou ‘incautos’. Goethe, maior escritor de língua alemã, por exemplo, inicia assim sua autobiografia: ‘Vim ao mundo, ao bater meio-dia… A constelação era feliz: o Sol encontrava-se no signo de Virgem e em seu ponto culminante para esse dia; Júpiter e Vênus contemplavam-no favoravelmente’.
Até hoje, perdura o hábito da consulta ao horóscopo para ver se a posição dos astros é favorável aos desejos acalantados ou reserva alguma fatalidade.
As razões dessa constante crença de que sorte, desejos e estrelas estejam de algum modo, ligados são atribuídas a muitos motivos. Um deles é o fascínio do homem pelo mistério.
E o abismo que nos separa do que reserva o futuro não guarda tantos mistérios quanto o oceano de corpos celestes que paira sobre nós?
Outra razão pode ser atribuída ao fato de termos desejos; termos fome de coisas e experiências que talvez nunca seja saciada, pois o desejo é contraditório em si. Ele nasce da pulsão que nos lança para algo, mas traz o germe da frustração.
E é essa dupla natureza do desejo que nos lança no medo do futuro. O Tempo almejado pode ser o tempo do preenchimento das carências, mas também, o tempo da revelação de vazios que jamais serão preenchidos.
Daí, vamos revirando as dobras do tempo para saber o que reserva a virada do presente. Olhamos as estrelas, procuramos oráculos com antecipações que nos livrem dos laços do fracasso e da decepção.
A própria origem etimológica da palavra desejo diz muito da associação entre o futuro, a sorte e as estrelas. Sorte vem de desiderare, palavra ligada às expressões sidus, sideris que significam astro e estrela respectivamente.
Pensando em tudo isso, parece inevitável, continuarmos inquirindo as estrelas sobre o futuro. O caminho das estrelas é um entre muitos, portanto, não podemos condenar tal prática.
Podemos mantê-la com o olhar lúcido de quem sabe que as respostas que brotam de uma só fonte são sempre restritas. Podemos continuar adotando a estrela guia na jornada que vem adiante; não como prática supersticiosa, mas como exercício de inspiração e impulso na direção do que nos atrai.
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