“João é tão duro consigo”, “Ana é muito perfeccionista, adoece se algo sai do seu controle”, “Paulo não sabe dizer ‘não’, teme mostrar o que sente e quer”, “Cíntia só vive pro trabalho e está sempre insatisfeita”…
É tão comum fazermos esses tipos de análises, e embora caracterizem análises superficiais, podem indicar uma disfunção dos comportamentos humanos. E bem, do nosso também pois nosso julgamento também indica que não conseguimos ser empáticos e nos colocar no lugar do outro.

Mas o que são comportamentos disfuncionais? Existe uma regra saudável para se viver?

Segundo Lowen (1977), o instinto pode ser descrito como um ato impulsivo que em nenhum momento foi modificado pela aprendizagem e nem pela experiência, contudo, devido aos condicionamentos culturais e pelas exigências culturais, poucos são esses atos que ainda persistem na vida adulta. Então podemos entender que os atos instintivos são puros, livres de qualquer regra moral e de qualquer condicionamento pautado em valores capitalistas, e em princípios aquém da essência humana.
Assim fica claro compreender o porque dos nossos comportamentos disfuncionais: como somos condicionados a seguir padrões e regras sociais e culturais desde que nascemos, aprendemos que nossos sentimentos não são saudáveis, e que devemos bloquear os nossos instintos para sermos civilizados e adestrados.
Contudo, quando bloqueamos a nossa verdadeira pulsão, racionalizamos a vida e justificamos todos os nossos atos até chegarmos em um ponto que não saberemos mais o que sentimos e somente a nossa mente adestrada e limitada regerá nossas ações.
É por isso que o João é tão duro consigo, que a Ana é tão perfeccionista e controladora, que o Paulo não consegue expressar seus desejos, que a Cíntia é uma workholic e carrega em si um vazio gigante. Porque todos eles não se escutam, não reconhecem mais o verdadeiro EU. Aprenderam tanto a serem “bons para os outros” que esqueceram de serem bons para si.

Ok! Mas como podemos modificar isso?

É necessário querer mudar! É fundamental reconhecer que esse condicionamento, embora em algumas áreas traga “sucesso”, na área sentimental ele implica em retrocesso. É importante também se permitir sentir (algumas pessoas de tão condicionadas não conseguem mais), e nesses casos também o psicólogo clínico pode auxiliar.
É vital que troquemos o “tenho que fazer” pelo “quero fazer”, que João compreenda porque exige tanto de si, que Ana perceba porque tem medo de perder o controle, que Paulo identifique a origem da sua autonegação, que Cíntia elabore o porque da sua fuga de sentimentos uma vez que tenta se preencher com conteúdos racionais ao invés de relações. Pois, segundo Reich, se a nossa auto percepção aumentar com certeza nos tornaremos pessoas com caráteres mais maduros e saudáveis.

Jéssica Horácio de Souza

Psicóloga graduada pela Universidade do Extremo Sul Catarinense, e possuo formação em psicoterapia reichiana pelo Instituto Hollon. Trabalho como psicóloga clínica em Espaço Vida Psicoterapia e Desenvolvimento - Criciúma/SC, e como psicóloga social em Casa de Repouso localizada no município de Içara/SC.

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