Por que as crianças são tão fascinadas por Minecraft? A Psicologia explica!
Minecraft é o jogo de computador mais vendido do mundo e atrai pessoas de diversas idades — Foto: Getty Images via BBC

Minecraft não é apenas o jogo de computador mais vendido do mundo — agora, também está conquistando as telonas com Um Filme Minecraft, estrelado por Jack Black e Jason Momoa. Lançado no início deste mês, o longa chega para reforçar o apelo de um universo que há anos fascina jogadores de todas as idades. Mas o que faz desse game uma verdadeira febre entre as crianças?

A resposta pode estar em algo mais profundo do que simples entretenimento: o desejo humano de construir, explorar e criar livremente.

Um playground digital sem limites

Para AJ Minotti, profissional de marketing em Ohio, nos Estados Unidos, não há dúvidas do impacto positivo de Minecraft. Pai de três crianças — gêmeas de 10 anos e um filho de 6 — ele se surpreende constantemente com as criações dos filhos. Recentemente, uma das meninas mostrou uma mansão subterrânea secreta no jogo, acessível por uma cachoeira que “abre” com um botão.

“Eu fiquei super impressionado”, contou Minotti ao g1. “Ela seguiu alguns tutoriais, mas a maioria foi ideia dela.” Ele compara o entusiasmo das filhas com sua própria infância diante do computador.

Lançado em 2009, Minecraft é um jogo do tipo sandbox, que permite aos jogadores criar, explorar e interagir com um mundo feito de blocos — como uma versão digital infinita de Lego. Segundo especialistas, essa liberdade para imaginar e construir é o segredo de seu sucesso.

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Pôster do filme “Um filme Minecraft” (2025)/Crédito: Divulgação

O instinto humano de construir

Segundo o psicólogo Peter Gray, do Boston College, o fascínio das crianças por construir coisas tem base evolutiva. “Todos os mamíferos brincam quando são jovens. No caso dos humanos, a construção é uma habilidade fundamental para a sobrevivência”, afirma.

Minecraft atualiza, no mundo virtual, atividades ancestrais como montar castelos de areia ou casas na árvore. “As crianças sabem, instintivamente, que essas são habilidades que elas precisam desenvolver”, disse Gray.

Criatividade, socialização e aprendizado

Julian Togelius, cientista da computação da Universidade de Nova York, aponta outro ponto forte do jogo: a facilidade em criar. “É muito mais fácil do que programar”, compara. E essa simplicidade atrai também os adultos.

Togelius estudou o comportamento de jogadores e identificou correlações entre suas personalidades e a forma como jogam. Pessoas mais independentes, por exemplo, ignoram a missão principal e constroem por conta própria. Já aquelas com fortes valores familiares tendem a criar lares com cercas e proteções. Embora o estudo tenha sido feito com adultos, ele acredita que os mesmos traços possam aparecer em crianças.

Além disso, o jogo também tem impacto social. Quando os filhos de Minotti não podem se encontrar com os amigos pessoalmente, fazem isso online, dentro do jogo. “É um espaço de convivência virtual”, diz o pai.

Minecraft como ferramenta educativa

O apelo de Minecraft vai além do lazer. Durante a pandemia, professores universitários usaram o game para ministrar aulas online. Na Irlanda, educadores do Ensino Fundamental relataram aumento no engajamento dos alunos ao usar o Minecraft Education, versão escolar do jogo.

Em uma pesquisa financiada pela Microsoft, a professora Éadaoin Slattery citou o exemplo de um professor que usou o jogo para ensinar palavras em gaélico criando restaurantes virtuais. “A motivação dos alunos aumentou, assim como a leitura, escrita e a resolução de problemas”, aponta a pesquisadora.

Esse fenômeno está ligado ao chamado estado de flow — um nível de concentração elevado que muitos jogadores atingem quando estão imersos no jogo.

Preocupações e segurança online

Apesar dos benefícios, os pais também enfrentam desafios. Minotti afirma que seus filhos praticam esportes e têm uma rotina equilibrada, mas reconhece a necessidade de limitar o tempo de tela e supervisionar a atividade online. “A gente não deixa eles livres na internet”, afirma.

A Sociedade Nacional para a Prevenção de Crueldade contra Crianças do Reino Unido (NSPCC) recomenda atenção com a segurança em jogos online. Já o CEO da Roblox, plataforma semelhante, chegou a afirmar que pais preocupados com conteúdos inapropriados deveriam manter os filhos longe desses jogos.

Desigualdade de gênero no mundo dos games

Uma pesquisa australiana com mais de 700 pais revelou uma diferença de gênero entre os jogadores de Minecraft: 54% dos meninos entre 3 e 12 anos jogam, contra apenas 32% das meninas. Segundo os pesquisadores, é essencial que meninas tenham acesso a essas plataformas para desenvolverem habilidades digitais igualmente.

Minotti, no entanto, não se preocupa. “O Minecraft é a praia delas”, brinca sobre as filhas. “Sou eu que tenho que perguntar como se mexe nas coisas.”

E para quem reclama da bagunça com peças de Lego espalhadas, ele dá a solução: “O Minecraft é como ter todos os blocos do mundo, sem ocupar espaço em casa.”






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