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Por que eu não vou dar presente para meu filho no Dia das Crianças

Por Isabela Ferreira Sperandio

 

Neste dia 12 de outubro, eu não vou dar presente para meu filho. Eu quero ficar perto dele e fazê-lo sentir ainda mais especial. A data não pode ser uma porta cruel — mais uma — para que uma criança seja explorada pela lógica do consumo. O Dia das Crianças tem que ser como o Dia da Mulher: não é sobre flores, como este feriado não é só sobre brinquedos. É sobre direitos.

O dia dos pequenos, aliás, foi criado com essa ideia. Surgiu, originalmente, com a UNICEF, que escolheu o 20 de novembro para comemorar mundialmente o nascimento da Declaração dos Direitos das Crianças, em 1959. No Brasil a data surgiu ainda antes, em 1924, um ano depois do Rio de Janeiro sediar o Congresso Sul Americano da Criança. Ela só ganhou as dimensões e as características que a gente conhece em 1955. Não é espanto nenhum aprender que a transformação se deu após uma agressiva campanha de marketing para crianças (e pais) da indústria de brinquedos – mais precisamente da empresa Estrela.

Por que eu não vou dar presente para meu filho no Dia das Crianças
De lá para cá, a ofensiva mercadológica sobre as crianças piorou muito. Em muitos países, usar o 12 de outubro como dia de vendas seria simplesmente um crime e é por isso que ONGs e movimentos sociais que pedem a regularização da publicidade infantil também por aqui (se ainda está em dúvida ou acha um exagero, dê uma olhada no documentário abaixo, Criança, a alma do negócio).

Até o papel higiênico nas prateleiras dos supermercados tem desenho da Galinha Pintadinha, levando os pequenos à histeria e as mães à loucura. Os personagens saem da televisão, passam pelo celular, caem nas mochilas. Como dizem os ativistas do Movimento Infância Livre de Consumismo, a publicidade atrapalha diferenciar a vontade do desejo genuíno, e isso não é justo com as crianças.

Os pequenos não guardam na memória o acúmulo de presentes caros. Eles provavelmente já têm mais presentes do que nós tivemos na infância inteira. A oferta material pode ser infinita, mas a afetiva não, e é isso que está em jogo.

Nas últimas semanas, voltou-me à cabeça a memória dos 12 de outubro da minha infância. Meu avô, nos anos 80, dando um chocolate para cada um dos dez netos e um abraço forte: “É para adoçar o seu dia”. O que eu quero para meu filho neste Dia das Crianças é uma memória doce como a minha. A sensação de que ele é protagonista. Quem sabe eu ensino a ele uma brincadeira nova. Meu presente será a memória do dia que passamos juntos.

TEXTO ORIGINAL DE EL PAÍS

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