Por Sara G. Miller
Em toda parte nos Estados Unidos a porcentagem de adolescentes que passam por episódios de depressão vem crescendo, revelou um estudo recente.
Entre 2013 e 2014, um em cada nove adolescentes nos Estados Unidos sofreu de episódios depressivos, sendo que entre 2012 e 2013 o número tinha sido de um em cada dez. Psicólogos definem como episódio depressivo a existência de sintomas de uma depressão clínica – como estado de humor deprimido ou sentimentos de vazio, desesperança ou irritabilidade – que se prolongam por 15 dias ou mais.
No estudo, os pesquisadores analisaram dados das Pesquisas Nacionais do governo sobre Consumo de Drogas e Saúde, em que adolescentes dos 12 aos 17 anos responderam a perguntas sobre consumo de drogas e saúde mental.
Os pesquisadores focalizaram perguntas sobre sintomas possivelmente apresentados pelos adolescentes no ano anterior e que pudessem assinalar que a pessoa tivesse passado por uma depressão.
A porcentagem nacional total de adolescentes que sofreram de depressão no relatório de 2013-2014 foi 11%, mais que os 9,9% do relatório de 2012-2013.
Para Myrna Weissman, professora de psiquiatria na Universidade Columbia, em Nova York, não está claro se isso significa que o índice vai continuar a subir. Para discernir isso, ela disse, é preciso analisar as tendências por um período de tempo mais longo.
Mas a descoberta está de acordo com a previsão dos especialistas; a depressão é muito comum entre adolescentes, disse Weissman à Live Science.
Segundo ela, os adolescentes incluídos no estudo eram exatamente da faixa etária em que se poderia prever o primeiro aparecimento de sintomas de depressão.
Ardesheer Talati, professor assistente de neurobiologia clínica em psiquiatria na Universidade Columbia e no Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York, concordou que um ano não é tempo suficiente para determinar se o índice está subindo de fato ou se o aumento auferido é apenas uma anomalia.
Mas, disse Talati à Live Science, existem três fatores que podem explicar o aumento ligeiro.
Primeiro, a conscientização crescente das doenças mentais pode levar mais adolescentes a procurar um médico para serem avaliados para verificar se há depressão. Ou, no caso de adolescentes mais jovens, são os pais que podem flagrar mudanças comportamentais em seus filhos e os levarem ao médico.
Em segundo lugar, disse Talati, há muito mais pressão sobre os adolescentes hoje que no passado. Esses fatores de estresse – sociais, familiares e acadêmicos – podem aumentar os casos de depressão entre adolescentes.
Finalmente, disse o professor, o modo como a depressão é diagnosticada mudou ao longo do tempo, e o diagnóstico ficou mais abrangente, de modo que mais pessoas serão diagnosticadas como depressivas.
Índices diferentes em diferentes Estados dos EUA
O relatório decompôs os índices de depressão em adolescentes por Estado americano. A média nacional foi de 11%, mas os índices variaram entre 8,7%, em Washington (Distrito Federal) e 14,6%, no Oregon.
Além disso, dos dez Estados com os índices mais altos, quatro fazem parte do Oeste americano (Oregon, Arizona, Utah e Washington [Estado]), segundo o relatório.
Dos dez Estados com os índices mais baixos, quatro estão no Sul do país (Tennessee, Geórgia, Kentucky e Washington, Distrito Federal).
Treze Estados acusaram aumento estatisticamente importante em seus índices; nos outros, a porcentagem de adolescentes com depressão permaneceu igual de um período de tempo a outro. [Infographic: Teens in 13 States Showed Increases in Major Depressive Episodes]
episódios depressivos maiores em adolescentes
Depressão em adolescentes
Porcentagem de adolescentes de 12 a 17 anos em 2013-2014
14% ou mais
11%-12%
10%-11%
8%-9%
Vários fatores podem contribuir para as diferenças nos índices de depressão de um Estado a outro.
Por exemplo, disse Weissman, que também é chefe de epidemiologia no Instituto Psiquiátrico Estadual de Nova York, a depressão é mais comum entre mulheres que entre homens. Então, se houver mais mulheres em um Estado, haverá mais depressão. [7 Ways Depression Differs in Men and Women]
O atendimento à saúde também exerce um papel. Nos Estados com menos serviços de saúde, como os Estados com mais zona rural, as pessoas podem ter muito mais dificuldade em conseguir atendimento médico. Isso significa que uma porcentagem maior de pessoas que sofreram de depressão pode voltar a apresentar outro mais tarde.
Também é preciso levar em conta a religião e o status econômico. De acordo com Weissman, alguns grupos religiosos não veem com bons olhos o atendimento médico de saúde mental. E, nos Estados com a economia combalida, os índices de depressão podem ser mais altos quando as pessoas não conseguem emprego. O relatório avaliou adolescentes, mas essa questão pode afetar os adolescentes mais velhos que não pretendem fazer faculdade mas querem encontrar trabalho.
Episódios de depressão versus depressão clínica
No relatório, os pesquisadores estudaram episódios de depressão.
Esses episódios são um elemento fundamental da chamada depressão clínica, disse Talati. Mas um único episódio não é indicativo de como o transtorno vai se desenrolar para uma pessoa específica.
Para alguns adolescentes, um episódio depressivo pode representar um evento isolado, possivelmente desencadeado por alguma dificuldade específica na vida; para outros, pode refletir o início de uma doença mais prolongada, com episódios mais frequentes e que prejudicam mais o desempenho da pessoa. [10 Facts Every Parent Should Know About Their Teen’s Brain]
Para Weissman, o novo estudo não deixa claro se esses episódios depressivos em adolescentes são ocorrências de primeira vez ou se são repetições de ocorrências anteriores.
Mesmo assim, os índices que passam de 10% são problemáticos, disse Talati, pesquisador do Instituto Sackler de Psicobiologia do Desenvolvimento. A depressão na adolescência, se não for tratada, pode ter um impacto no resto da vida da pessoa e também sobre sua família.
A depressão em adolescentes
Weissman disse que o fato de sofrer um episódio depressivo na adolescência pode elevar o risco de a pessoa apresentar episódios mais tarde na vida.
Além disso, o aprendizado da independência e autonomia faz parte da adolescência, disse Leslie Miller, professora de psiquiatria infantil e de adolescentes na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore. Se um adolescente está deprimido, ele pode deixar de fazer conquistas importantes.
A depressão também pode afetar o desempenho do adolescente na escola e em ambientes sociais. A reprovação em um semestre devido à depressão pode mudar a trajetória de vida de uma pessoa, disse Miller.
Weissman concordou. “A depressão na adolescência pode afetar realmente a vida da pessoa”, ela disse. O adolescente pode abandonar o colégio, envolver-se com pessoas com quem não deveria ou ter dificuldade de encontrar trabalho.
Fique atento para os sinais
Pode ser difícil para os pais distinguirem entre depressão e a melancolia que é comum na adolescência.
Mas, disse Miller à Live Science, existem sinais para os quais os pais podem ficar atentos em seus filhos adolescentes, incluindo mudanças no sono ou apetite, perda de interesse nas atividades que o adolescente geralmente aprecia, isolamento social e irritabilidade crescente. [10 Scientific Tips for Raising Happy Kids]
Os pais não precisam procurar um especialista imediatamente. Um pediatra é uma boa pessoa para ser consultada inicialmente sobre a possibilidade de procurar assistência mais especializada em saúde mental, e ele pode aconselhar os pais sobre isso, disse Miller.
Os pais que estão mais familiarizados com a depressão ou têm experiência pessoal com o problema podem procurar um especialista diretamente.
Miller disse que a conscientização crescente sobre doenças mentais, incluindo a depressão, pode ajudar os adolescentes também a reconhecer os sintomas. Se um adolescente conhecer os sintomas da depressão, ele pode reconhecer a sensação de estar mal ou de não mais curtir as atividades que lhe davam prazer antes.
De modo geral, reconhecer os sintomas é uma coisa positiva.
Existem muitas maneiras de tratar a depressão, disse Talati. Além dos medicamentos, há muitas opções de psicoterapia que são comprovadamente eficazes.
TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST