Sabemos que Covid-19 tende a afetar mais as pessoas idosas e aquelas que sofrem de doenças crônicas. Entretanto, há uma pergunta que vêm intrigando cientistas em todo o mundo desde o começo da pandemia: por que o coronavírus têm levado mais homens a óbito do que as mulheres?
Esta tendência foi primeiramente notada na China, país onde o surto teve início. Depois começou a ser observada também em outros países, como França, Alemanha, Irã, Itália, Coreia do Sul e Espanha, segundo reportagem realizada pela BBC.
Muitos estudos já foram realizados desde o começo da pandemia para desvendar este mistério, mas a verdade é que a comunidade científica ainda não está certa sobre o porquê desta tendência ‘sexista’ do coronaírus.
De acordo com a BBC, a maioria dos pesquisadores acredita que essa situação se deve não apenas a um único fator mas à combinação de vários elementos que tornam as mulheres mais imunes à Covid-19 e que incluem biologia, estilo de vida e comportamento.
Estilo de vida
Estudos preliminares realizados na China mostraram que os homens não só corriam um maior risco de serem infectados como também de virem a óbito vítimas do novo coronavírus.
Em um estudo com 99 pacientes de um hospital da cidade de Wuhan, local onde a pandemia teve origem, ficou comprovado que dois terços dos doentes eram homens e mais de metade desses indivíduos hospitalizados tinham patologias crônicas como cardiopatias ou diabetes.
De acordo com dados mais recentes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças chinês, baseados em dezenas de milhares de casos, 64% dos falecidos por Covid-19 são homens.
O estilo de vida é a causa mais provável para a maior incidência de homens entre os falecidos com a doença. Ao redor do mundo, homens tendem a beber e a fumar mais do que as mulheres, deste modo, ficam mais suscetíveis a desenvolver doenças pulmonares e cardiopatias, o que os fragiliza caso fiquem infectados com o Sars-coV-2.
Os números comprovam: 48% dos homens chineses com mais de 15 anos fuma, comparativamente a só 2% das mulheres, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Um estudo com 1.099 pacientes na China com Covid-19, publicado na revista científica New England Journal of Medicine, revelou que 26% daqueles que necessitavam de cuidados intensivos ou acabavam morrendo eram fumantes.
Adicionalmente, destaca-se o fator comportamental. Pesquisas sugerem que os homens lavam menos as mãos do que as mulheres, tendem a usar menos sabão, assim como não vão tantas vezes ao médico e ignoram os alertas das autoridades de saúde.
Na Coreia do Sul, por exemplo, embora mulheres sejam 61% dos casos confirmados, 54% dos mortos são homens.
Já na Itália, sete em cada dez óbitos por Covid-19 são de pacientes do sexo masculino, embora 28% dos homens e 19% das mulheres fumem.
E na Espanha, o número de homens mortos é o dobro do das mulheres.
Diferenças biológicas
Por outro lado, estudos já mostraram que as mulheres geralmente têm sistemas imunológicos mais fortes do que os homens e, portanto, driblam infecções com mais facilidade.
“Sabemos cada vez mais que há diferenças de gênero substanciais na resposta imune para uma gama de infecções e, no geral, as mulheres reagem mais forte e agressivamente”, diz à BBC Philip Goulder, professor de Imunologia na Universidade de Oxford, no Reino Unido.
De acordo com estudo recente publicado na revista científica Human Genomics, o cromossoma X contém um grande número de genes relacionados à imunidade e, como as mulheres têm dois (os homens só tem um), o seu organismo está melhor preparado para combater doenças.
Pesquisas também descobriram que o estrogênio, hormônio sexual muito mais prevalecente nas mulheres, protegeu fêmeas de camundongos infectadas pelo vírus da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), causada por outro tipo de coronavírus e responsável por um surto em 2003.
Todavia, apesar das evidências cada vez maiores, os cientistas concordam que são necessários mais dados para discernir o motivo pelo qual morrem mais homens do que mulheres com Covid-19.
Recentemente, o Global Health 50/50, um instituto de pesquisa ligado à Universidade College London, no Reino Unido, analisou os dados públicos disponíveis de 20 países com o maior número de casos confirmados de coronavírus até ao dia 20 de março. Desses 20 países, apenas seis tinham dados por gênero tanto para casos confirmados quanto para mortes – China, França, Alemanha, Itália, Irã e Coreia do Sul. Outros sete somente para o número de casos confirmados.
“Quando observamos os dados desses países, a taxa de mortalidade dos homens por Covid-19 pode superar a das mulheres em um patamar que varia de 10% a 90%”, relata Sarah Hawkes, professora de saúde pública global na Universidade College London (UCL), no Reino Unido, à CNN.
Especialistas acreditam que, se mais países tivessem informações mais detalhadas por gênero, os governos poderiam basear-se nesses dados para formular políticas públicas de combate ao novo coronavírus.
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