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Por que o divórcio ocorre? A resposta pode estar na genética.

Por Dr. Cristiano Nabuco

Uma nova publicação do Psychological Science descreveu uma pesquisa realizada junto a uma amostra de 20 mil adultos suecos e divulgou um dado interessantíssimo: filhos de pais separados apresentam duas vezes mais chances de se separarem na vida adulta do que filhos que não viveram as mesmas experiências em seu lar de origem.

Assim, concluíram os pesquisadores, ter passado por um ambiente marcado pela separação faz com que as chances de uma criança se separar em sua maturidade aumentem de forma expressiva.

Eu sei, a ideia imediata que temos ao ler isso – inclusive me ocorreu também – foi a de que a experiência de se ter vivido em um lar rompido poderia predispor os filhos, do ponto de vista psicológico, a repetirem inevitavelmente na vida adulta as mesmas dinâmicas de instabilidade e incerteza afetivas. Nada mais óbvio, correto?…

Sim, mas a investigação, entretanto, apontou para uma direção completamente oposta.

Segundo as interpretações dos pesquisadores, mais expressivo do que ter experimentado as velhas questões emocionais de luta e de tentativa de superação dos problemas (junto a uma família mais desestruturada), na verdade, foi a chamada “herança genética” – transmitida às crianças -, que aumentaria exponencialmente as chances futuras de separação.

Mas, na verdade, vamos a uma pausa: como esse “divórcio” poderia ser transmitido geneticamente aos filhos?

Bem simples, eu explico.

Antes de mais nada, vamos deixar claro que ninguém herda uma separação ou divórcio propriamente dito, obviamente, mas, ao herdarmos certos traços de personalidade dos pais, como o neuroticismo (indivíduos que, a longo prazo, possuem uma maior tendência a um estado emocional negativo) e a impulsividade, segundo apontou a pesquisa, a capacidade de manejo emocional de uma criança hoje (um adulto amanhã) estará, portanto, mais comprometida.

Imagine, por exemplo, como seriam os pensamentos de uma pessoa que traz em sua personalidade o neuroticismo dos pais. Não seria ela muito mais provável de perceber seus parceiros afetivos como se comportando de forma “mais negativa” e inadequada, criando, assim, interpretações altamente errôneas a respeito do comportamento do outro?

Seguramente que sim!

Vamos lembrar, entretanto, que há uma série de fatores que afetam um casamento e o equilíbrio psicológico de um casal, mas quando os mesmos pesquisadores analisaram os dados conjugais de 80 mil crianças suecas criadas com a mãe biológica e um padrasto, encontrou-se uma forte correlação, o que consolidou os achados iniciais de predisposição, aumentada a separação e vida pregressa de separação parental.

Claro, não vamos confundir predisposição com certeza, entretanto, essas conclusões fazem com que possamos considerar que, além das dinâmicas pessoais, sempre haverá um aspecto biológico que pode contribuir, de maneira importantíssima, na equação final da felicidade de uma pessoa e de um casal.

Quando nossos pais e avós têm uma determinada doença física, não teremos aumentadas as chances de desenvolver os mesmos problemas? Sim. Quem já foi a um médico já ouviu essa história. Pois bem, ao que tudo indica então, o mesmo valeria também para nossa saúde mental.

Nosso equilíbrio ou desequilíbrio podem influenciar, portanto, não apenas nossa vida individual (e conjugal) presente, mas, também afetar as futuras gerações. E isso nos coloca em uma posição de mais responsabilidade e maior consciência em como, de fato, vivemos nossas experiências de vida.

Pense nisso.

Suas atitudes, mais do que podemos imaginar, podem ser passadas adiante e reverberar por décadas através da genética.

#vãoasdicas

– Quando estiver em algum relacionamento e, frequentemente, se achar injustiçado(a), fique atento(a). Esse sentimento pode ser indicativo de um mecanismo mental ativo que distorce a interpretação das situações – o que, algumas vezes, pode ser decorrente de nossa herança genética.

– Antes de agir, procure pensar, ou seja, tente manejar sua impulsividade e, desta forma, não se comportar de “cabeça quente”. Ninguém, em última instância, pode ser responsabilizado por sua infelicidade (ou mesmo por sua felicidade). Vivemos o que desejamos viver. Portanto, se alguém lhe faz mal, é porque assim permitimos que aconteça.

-Lembre-se da “regra de ouro” dos relacionamentos: poucas são as pessoas que, deliberadamente, agem para nos prejudicar. Na verdade, cada um traz seu ponto de vista e, nada mais natural, portanto, que existam leituras distintas das situações de vida.

-E, finalmente: saiba que não existe, de fato, alguém que seja igual a nós. Assim, se deseja viver em equilíbrio, pare de criar expectativas fantasiosas a respeito do outro. Pela genética ou repetindo padrões de nossos lares de origem, saiba que somos responsáveis pela vida que levamos.

Imagem de capa: Shutterstock/Bacho

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