É muito comum no consultório receber pacientes que contam situações de seu cotidiano em que fica evidente que repetem atitudes muito parecidas, ou às vezes até, exatamente idênticas em diferentes situações da vida e no relacionamento com pessoas distintas. E acredite, isto se apresenta com mais frequência do que se possa imaginar.
Por exemplo: uma pessoa que sempre se comportou de forma desafiadora contra os pais na infância e ou adolescência, batendo sempre de frente contra a autoridade destes, acaba agora, sem perceber, relatando situações em que bate de frente com o chefe, com o marido / esposa, um colega de trabalho, um professor da faculdade, sogra, filhos e por aí vai… O mesmo pode ocorrer num caso oposto, em que alguém que sempre fora submisso e passivo, agora comportar-se desta maneira perante todos em seu meio de convívio.
E os motivos pelos quais aprendemos a agir de determinada maneira em nosso meio familiar desde a infância podem ser inúmeros, mas o fato básico é que crianças precisam buscar uma estrutura, uma referência para construir seus comportamentos e é natural que busquem isto na relação com os pais ou familiares em geral. O problema é quando esta criança cresce e se torna um adulto, mas continua a agir como aquela criança que baseia suas decisões e atitudes somente nos exemplos e experiências do passado.
Muitas vezes a repetição das mesmas atitudes e mesmas reações em suas relações são tão idênticas, que, a impressão que se tem é que reproduzem uma cena muito bem ensaiada e decorada, apenas o que muda são os personagens e o cenário da trama. Mas um fato que chama atenção é que quase sempre a pessoa que faz isto, não consegue ter a mínima noção do quanto é repetitivo em suas atitudes e reações que ocorrem em seu dia a dia.
Tendo isto em vista, a pergunta que surge é a seguinte: Por que será que algumas pessoas parecem estar programadas para terem sempre a mesma reação e a mesma atitude em suas relações e situações da vida?
Na maioria das vezes, isto ocorre porque é a única forma que o indivíduo consegue encontrar para recordar e expressar algo que sempre foi vivenciado desta maneira, e pensar e agir de outro modo, nunca foi uma opção para estas pessoas. Há mais de um século atrás, Freud em seu texto: “Recordar, repetir e elaborar” já falava sobre este movimento, que ele nomeava de “compulsão a repetição”. Ele explica como muitas vezes experiências que tivemos, ao invés de serem recordadas claramente e explicitadas pela fala, são expressas por meio da repetição delas em sua atuação na vida.
Logicamente, não haveria problema algum agir sempre do mesmo modo e repetir tais comportamentos, isto, desde que estes não lhe incomodem e tragam prejuízos para sua vida social. No entanto, não é o que geralmente acontece. Afinal de contas, a verdadeira natureza do ser humano é ser livre e criativo, capaz assim de fazer suas escolhas sem o sentimento de estar preso a um ciclo vicioso que só lhe faz sentir mal. Isto fica claro quando ouvimos pessoas se queixarem: “Não sei porque agi daquela maneira, quando vi já foi…” ou então: “Queria ser diferente, mas não consigo”.
E como disse anteriormente, um fato que chama atenção é que quase sempre a pessoa não consegue ter noção do quanto é repetitivo em suas atitudes e reações que ocorrem em seu dia a dia. Isto porque este ciclo vicioso é algo totalmente inconsciente.
Ou seja, o que está guardado lá no fundo do baú da nossa memória muitas vezes acaba só conseguindo ressurgir através destes ciclos de atitudes e comportamentos repetitivos, mas que muitas vezes acabam trazendo prejuízos pela falta de controle da própria vida. E para tomar de volta tal controle destas ações que quase sempre estão inconscientes, nada é mais importante do que autoconhecimento e reflexão sobre si mesmo.
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