Por que repetimos os mesmos erros?

Por Mônica Montone

J. D. Nasio, psicanalista francês, explica em detalhes por que tantas vezes agimos contra nós mesmos no nosso dia a dia.

Experimentos científicos comprovam: emoções e pensamentos viciam tanto quanto as drogas.

“A heroína utiliza os mesmos receptores nas células que as nossas emoções usam. É fácil constatarmos que se nos viciamos em heroína, podemos nos viciar em qualquer peptídeo neural. Em qualquer emoção”. (fonte)

Nossa mente tem uma capacidade incrível de nos manter presos a comportamentos e emoções que não nos servem mais.

Sem perceber, fazemos a manutenção de nossas tralhas emocionais, dia após dia, através da repetição.

A repetição de certos padrões – como por exemplo escolher sempre pessoas erradas para se relacionar – tem como objetivo nos manter no campo “do conhecido” e ratificar nossa personalidade, além, claro, de atualizar traumas inconscientes.

Nas palavras de J. D. Nasio, psicanalista francês e autor do livro “Por que repetimos os mesmos erros”:

“De tanto repetir, confirmo que sou o mesmo de ontem e hoje. Numa frase, Repito, logo sou. Qual é, por conseguinte, a finalidade da repetição? Na realidade a repetição tem uma finalidade anterior exterior a si própria que ela buscaria alcançar. Essencialmente ela é uma tendência que não tem outro fim a não ser permanecer sempre uma força que avança e nos arrasta para nos tornamos mais nós mesmos. A repetição tem a finalidade de produzir três efeitos importantes sobre nós: preservar nossa unidade de indivíduo, desenvolver ao máximo nossas potencialidades e consolidar o sentimento de que somos o mesmo ontem e hoje”.

Apesar de o título do livro remeter a obras de autoajuda, e de o próprio autor demonstrar esforços para utilizar uma linguagem acessível, “Por que repetimos os mesmos erros” ( Ed. Zahar) não é uma leitura fácil para quem não tem intimidade com a psicanálise, especialmente a lacaniana. Trata-se de um livro que explica o processo inconsciente da repetição e analisa sua função psíquica através da abordagem psicanalítica. Conceitos como “retorno do recalcado”, significado, significante, gozo, pulsão de vida e pulsão de morte são recorrentes nas 117 páginas da obra.

“A causa da repetição compulsiva do gozo resume-se a três vocábulos: defeito de simbolização. ‘O que foi excluído do simbólico’, formulava Lacan, ‘reaparece no real’. Parafraseando-o, enuncio: o gozo excluído do simbólico reaparece compulsivamente no real de uma ação descontrolada. Sim, é a não simbolização do gozo, isto é, sua foraclusão, sua não representação consciente e, por consequência, sua não integração no eu da criança que está na origem de sua obsessão em se repetir”.

Para a psicanálise, a única forma de romper com ciclos viciosos de repetição (e consequentemente de compulsão) é através da investigação e acesso ao “trauma ou fantasia original”. Porém, outras escolas da psicologia, bem como algumas filosofias orientais, nos apontam outros caminhos possíveis para frear as repetições.

A Gestalt e a Cognitivo Comportamental, por exemplo, nos ensinam que muitas vezes, ao mudarmos um comportamento externo, conseguimos provocar mudanças internas.

Já algumas filosofias orientais sugerem que ao meditar nos conectamos com o presente e impedimos nossa mente de vagar em dois tempos que não existem: o passado (origem da repetição) e o futuro (necessidade de manutenção da repetição).

Para Patañjali, pai do Yôga (150 d.C), só há uma maneira de aniquilar pensamentos, sentimentos e comportamentos nocivos: substituindo-os por outros diametralmente opostos.

A mente precisa de treino. É preciso ensiná-la o que queremos. E muitas vezes só conseguimos isso através da mudança de comportamento.

Não consegue parar de se relacionar com pessoas erradas? Mude a alimentação! Ao perceber que conseguiu mudar algo relevante, a mente, aos poucos, vai se tornando preparada para mudanças maiores. Não consegue parar de pensar em problemas? Resolva os menores, como consertar a torneira do banheiro emperrada há séculos.

Se as práticas ou filosofias orientais são mais eficazes que a psicanálise – e demais escolas da psicologia – no processo de ruptura de um ciclo de repetição, não sei. Mas que elas garantem autoconfiança, equilíbrio, bem estar e qualidade de vida, é fato.

Talvez o melhor caminho para quem não consegue se livrar das compulsões emocionais seja associar ambas as práticas.

Seja como for, uma coisa é certa: para atingir resultados diferentes é preciso atitudes (comportamentos) diferentes. É aquilo: “continue fazendo o que sempre fez que você chegará aonde está”…

Mônica Montone

Mônica Montone é escritora, autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.
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