Por Himay Zepeda
Se você perguntar para amigos, família ou para um cara na rua por que eles escrevem cartas de amor, talvez te olhem estranho. O tipo de olhar que se dirige a alguém que pede dinheiro, sabe? Não é um olhar bondoso, com certeza. É assim porque acho que a carta de amor morreu. Essa tradição encolheu, num mundo em que a afeição genuína é um emoji de um panda com corações no lugar dos olhos.
Talvez eu esteja errado. Espero que sim. Talvez um monte de gente escreva cartas de amor, mas fique em silêncio porque parece uma coisa tão antiquada. Essas pessoas não querem ser conhecidas como esquisitonas, que articulam em prosa o batimento dos seus corações pela pessoa amada. Que gente estranha, diz aí.
Apesar do constrangimento que cerca a ideia, acredito piamente no poder de uma carta de amor. Escrevi várias. Algumas privadas, algumas públicas. Escrevi para minha mãe, algumas para meu pai, para meus amigos e, é claro, para meu amor. Alguns podem dizer que escrevi cartas até para coisas, como livros. É uma maneira de me mostrar por dentro; ajuda a conectar meu interior com meu exterior.
É uma dádiva de Deus. Porque, veja, sou muito melhor no papel do que pessoalmente. Minha senhora vai (talvez um pouco) concordar entusiasticamente com isso. Mas não fico magoado. Todos temos nossas forças e nossos ritmos naturais, e para mim isso significa que sou melhor com a palavra escrita que com a falada.
Cartas de amor, então, retratam minhas considerações mais profundas de uma só vez, da maneira mais coerente que sou capaz de tramar. O conteúdo de uma carta de amor depende de quem você é. A carta daquele cara pode estar cheia de palavras cor-de-rosa e descrições carregadas de emoção. A daquela mulher pode ser calma, em comparação, listando cuidadosamente as coisas que ela aprecia na outra pessoa. Nenhuma está certa e nenhuma está errada. Ambas são exatamente como deveriam ser, pois ambas são fiéis aos autores.
Simplesmente escreva
Quando você está escrevendo uma carta de amor, precisa sair da sua frente e simplesmente escrevê-la. Os erros de digitação, as palavras redundantes, as vírgulas no lugar errado, tudo isso é irrelevante. São coisas secundárias depois de você ter terminado de moldar o poder da sua mensagem.
Essa mensagem, qualquer que seja o tamanho dela, diz essencialmente: só queria te avisar que você é imensamente importante para mim, porque não consigo passar mais um momento sem te confessar isso. Abra os portões, deixe o coração se derramar na página. É uma excelente maneira de se livrar dos fardos, a melhor que existe. Uma carta de amor te ajuda a respirar melhor, isso é certeza.
Ignore todo mundo
O editor que mora dentro de você vai querer rasgar sua carta. Ele vai te criticar, te diminuir, te ridicularizar. Se você der ouvidos a esse velho mal-humorado, nunca vai escrever nada que seja cheio de vida, cheio de alma. Não preste atenção nele, basicamente porque essa voz não é a sua. Ela foi criada pelos outros, pelo que “dizem os outros”.
Esses outros dizem que, se você é homem e não passa os dias de camisas pretas de gola rolê, não tem por que escrever coisas bobas desse tipo.
Esses outros dizem que você é emotivo demais, que você precisa controlar esse impulso, porque você deixa as pessoas pouco à vontade.
Esses outros estão te mostrando o “jeito certo” de fazer as coisas, então preste atenção… Se você leu o suficiente das coisas que eu escrevo vai saber que acho isso uma grande bobagem. Não existe um jeito certo, só o jeito que funciona para você.
Você tem de ignorar essas vozes! O tempo todo e com relação a tudo. Escrever esse tipo de carta é simplesmente um exemplo de quão frustrante e limitante pode ser ouvir as definições dos outros do que é “certo” ou “sucesso”. As pessoas que têm essas opiniões e querem que você as siga são, basicamente, bullies. Ignorando os bullies, você tira o poder da mão deles. Os seres humanos criam uma multidão, e não o contrário.
Amor + sinceridade
Isso não pode deixar de ser dito: uma carta de amor não é só flores e filhotinhos de cachorro. Não é simplesmente uma proclamação de amor. Acredito que as cartas de amor mais poderosas são aquelas em que você se revela completamente. O bom e o mau.
Fiz isso com a minha senhora várias vezes. Não digo apenas o quanto ela significa para mim, quanto a sua risada, seu sorriso e seu amor me renovam, mas também digo o quão imperfeito eu sou. Minhas preocupações, minhas dúvidas e minhas cautelas. As maneiras em que ainda sou egoísta e os pensamentos sombrios que de tempos em tempos encobrem todo o resto. Listo as vezes em que deixei de cumprir promessas e o medo de que vá decepcioná-la de novo, muitas outras vezes. Isso não é simplesmente uma proclamação, mas uma confissão. A carta contém tanto minha apreciação por ela como minhas falhas, as imperfeições do meu ser.
Cartas de amor podem mudar a vida porque são uma das poucas vezes em que você consegue reunir aquela coragem definitiva que vem com a vulnerabilidade. É você baixando as calças, tirando a camisa e dizendo: “Esse sou eu, às vezes é bom, às vezes é ruim, mas prometo que sempre vou dar o melhor de mim”.
Ninguém chega perto da perfeição. Até mesmo aquele cara que corre pelo bairro às 5h enquanto participa de uma teleconferência com um cliente de 1 milhão de dólares mancha a camisa com a sobremesa de vez em quando. Mas poucos de nós gostamos de admitir.
É difícil falar essas coisas, eu sei que é para mim. Mas, quando você o faz, e quando você admite isso para a pessoa que ama de um jeito edificante, de um jeito que diz “Eu sei e eu prometo ser o meu melhor para você”, você está construindo uma das mais importantes conexões humanas: aquela entre duas pessoas autênticas e sinceras.
Comece hoje
Nas cartas que escrevi, posso dizer uma coisa que sempre aconteceu, sem falta. Eu respiro mais fácil. Sinto uma lufada de ar fresco e frio enchendo meus pulmões e aliviando minha carga.
Talvez todos possamos nos sentir assim se colocarmos a caneta no papel, para que todo o mundo veja o que sempre guardamos para nós mesmos. Talvez seja isso o que nos livra do fardo de sermos egoístas com nossos batimentos cardíacos. Dividir a si mesmo com os outros é uma das coisas mais altruístas que se pode fazer. Depois de compartilhar meus pensamentos com a pessoa amada, me sinto renovado. Como se tivéssemos terminado de escrever um capítulo e estivéssemos virando a página para começar o próximo.
Quero que você escreva uma carta de amor agora.
Eis como: pegue uma folha de papel em branco e escreva no topo: “Querida/Querido (nome da pessoa ou coisa a quem você está dedicando a carta). Só queria que você soubesse que te amo com tudo o que sou.” Pode parar por aí. Mas, se quiser continuar escrevendo, siga em frente. Depois de escrever tudo o que deveria ser escrito, assine seu nome no final da página e aperte “enviar”, coloque num envelope, o que for.
Você oficialmente acabou de escrever algo verdadeiro. Parabéns, o mundo é um lugar melhor por causa disso.
TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST
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