A forma como uma pessoa se comporta num relacionamento afetivo é o reflexo da forma como ela se percebe. No geral, as vítimas de relacionamentos abusivos aprenderam, ao longo da vida, que tudo é aceitável em nome do amor. Provavelmente, essa pessoa tenha vindo de um contexto familiar desajustado, onde, dentre tantas violências, presenciava o pai agredir a mãe, por exemplo.
Ela aprendeu a associar o amor à dor e ao desrespeito, então, ainda que ela adquira esclarecimentos teóricos sobre a forma saudável de se relacionar, aquilo que ela viveu na prática ainda terá um peso gigante para ela. Vale lembrar que esse quadro não é irreversível, contudo, é fundamental que a vítima se disponha a buscar essa desconstrução. O processo é lento, mas vale a pena investir todos os esforços nessa busca, que tem na psicoterapia individual, uma poderosa aliada.
As vítimas de relacionamentos tóxicos não se percebem como pessoas dignas e merecedoras de afeto e respeito, isso pode ser de forma consciente ou inconsciente. Elas não exigem nada do parceiro; elas se percebem como inferiores demais para manifestar alguma vontade. Tudo o que vier será aceito, e, como elas temem a rejeição, elas evitam, contrariar o parceiro.
Quando você olha aquela mulher bonita e interessante, ou aquele homem bacana vivendo essa realidade, é preciso entender que eles não se enxergam assim. Eles não têm a menor consciência da beleza física, ou de qualquer outra virtude. Eles se enxergam com uma lente completamente distorcida.
A construção da autoestima e a percepção de si como um sujeito digno de amor, de respeito, e dignidade poderá ser reforçada nos bancos das escolas e universidades, porém, as vivências da infância e as referências da família nuclear acabam falando mais alto. E esse ciclo tende a se reproduzir na vida dos descendentes dessa pessoa, pois ela estará ensinando aos filhos um modelo doentio de se vincular afetivamente.
Se você se identificou com esse conteúdo, busque ajuda profissional, invista em autoconhecimento, isso será o melhor investimento da vida.
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Foto de Soroush Karimi no Unsplash