Por Fabiana Santos
Certa vez num parquinho, a mãe (mais experiente que eu) de um amiguinho do meu filho me deu um conselho que eu jamais esqueci porque eu sempre ficava muito angustiada de outra criança querer algo do meu filho e ele não querer emprestar: “Não precisa ficar insistindo para ele dividir as coisas. Se você ficar exigindo que ele sempre abra mão do brinquedo que está com ele, como ele vai se impor diante da vida?”
Achei relevante o que ela disse e guardei com todo o carinho para ficar atenta. E outro dia me deparei com um texto em inglês falando exatamente sobre isso. De antemão, é preciso deixar bem claro que não exigir que seu filho compartilhe as coisas nada tem a ver com o fato de criar um filho egoísta. Afinal, filho bacana e colaborador é o que todo mundo quer, não é mesmo?
Veja bem se não faz sentido: você está numa cafeteria, acabou de pegar um café e está abrindo o seu laptop quando um estranho chega pra você e diz: “Ei, me deixa dar uma olhada neste computador.” Aí você diz: “Hum, não. Este laptop é meu.” Ele diz: “Não é justo! Agora é a minha vez de usar!” Então ele vai reclamar com a funcionária do lugar que vem lhe dizer: “OK, eu acho que você já usou por tempo suficiente o seu laptop. É hora de dar a vez ao seu amigo”. E ela empresta seu laptop pra ele. Esquisito, né? Mas provavelmente é o que nossos filhos acham quando fazemos eles emprestarem algo.
Também num parquinho, uma mãe, que tenha entendido a respeitar o momento do filho entretido com um brinquedo, pode ter ouvido a mãe de uma outra criança dizer: “Deixa, meu filho. Ele não sabe dividir”. E sinceramente se eu pudesse responder a esta mãe, eu iria dizer: “E seu filho não sabe esperar a vez dele”. Ou então: “Você não ensinou ao seu filho que muitas vezes na vida vai ser assim: nem sempre ele vai ter o que ele quer?”.
Polêmico? Talvez. Mas vale refletir. Veja bem que não estou falando daquela criança que chega no parquinho com um “monte” de brinquedos, não está ligando para nenhum deles e não deixa ninguém encostar em nada. Eu estou falando de um brinquedo que claramente uma criança está envolvida com ele. Estou dizendo que a gente não precisa fazer nossos filhos dizerem sempre “sim”. Porque acaba se tornando um problema quem não sabe nunca dizer “não”.
Um outro artigo em inglês que li sobre o mesmo tema, falava da política adotada por um Jardim de Infância. A regra é: uma criança pode usar o brinquedo pelo tempo que tiver vontade e se a outra criança quiser, precisa aguardar até que a outra libere o brinquedo. Mas aí eu fico pensando que pode ter criança que por pura implicância não larga o brinquedo por nada e acaba levando mais vantagem nesta “regra”. Eu gosto, por exemplo, da conduta na escolinha da minha filha: se aparece disputa por um brinquedo que uma criança já está usando, imediatamente a professora coloca uma ampulheta que corresponde a alguns minutos. Assim, a criança que está brincando sabe que quando o tempo dela acabar é hora de passar o brinquedo. Enquanto isso, a outra espera pacientemente de olho na ampulheta. Esta regra eu já presenciei que dá certo.
Como eu disse lá em cima, ninguém quer um filho egoísta. Ao mesmo tempo que não dá pra criar filho que tem tudo exatamente na hora que quer. Um pai americano, blogueiro, ficou muito irritado com textos que “defendem que os filhos não precisam compartilhar”. E eu entendo o lado dele. Como tudo na vida, a gente tem que saber dosar as coisas. (E a dosagem certa na criação de filho é algo cientificamente muito difícil pra todo mundo, né?) Pra ele, não podemos deixar um filho ser bobinho a ponto de entregar tudo de mão beijada no caso dele encontrar uma criança mais velha ou insistente, que queira tomar dele o brinquedo. Mas ele também diz (o óbvio!) que não podemos esquecer de ensinar nossos filhos desde pequenos a terem consideração pelo outro.
Eu acho que no final das contas: relativizar é a grande palavra-chave. É claro que se o meu filho estiver brincando todo empolgado com algo novo que ele acabou de ganhar, eu acho que é um direito dele. Ao mesmo tempo, eu não vou ser uma mãe-sem-noção. Eu acho que a minha obrigação é ensiná-lo a opção do compartilhamento. Emprestar sempre? Não. Sempre que possível! Porque vai ter hora que isso não é possível nem para o seu filho, nem para o meu. Seja no parquinho ou na vida adulta.
Fabiana Santos é jornalista, casada, mãe de Alice, de 5 anos, e de Felipe, de 11 anos. Eles moram em Washington-DC. Ela considera os filhos, crianças generosas. Separar brinquedos que serão doados, por exemplo, é sempre um momento bacana entre eles.
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