Somos convocados a nos mover e nos posicionar quase que o tempo todo e pelas mais diversas solicitações. Posicionamento é uma atitude humana que implica em clareza, determinação, firmeza, vontade, auto-confiança, auto-estima, definição, risco, apropriação. Isto requer um processo articulado com os outros e de autoconstrução no decorrer da vida.
Então, além de se expressar em momentos em que somos chamados a uma posição, podemos pensar também em um sentido amplo que é o posicionamento de vida, isto é, o modo pelo qual eu me movimento no mundo de um modo geral.
Em primeiro lugar, não podemos deixar efetivamente de nos posicionar e, temos uma tendência nesse posicionar-se. Podemos sim nos encolher diante das solicitações o que significa ficar apagado, ocupando um lugar “fora do lugar”. Isso somente faz parecer que não estamos nos posicionando e, assim, não estamos submetidos ao decorrer dos acontecimentos. Nos colocamos aquém das nossas reais possibilidades. Na verdade, somente estamos escolhendo um outro caminho de conseqüências que acreditamos serem menos lesivas para nós próprios. Fazemos essa escolha por medo de sofrer crítica, desaprovação, de não conseguir agradar, de ficar isolado.
Muitas vezes assumimos essa postura por não acreditarmos na real importância da nossa própria existência e de que nós merecemos um “lugar ao sol”. Algumas expectativas ou crenças equivocadas estão presentes, como por exemplo: o mundo está ali para nos atender, então o outro deve nos dar espaço; o mundo é para alguns poucos que sabem como galgar a vida excluindo a mim; ou ainda, tomar posição provoca uma competição entre eu e o outro, assim uma postura expansiva é lesivo e vil.
Por outro lado, a nossa tendência pode ser de estar sempre convicto de nossa razão, do que é o melhor a fazer e falar, tomando à frente porque o importante é que tudo esteja feito, realizado. Acabamos ficando em evidência a maior parte do tempo sem perceber, ocupando espaço sempre. Aqui a crença é de que viver a vida é imprimir força e atividade, tomar o que é necessário acreditando que é possível dar conta de tudo e, é só uma questão de esforço pessoal e tempo. Fazemos essa escolha por medo de não ser visto, reconhecido, como se só assim podemos existir senão nada somos.
Seja encolhendo ou transbordando, a primeira ideia que surge é de que tudo se estabelece em suas posições e daí o espaço acaba e permanece assim. É importante considerar que os papéis mudam, a referência de valores e, inclusive a própria pessoa, nós mesmos, também. Por isso, ver que o espaço na vida e as circunstâncias são plásticas, nos auxilia ter uma visão de que todos podem ocupar um lugar desde que seja segundo os seus alcances, limites e referências que tenham a ver consigo mesmo. Isto é o verdadeiro auto respeito e o reconhecimento do próprio valor.
Quando nos encolhemos ou passamos do limite não estamos trazendo à luz quem nós somos, quem podemos ser, definindo inclusive a nossa diferença enquanto existente. Portanto, nos posicionar segundo a nossa originalidade é fundamental para a realização do nosso viver.
Quando nos posicionamos fica claro para o mundo e para nós mesmos a que viemos, conquistamos respeito, relações afins, definimos quem somos naquele contexto, contribuímos para a nossa segurança, crescemos porque enfrentamos os riscos, exercitamos firmeza e assim, construímos o nosso existir.
Psic. Gabriela Bessa Barreto
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