O ser humano tem certas peculiaridades que ninguém explica direito, sendo uma delas o gostinho de inveja que não poucos sentem, mesmo que bem lá no fundo, quando veem o sucesso de alguém. Por mais que neguemos, não costuma ser tranquilo assistir às pessoas galgando degraus e mais degraus; é algo que poucos conseguem controlar esse sabor amargo que sobe à boca quando se olha a felicidade alheia.
Talvez a gente se sinta meio que injustiçado, comparando onde estamos com os lugares aonde os outros já chegaram. Quantos de nós já não nos esforçamos muito no trabalho, mas vimos o colega ser promovido? Quantas vezes estudamos com afinco para um concurso no qual é aprovado alguém que parece nem se esforçar? Quantas pessoas nos preteriram, em favor de um outro que lhes oferecia bem menos do que estávamos dispostos a ofertar?
Na verdade, muitas vezes, acabamos por exagerar na visão que temos do que fazemos e do que nos acontece, pois evitamos naturalmente uma auto análise nua e crua de nós mesmos. E, quando as pessoas se dispõem a se enxergarem de fato, então percebem que poderiam, muitas vezes, ter agido de outra maneira, que deveriam ter dito ou feito diferente, que não se esforçaram tanto assim. A gente acaba recebendo de acordo com o que ofereceu.
No entanto, também teremos que presenciar muita gente ocupando cargos por apadrinhamento, aproveitando ou desdenhando de oportunidades que sua situação financeira lhe permite, sendo escolhidos pelo sobrenome que carregam. Mesmo assim, muitas dessas pessoas farão o melhor que puderem a partir do que lhes chegar facilmente. O que não podemos é desistir, pois há exemplos vários de indivíduos que venceram, saindo de uma total ausência de perspectivas.
Fato é que será muito mais fácil ter alguém compadecido de nossas tristezas do que encontrar quem realmente comemore conosco as nossas vitórias. Chegar junto à miséria alheia parece ser muito mais fácil do que aplaudir o sucesso do outro. De tanto que se valoriza o sucesso material, é exatamente esse aspecto que será alvo mais contundente de inveja.
Como se vê, bem poucos suportarão nos ver felizes, com sinceridade transparente, mas serão esses poucos aqueles com quem sempre poderemos contar, sem medo de rasteiras e decepções dolorosas.
Imagem de capa: Maisevich Alexey/shutterstock