Autismo. Apesar de esse ser um termo amplamente difundido atualmente, ainda é pouco conhecido de todos nós. O que é? Como é causado? Qual a importância de seu diagnóstico e tratamento precoces?
O autismo ou Transtorno do Espectro Autista, segundo o DSM-V – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, é concebido como uma síndrome comportamental com múltiplas etiologias (origens), combinando fatores genéticos e ambientais. De acordo com a classificação internacional de doenças CID-10, o autismo figura na categoria Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, caracterizado por prejuízo qualitativo nas interações sociais recíprocas, nos padrões de comunicação e por repertório de comportamentos, interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Os sintomas estão presentes desde os primeiros anos de vida, com um prejuízo significativo nas áreas social, ocupacional, entre outras.
O diagnóstico preciso do autismo não é uma tarefa fácil, pois o paciente deve ser submetido a uma investigação multidisciplinar das áreas médica, psicológica, fonoaudiológica, fisioterápica, entre outras, uma vez que estes indivíduos apresentam prejuízos em vários domínios. O processo deve ser gradual, envolvendo uma apreciação clínica cuidadosa, que considere as avaliações de linguagem e avaliação neuropsicológica, além de exames complementares, como estudos de neuroimagem e genético, levando em consideração a história da criança, seu comportamento atual, habilidades cognitivas, nível de desenvolvimento e possíveis transtornos associados.
Em crianças com autismo, a avaliação neuropsicológica deve ser planejada conforme a necessidade do caso, com instrumentos específicos que identifiquem tanto as limitações quanto as potencialidades para o aprendizado. A intervenção proporcionada por um diagnóstico precoce está diretamente relacionada à melhora do seu quadro clínico.
A dificuldade das pessoas com autismo em identificar expressões faciais, reconhecer intenção ou desejo de terceiros e imitar gestos e ações, pode ser decorrente de uma disfunção perceptual. Isso prejudica o estabelecimento de relações interpessoais, uma vez que estas habilidades possibilitam à criança lidar com as suas emoções e com as dos outros. Há também dificuldade na aquisição do comportamento de autocuidado e, por vezes, apresentam comportamentos agressivos e de autoflagelação.
Existem diferentes tipos, graus de autismo? Quais são as diferenças entre eles?
O autismo é um espectro que engloba uma ampla gama de níveis de funcionamento, que vão desde o autismo não-verbal (baixo funcionamento) até a Síndrome de Asperger – verbal (alto funcionamento). É importante compreender esses diferentes tipos de autismo e aprender a lidar com cada um deles.
O Autismo Clássico é caracterizado por problemas na comunicação, interação social e comportamentos repetitivos, sendo geralmente diagnosticado antes dos três anos de idade. Devemos nos manter atentos aos atrasos no desenvolvimento da criança, principalmente no âmbito da linguagem. Classifica-se em leve (alto funcionamento) ou grave (baixo funcionamento).
A criança autista de alto funcionamento apresenta sintomas como atraso das habilidades linguísticas, o que compromete seu desenvolvimento social, além de padrões do “brincar” diferentes das demais crianças (jogos solitários, apego ou fixação em algum objeto, etc), no entanto, apresenta um QI na faixa normal. O autismo de baixo funcionamento é um caso mais grave da doença. Os sintomas são profundos e envolvem déficits graves em habilidades de comunicação e sociais, comportamentos compulsivos, estereotipados e auto-destrutivos, além de um QI situado abaixo da média.
A Síndrome de Asperger é um tipo de autismo de alto funcionamento que apresenta algumas características dinstintas, como excepcionais habilidades verbais (linguagem atípica ou excêntrica), interesse excessivo por assuntos específicos, apego a rotinas, movimentos estereotipados e repetitivos, dificuldades com linguagem não-verbal, jogos simbólicos e habilidades sociais.
O Transtorno Invasivo do Desenvolvimento sem outra especificação, também conhecido como autismo atípico, envolve algumas, mas não todas as características do autismo clássico, como dificuldades de linguagem, habilidades sociais ou apresentação de comportamento repetitivos.
O Transtorno Desintegrativo da Infância caracteriza-se pela perda da comunicação e das habilidades sociais entre as idades de dois e quatro anos. Assemelha-se ao autismo regressivo. É importante salientar que a Síndrome de Asperger, o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento sem outra especificação e o Transtorno Desintegrativo da Infância, são considerados transtornos do espectro autista e não mais realizam diagnósticos separados, desde a última revisão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V).
Tornar-se ativamente envolvido no tratamento de um filho com autismo, realizando um plano de tratamento juntamente com os profissionais responsáveis – médico, psicólogo, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, entre outros, faz toda a diferença no desenvolvimento da criança, no estabelecimento de um bom prognóstico, bem como em sua qualidade de vida!
Bibliografia
American Psychiatric Association. (2014). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. Artmed Editora.
Bosa, C., & Callias, M. (2000). Autismo: Breve revisão de diferentes abordagens. Psicologia: Reflexão e Crítica, 13(1), 167-177.
Camargos Jr., Walter. (2012). Que grau de autismo meu filho tem? Revista Autismo.
Costa, R. M. (1988) Comparação da incidência de traços autísticos no período de 0 a 2 anos de idade, em três grupos de crianças. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica – Campinas, SP, Brasil.
De Jorge, L. M. (2003). Instrumentos de avaliação de autistas: revisão da literatura. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica – Campinas, SP, Brasil.
Gadia, C., Tuchman, R. & Rotta, N. (2004). Autismo e doenças invasivas de desenvolvimento. Jornal de Pediatria, 80(2),83-94.
Klin, A., & Mercadante, M. (2006). Autismo e transtornos invasivos do desenvolvimento. Revista Brasileira de Psiquiatria, 28 (1), s1-s2.
Organização Mundial da Saúde. (1993). Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Porto Alegre: Artmed.