Na última sexta-feira (08/04), a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) anunciou o afastamento de Jadir Machado Lessa, professor do curso de Psicologia, depois que vieram à tona denúncias de assédio que teria sido cometido contra estudantes.
Três alunas, que preferiram não se identificar, relataram ao site Universa episódios de assédio vividos durante as aulas do professor.
Uma das denunciantes, que foi aluna de Jadir em um projeto de monitoria voltado à compreensão da existência humana, conta que, no início, Jadir parecia ser um professor muito cuidadoso e preocupado com o aprendizado. Ele a estimulava a compreender melhor a si mesma e a superar tabus, com o intuito de fazê-la crescer enquanto profissional. Mas depois, segundo ela, os interesses do docente foram mudando.
“Jadir passou a deixar os trabalhos da monitoria de lado e começou apenas a conversar comigo. (…) Até que ele começou a falar dos meus relacionamentos íntimos. Durante uma dessas conversas, ele disse que queria ver o quanto eu já tinha me libertado de amarras e julgamentos, e me desafiou a mostrar meus seios.”, relatou a estudante.
A vítima relata ainda que o professor citou o Existencialismo, e depois, citou mulheres empoderadas, donas de si, que exibiam seus seios por vontade própria e que se libertavam dos julgamentos alheios — a jovem disse admirar aqueles nomes, mas não estar preparada para fazer o mesmo.
“No final desta reunião, quando estávamos indo embora, eu perguntei a ele como eu estava me saindo na monitoria, se precisava melhorar. Ele me respondeu dizendo que estava muito contente comigo, extremamente impressionado com minha dedicação e trabalho, mas que, no teste final, eu reprovei”, lembra.
De acordo com a estudante, Jadir justificava o abuso dizendo que as ações compunham o trabalho na sala de aula, como parte do ‘existencialismo e a psicologia na prática’, e que ela tinha que se libertar de costumes e tradições sociais cristãos para atingir o sucesso. Segundo ela, o professor teria chegado a tocar seu seio e teria dado dois tapas em seu rosto, dizendo que ela “gostava daquilo”.
“Em uma ocasião, ele pediu que eu me ajoelhasse na sua frente. Quando me ajoelhei, ele pediu que eu fizesse o que quisesse com ele, que eu assumisse os meus desejos que ele sabia que eu tinha. Eu não entendi o que ele tava querendo dizer com aquilo, então apenas dei tapinhas na barriga dele. Quando terminei, seu membro estava ereto e sua calça suja.”, relata a vítima.
Outra denunciante teve aulas com Jadir no ano de 2019, durante a graduação. Ela diz que já tinha ouvido falar, por outras estudantes, que o professor assediava alunas. Segundo ela, o docente primeiro busca descobrir um ponto fraco como maneira de se aproximar.
“Ele sempre jogava perguntas em sala de aula e ia pegando as respostas. Eu falava que tinha medo da solidão e era uma pauta que ele sempre trazia para falar comigo com o intuito de me ‘ajudar’. Hoje eu consigo perceber que isso é uma estratégia dele”, disse a estudante.
Uma terceira vítima teve aulas com Jadir por mais de um ano. Ela relatou uma situação em que o professor passou a mão na perna dela, alegando que se tratava de técnicas ‘ayurveda’, que originalmente fazem parte de uma terapia bioenergética que tem como objetivo o autoconhecimento.
“Houve episódio em que ele tentou me beijar e insistia em acariciar minha perna, alegando que eram técnicas da psicologia. (…) Eu não sabia como agir, só me defendia como podia em cada situação. Cheguei a pensar em conversar com alguém, mas depois de ameaças, fiquei com medo me de prejudicar no meu mestrado. (…) Em um determinado momento, ele chegou a comentar outro caso de assédio, e disse que não aconteceu nada com o professor em questão, a única prejudicada foi a aluna.
A vítima diz que deseja que Jadir perca o cargo de professor, e que a UFMA trate o caso com a devida seriedade. “Essa violência me afeta psicologicamente até hoje e me sinto prejudicada; toda essa situação se amplia em várias áreas da minha vida pessoal e acadêmica. Desde a época, estou em acompanhamento psicoterapêutico”, conta a jovem.
Inicialmente, Jadir foi enunciado pelas alunas na Polícia Civil. Posteriormente, o caso foi encaminhado à Polícia Federal por se tratar de uma ocorrência dentro de uma universidade federal. O inquérito que apura os possíveis abusos cometidos pelo professor corre em segredo de justiça.
Contactado pelo site Universa, o professor Jadir Machado Lessa se disse surpreendido pela denúncia e pelo afastamento de sua função docente. “[…] Nunca extrapolei os limites da cordialidade das relações interpessoais e, principalmente, nunca me vali de minha função para obter qualquer proveito, sobretudo, de cunho sex***”.
À respeito das denúncias, o professor diz que defende a liberdade de expressão e que pede que o caso seja tratado “com responsabilidade plena, sem prejulgamentos que possam resultar em minha condenação prévia ou execração pública, descontextualizados da verdade a qual, certamente, não é aquela constante da denúncia responsável por induzir a erro o magistrado que determinou meu afastamento do cargo que ocupo”.
A UFMA declarou em nota que está tomando as providências legais quanto ao caso.
“A Universidade Federal do Maranhão, em respeito à opinião pública, comunica que, ao tomar conhecimento das denúncias de assédio contra o professor Jadir Machado Lessa, cumpriu a determinação judicial que ordenou o seu afastamento por 180 dias, assim como tomou todas as providências legais que o caso requer. Ressalta que a Universidade é um espaço onde devem prevalecer o respeito, a tolerância e a defesa dos direitos individuais e coletivos, indispensáveis em um ambiente em que a produção do conhecimento é a grande missão”.
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de Universa.
Imagem de capa: Jadir Lessa/Facebook/Reprodução.
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