A psicóloga Cristiane Correa Santa Catarina, de 53 anos, registrou um boletim de ocorrência contra Helcius Pitanguy, herdeiro do famoso cirurgião Ivo Pitanguy, acusando-o de injúria e omissão de socorro após ser deixada à deriva na Ilha dos Porcos, em Angra dos Reis, Rio de Janeiro. Em entrevista ao GLOBO, Cristiane revelou ter suspeitado da ausência das funcionárias mulheres na mansão. O incidente ocorreu no último sábado, por volta das 17h30, quando ela foi hostilizada e decidiu fugir remando do local.
“Quando cheguei na ilha, duas funcionárias que eu conheço não estavam. Perguntei ao Helcius onde estavam Mara e Sônia, e ele respondeu: ‘não vai ter mais mulher nessa Ilha, agora só funcionários homens’. Rebati dizendo que o local se transformaria na ‘Ilha do Medo’ e que não gostaria de permanecer lá”, disse Cristiane ao Globo;
Cristiane diz ter sido maltratada por Helcius e xingada de “puta virgem”.
“Eu sou uma pessoa low profile, small circle e introvertida, por isso preferi me afastar. Ele é ofensivo, já me chamou de biruta e cafona entre outras hostilidades. Fiquei com muita raiva do que ele falou das minhas amigas, comecei a chamá-lo de “merda” e decidi sair de lá. Antes da discussão, ainda comentei com o chefe que iria comer logo para não ir embora com fome”, contou a psicóloga.
Quando Cristiane resooveu deixar a ilha, não recebeu ajuda dos marinheiros presentes. Desesperada, a psicóloga utilizou um stand-up paddle na tentativa de alcançar o Iate Clube Aquidabã para voltar para casa no Rio de Janeiro.
“Somos amigos há 12 anos, só que ele é um sujeito de trato difícil, portanto, nesses 12 anos têm brechas de 5 anos sem vê-lo. Ele é assim, os amigos o toleram. Já estava acostumada com ele me corrigindo na frente das pessoas, dizendo que como uma psicóloga eu falo errado, já me chamou de biruta e cafona, mas nunca tinha sido dessa maneira”, relatou a psicóloga.
A psicóloga conta ainda que, depois que ela saiu da ilha, um dos marinheiros de Pitanguy foi enviado para resgatá-la e confiscou pertences e documentos sob ordem de Helcius. Segundo o o depoimento dela à Polícia Civil, o barqueiro da família disse que Helcius havia ordenado que o funcionário levasse Cristiane de volta para a ilha. Já dentro do barco, com a prancha, ela resolveu pular da embarcação e remou por cerca de uma hora, por conta própria, para pedir ajuda a terceiros.
Ao ficar à deriva, Cristiane foi resgatada pelo administrador da Ilha dos Porcos e outro funcionário, que a levaram até o Poste dos Pescadores. Lá, ela pediu um carro de aplicativo para voltar para casa no Rio de Janeiro.
“A agressividade dele começa quando alguém diz não para ele, quando bebe ou quando ele não se sente o rei das atenções. Ele é muito ofensivo, mas se comporta como um “queridão” entre os amigos até a página que o convém. Parece ter dupla personalidade, mas nunca vi nenhuma violência física”, relatou a psicóloga, que ficou machucada na tentativa de fugir do local.
Cronologia dos ataques
O terror de Cristiane começou na quinta-feira, quando foi convidada por Helcius para visitar a ilha. Ela percebeu que Helcius estava embriagado já na saída de sua casa, na Barra da Tijuca. Cristiane afirmou que já havia sido maltratada anteriormente, mas nunca dessa forma. No boletim de ocorrência, Cristiane relata que Helcius gritou com ela em um supermercado em Angra, ordenando que ela cuidasse de seu cachorro.
Na sexta-feira, Cristiane disse que teve um dia tranquilo na mansão dos Pitanguy, mas no sábado, após encontrar uma amiga, o clima mudou drasticamente. O grupo de mulheres voltou com Cristiane à Ilha dos Porcos e, horas depois, Helcius teria dito: “Não sabia que suas amigas são todas putas, a mais bonita já veio aqui com dez amigos meus diferentes”. Em seguida, ele teria chamado Cristiane de “puta virgem” e mandado ela comer quieta.
“Os xingamentos mais graves começaram depois que amigas que estavam de lancha passaram para conhecer a ilha. Logo que elas foram embora, fui almoçar com Helcius, quando ele disse: ‘não sabia que as tuas amigas eram todas putas, a mais bonita já veio aqui com dez amigos meus diferentes. Pior você que é puta virgem não deixa ninguém te tocar, por isso é pobre’. Eu retruquei, me levantei e bati o prato na mesa, mas ele continuou”, desabafou Cristiane.
O caso foi registrado na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Angra dos Reis. Testemunhas estão sendo ouvidas e outras diligências estão em andamento para esclarecer os fatos.
O que diz a defesa de Helcius Pitanguy
Em nota enviada ao GLOBO, a defesa de Helcius Pitanguy afirmou que não foi informada sobre o registro policial por Cristiane Correa. Mesmo assim, o advogado Rafael De Piro declarou que Helcius nunca a destratou e que a psicóloga “parecia estar transtornada”.
“Amigos há mais de uma década, Helcius jamais a destratou, tendo-a recebido, e a seus convidados, no final de semana com alegria e cordialidade. Ao saber que Cristiane, após um desentendimento, havia saído irresponsavelmente de stand-up paddle da ilha em direção a outra ilha próxima, imediatamente solicitou a seus marinheiros Fabio Carneiro e Erasmo Carlos Alípio que fossem resgatá-la, levando-a com segurança até a cidade de Angra dos Reis, como era de sua vontade. Durante o percurso, Fabio e Erasmo foram a todo o tempo destratados, ofendidos e humilhados por Cristiane – que parecia estar transtornada.
O advogado também afirma queum procedimento criminal contra Cristiane Correa será aberto pelos marinheiros na Delegacia de Angra dos Reis, pelos crimes de injúria e ameaça. “Helcius, de igual forma, promoverá as medidas legais cabíveis contra Cristiane em razão das ofensas e falsas acusações lançadas contra ele”, diz a nota.