Por Debora Mendes de Oliveira

Que psicólogo nunca se esbarrou em uma dor parecida com a sua dentro de um consultório e se sentiu perdido, que atire a primeira pedra. Eu sei, psicólogo que é bom mesmo faz terapia para primeiro se tratar e aí ter condições de tratar o outro. Aliás, psicólogo bom, daqueles ótimos, não faz terapia apenas, ele está e sempre fará terapia, pois a cada paciente, em cada história existe a possibilidade da dor e da ferida do outro se esbarrar na sua.

Ultimamente tenho vivido isto na minha prática clínica. Às vezes ouço cada relato parecido com as minhas histórias que parece que elas não esbarram nas minhas dores, mas sim que cutucam, grudam nas minhas próprias feridas como se eu mesma estivesse me olhando no espelho.

Confesso que me sinto atraída por estas histórias (não que eu não seja atraída pelas outras que nada tem a ver com a minha história de vida), pelo simples fato de que sei ou pelo menos consigo imaginar o que a pessoa está sentido ou viveu. Sim, eu sei, não devo misturar as dores e histórias. Não o faço. E tão pouco divido as minhas dores com os pacientes. Minhas dores levo para minha terapia. Mas quando, me deparo com situações parecidas com as quais já vivi e com dores semelhantes que as minhas, isto me permite ver o paciente com outros olhos, o olhar de uma empatia mais profunda. Sei o que ele provavelmente está sentindo e sei como ajudá-lo. Combinação perfeita, você pensaria.

Mas então esbarro na minha própria dor, no meu próprio eu. Sei como ajudar e muitas vezes não consigo me ajudar. Quem nunca sentiu isto? O amigo vem te pedir um conselho amoroso e você o ajuda, mas quando olha para você, seus relacionamentos nunca duram. Te pedem conselhos financeiros e  o seu salário mal chega até o final do mês. Doce ironia!

Não há nada mais prazeroso do que ouvir de um paciente que ele melhorou por causa da terapia. Pode chamar de narcisismo. Aceito esta pedra. Mas não há nada mais difícil e conflituoso para o psicólogo, quando ele olha feliz para este paciente que se sentiu ajudado e você volta os olhos para dentro de si e se questiona: porque eu não consigo me ajudar também?

Acho que o ditado está certo: casa de ferreiro, espeto de pau. Ou talvez, seja apenas um capricho dos deuses a nos dizer: você irá ficar com esta ferida para sempre, para poder se lembrar de que também é humano, e não um semideus, afinal, psicólogo também é gente.

Debora Mendes de Oliveira

CRP: 06/123470. Psicóloga clínica (UNIP 2014), com ênfase psicanalítica, com experiência em atendimento voltado para abuso sexual, transtornos psiquiátricos tais como depressão e ansiedade, compulsão por internet e compulsão alimentar. Nas horas vagas é escritora por diversão.

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