Trabalho na clínica com adultos e com crianças, na escola e na clínica. A cada atendimento psicoterapêutico mais me convenço de que a psicoterapia Infantil, é de longe a mais desafiadora. Em geral o trabalho na escola objetiva a prevenção de problemas escolares ou na redução das dificuldades já instaladas na criança. Mas, de alguma forma esbarra em questões familiares.
Não tenho o menor constrangimento em dizer que a clínica com crianças é sem dúvida, um dos maiores desafios para o psicoterapeuta. Demanda profundo conhecimento teórico e prático. Teórico, pois, há que saber com profundidade a despeito do ser humano e suas formas de desenvolvimento, e teórico pois há um planejamento técnico não aleatório e dentro da racionalidade contextual visando extrair e auxiliar a criança ampliando seus recursos no uso da linguagem verbal, só assim teremos acesso ao seu universo infantil. Portanto, longe de ser fácil e só divertido.
De forma geral na escola, auxiliamos os professores desde a distribuição dos lugares aos alunos com mais dificuldades ao acompanhamento das aulas e observação dos alunos com mais comprometimentos, quer sejam cognitivos ou comportamentais. Normalmente os pais, responsáveis ou professores solicitam a intervenção quando identificam na criança algum comportamento não indicado e que os preocupam.
Nas crianças menores o mais comum é bater, morder, chutar ou empurrar as pessoas as quais se relacionam, destruir objetos, roubar ou mentir de forma contínua. Criança muito quietas, tímidas, tristes e com dificuldades para fazerem amigos, também despertam atenção. Um dado interessante é quanto a crianças rebeldes, inquietas, desobedientes ou que adoecem frequentemente, apresentem dificuldade de concentração e/ou aprendizagem também podem ser beneficiadas pelo acompanhamento da psicologia escolar.
A clínica com crianças, basicamente utiliza a linguagem lúdica mais intensamente que a linguagem verbal, onde os gestos se tornam mais importantes que as palavras e o olhar da criança traduzem a sua representação familiar, bem como a instituição e cultura em que está inserida.
Não é demais lembrar que muitas dificuldades apresentadas pelas crianças são manifestações dos desajustes e descompassos das relações adoecidas nas pessoas que as cercam e que consciente ou inconscientemente acabam por contribuir para a manutenção e agravamento das dificuldades apresentadas pelas crianças. Razão da importância de trazer a família para a compreensão e participação neste processo de interação psicoterapêutica.
É comum que a criança apresente inicialmente resistência no início dos tratamentos, muitos psicoterapeutas se desesperam nesta fase, achando que é complicado lidar com crianças ou que elas não se comunicam. Contudo, o equívoco neste argumento acaba por inviabilizar a continuidade, o acompanhamento e tratamento da criança.
Utilizar muita linguagem verbal é um dos sabotadores da eficácia psicoterapêutica na clínica infantil. Outro fator igualmente importante. Ignorar a implicação dos pais, responsáveis e até professores se for o caso.
A criança traz para a escola suas dores, suas tristezas. Seu estado psíquico refletirá diretamente em seu rendimento escolar. Assim como, demais acontecimentos em sua vida desencadeadores de angústia ou dificuldades, a exemplo: morte ou adoecimento de algum membro da família, a separação dos pais, o casamento de um dos pais, o nascimento de um irmão, a mudança de cidade ou escola, ter sido submetida ou exposta a algum tipo de violência, entre outros. Afetarão frontalmente a saúde emocional da criança, com reflexos nocivos em todos os âmbitos.
Em razão destas e tantas outras questões é fundamental a participação dos pais ou responsáveis para o bom andamento do trabalho psicoterapêutico. Pois um dos objetivos da clínica com criança é fornecer condições aos pais ou responsáveis de interagir e participar ativamente da vida da criança, com presença, apoio e compreensão. Estas relações familiares muitas vezes estão marcadas por: desobediências, birras, desentendimentos, discussões, punições, acarretando sofrimentos e ressentimentos em ambos, pais e filhos. Em algumas ocasiões observamos nos pais discursos de puro sentimento de culpa, arrependimento e insegurança quanto a educação de seus filhos. Muitos pais solicitam auxílio, mas no âmbito escolar questões familiares tão complexas não conseguem o alcance pretendido e necessário para a satisfação das necessidades da criança.
Desse modo, quando conseguimos alcançar estes pais e conduzi-los para os recursos clínicos da psicoterapia, o resultado é muito superior ao trabalho de acolhimento escolar.
Ainda que este último importantíssimo, tem suas limitações ao âmbito das necessidades escolares. Acompanhar o desempenho da criança na escola, mostra-se um exercício de observação, onde identificamos a problemática apresentada pela criança. Mas, é o primeiro passo de um longo processo de compreensão e orientação onde a participação dos pais será o divisor de águas para que a criança alcance suas potencialidades.
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