O médico Nelson Nisenbaun, especialista em clínica médica e psiquiatria clínica, contestou o laudo elaborado por médicos do Hospital Universitário de Brasília sobre o perfil psiquiátrico de Sandra Mara Fernandes, de 33 anos. De acordo com o documento, a comerciante apresenta sinais de “transtorno afetivo bipolar em fase maníaca psicótica”.
A mulher foi flagrada pelo marido, o personal trainer Eduardo Alves de Sousa, de 31 anos, enquanto mantinha relações íntimas com o sem-teto Givaldo Alves de Souza, de 48 anos, dentro do próprio carro, em Planaltina (DF). Givaldo foi agredido por Eduardo.
Nisenbaun, que ouviu um áudio no qual Sandra contou sua versão da história, diz que não concorda com o diagnóstico dos médicos.
“As características me levam a acreditar que são mais compatíveis e apontam para o grupo das esquizofrenias, em uma de suas formas mais clássicas. Ou, então, um transtorno psicótico breve, com características esquizofrênicas”, defendeu o psiquiatra.
“O que posso afirmar, com certeza, é que a mulher que fala na gravação que ouvi não é bipolar”, pontuou o médico.
“Ela mostrou um padrão desorganizado, confuso e disperso de narrativa. Um relato exagerado e tangenciando os fatos com coisas não relevantes. Apresentou uma riqueza de detalhes sobre o que não tinha relação com o fato principal”, observou Nisenbaun.
O psiquiatra ainda destacou peculiaridades: “Durante toda a narrativa, ela falou com voz monotônica, ou seja, com o mesmo ritmo e a mesma qualidade emocional. Apresentou uma dissociação afetiva entre o discurso e a emocionalidade. É como se ela contasse da mesma forma, sem emoção, sobre um almoço de família e um encontro com Deus”, explicou o especialista
Ainda segundo o profissional, Sandra apresentou ideias delirantes. ” [Ela] Afirmou que tinha o poder de cura, que fez o sem-teto parar de fumar, apenas tirando o cigarro da mão dele, por intervenção divina”.
Nisenbaun observou ainda que Sandra demonstrou ter personalidade muito fraca. “Seu ego é frágil e fragmentado, atribuindo à terceira pessoa a capacidade de mudar seu próprio pensamento”, relatou.
O psiquiatra destacou outro fator que corrobora sua conclusão. “Ela está na faixa etária em que, geralmente, aparece a doença e as formas mais leves da esquizofrenia, às vezes, não são percebidas”
Nisenbaun elencou os traços característicos da bipolaridade, que, de acordo com ele, diferem dos apresentados pela comerciante.
“É um transtorno mental que, na fase de surto, é bem difícil, pois apresenta flutuações ou oscilações periódicas no nível de humor. Em determinados momentos, a pessoa pode apresentar um quadro de depressão profunda, que, frequentemente, faz com que a pessoa tire a própria vida”, explicou.
De acordo com o médico, em outros momentos, o paciente experimenta um up em níveis psicóticos, com desconexão da realidade, aumento exponencial do ego. É quando se sente poderoso e perde a censura, ou seja, faz o que, normalmente, as pessoas não fazem.
“Na fase maníaca, a pessoa gasta mais dinheiro do que deveria, prejudicando sua atividade financeira, além de demonstrar delírios de grandeza”, contou.
Mesmo que o paciente, em alguns casos, apresente traços de hipersexualidade, Nisenbaun descartou o diagnóstico de bipolaridade para Sandra. Segundo o especialista, essas características são próprias do transtorno bipolar tipo 1, que antes era chamado de psicose maníaco-depressiva.
Há ainda o tipo 2, que envolve um espectro muito amplo de padrões que, frequentemente, pode escapar do diagnóstico por ser menos grave.
“Por isso, o mais importante é o diagnóstico, pois sem ele não há condições de tratamento. No tipo 1, o tratamento é feito com o que chamamos de estabilizadores de humor, sendo o lítio a principal substância. No tipo 2, são usados outros agentes”, acrescentou.
“Calcula-se que a doença atinge entre 3 e 4% da população e há um componente genético. Porém, quem adere ao tratamento melhora muito e leva uma vida próxima do normal”, finalizou Nisenbaun.
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de Revista Fórum.
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