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Qual é o seu nome e aonde ele te levará?

Você já parou para se perguntar qual seria o significado do seu nome?
Não importa qual seja o nome que você recebeu ao nascer, saiba que ele tem um significado que o acompanha há muito tempo. Muito provavelmente, o significado do seu nome possui uma história que, de certa forma, é a história dos valores, das crenças, das experiências e dos Mitos que formaram o povo no qual seu nome se originou.
Nomes possuem uma função muito clara na organização social humana: a de permitir que sejamos identificados. Nomes permitem que possamos diferenciar uma pessoa de outra sem precisar nos ocupar de descrever suas características físicas, local de moradia, etc. Já imaginou como seria chamar ou falar de alguém sem o recurso do nome? – Aquela com o cabelo castanho, que mora em Copacabana, que tem olhos grandes, que é irmã daquele que toca guitarra… E por aí vai. É por isso que os nomes em sua “gênese” descrevem características de comportamento, personalidade, origem social/geográfica, particularidades físicas, profissão, etc. Ou seja, a princípio fica claro que a função original do nome seria a de identificar uma pessoa baseando-se em alguma característica que lhe fosse particular, dela própria, de sua família, de seu grupo sociocultural/étnico etc.
Nomes como Natalino, Aparecida, Anunciação e Dolores, por exemplo, são oriundos dos eventos e personagens narrados pela história cristã. Outros nomes, apesar de terem se popularizado com o cristianismo, possuem origem ainda mais antiga. É o caso de Maria, que muitos etimologistas identificam como sendo de origem egípcia, forma na qual significaria “amada”. Paulo vem do Latim e significa “humilde”; assim como Marcos que deriva de Marte, o nome latino para o deus grego da guerra Ares. Pedro é um nome de origem grega que significa “pedra”, tal como ngelo cujo significado é “mensageiro”. David (amigo) e Ana (graça/alegria) são de origem hebraica.
A maioria dos nomes com os quais identificamos pessoas que encontramos todos os dias possuem significados tão antigos quanto surpreendentes. Monica é um nome de origem norte-africana/Fenícia e significa “conselheiro”. Erica, de origem anglo-saxônica, significa “nobre”. Carolina “homem livre” remonta às raízes da língua teutônica. Gisele “promessa” e “Leonardo “leão bravo” são de origem germânica. “Bruno é de origem galesa e significa “obscuro”. Débora (hebreu) e Melissa (grego) possuem o mesmo significado, “abelha”. Leila, de origem árabe, significa “noite”. Ciara, de origem irlandesa, significa “negro”, assim como Edna, que significa “semente, núcleo”. Thiago/Tiago é um nome especialmente comum nas línguas portuguesa, francesa e espanhola, mas é uma derivação do italiano Diego e do inglês James que, por sua vez, deriva do hebraico Jacó “vencedor”.
Os sobrenomes também não ficam atrás quanto ao que expressam e revelam muito da organização social dos povos nos quais se originaram. A principal categoria de sobrenomes na maioria das culturas humanas é aquela que identifica a conexão de uma pessoa com outro membro do grupo, geralmente o pai. Em inglês esses sobrenomes podem ser reconhecidos pela terminação “son” e pelos prefixos “Mc” e “O” (O’Reilly, O’Brian, McCarthur, MacDonald, Jackson, Stevenson, etc.). No italiano, português, francês e espanhol pelas terminações “o” e “i/im” (Bernardo, David, Bernardi, Zanoli, Afonso, Mariano, Bueno, Barreto, Sperandio, Amorim, Serafim, Martin, etc.). Nas línguas germânicas e em algumas latinas como italiano e francês pelos prefixos “al”, “fitz”, “di” e “de” e pelo sufixo “sen” (De Luca, D’Angelo, Di Francesco, Depaul, Fitzroy, Fitzgerald, Albrecht, Alzheimer, Ibsen, Magnussen, etc.).

Sobrenomes também podem indicar o local originário de uma família: em italiano (Montangna, Milani); em inglês (Wood, York); em francês (Dupont, Desmarais); em português (Coimbra, Alcântara); em alemão (Austerlitz, Bayer); em espanhol (Santiago, Rios); etc. Há também os sobrenomes que revelam a profissão do membro fundador de uma linhagem familiar: em alemão (Ackerman/fazendeiro, Schneider/costureiro); em francês (Fournier/padeiro, Lefrevre/ferreiro); em espanhol (Zapatero/sapateiro, Guerrero/soldado); em inglês (Cook/cozinheiro, Fisher/pescador). Curiosamente, na língua portuguesa são incomuns sobrenomes derivados de ocupações, o que oferece a oportunidade para se pensar sobre o valor atribuído às atividades laborais como elemento de identificação de indivíduos e famílias na sociedade luso-brasileira.
Como podemos ver, ao buscarmos o significado dos nomes constatamos que a nomeação de um indivíduo e de um grupo, seja por meio do prenome ou do sobrenome, está ligada aos mais diversos aspectos da vida cotidiana. Por isso, é válido pensar que entre os momentos decisivos na vida de uma pessoa está aquele em que ela é nomeada. A despeito do caráter simbólico dos nomes, de sua herança histórica e cultural, eles parecem ser muito mais do que rótulos arbitrários. Eles parecem captar e moldar a forma como o indivíduo se percebe e se define e, consequentemente, como o grupo pode vê-lo. Tanto é que achamos razoável alguém como eu, por exemplo, dizer “Eu sou Angelita”.
A presença ubíqua do nome em nossas vidas, contudo, não tem sido suficiente para suscitar um número considerável de estudos psicológicos que visem identificar sua influência na vida de uma pessoa. Levando-se em consideração o fato de que todos têm um nome, poucos estudiosos da área tentaram entender sua importância para a vida. Os que fizeram, obviamente, não nos levam a dizer que os nomes determinam o destino individual, mas afirmam ter encontrado indícios de que eles afetam nossas escolhas consciente e/ou inconscientemente. Um fato interessante sobre a importância do nome é que áreas do cérebro, que são acionadas por palavras que têm forte carga emocional para nós, são ativadas quando ouvimos alguém nos chamar.

Isso indica o predomínio da emoção quando percebemos que alguém se refere ao nosso nome! Esse caráter emocional do nome sobre nossas percepções e comportamentos foi demonstrado num estudo realizado em 2007 por Nelson Leif, da Universidade da California, e Joseph Simmons, da Universidade de Yale, no qual os pesquisadores concluíram que a inicial do nome de uma pessoa está correlacionada com o seu desempenho escolar e em outras áreas. Há também algumas evidências de que as iniciais dos nossos nomes nos influenciam em muitas das escolhas que fazemos, tais como os produtos e as carreiras que preferimos consumir e seguir, pelo menos é o que reporta um estudo de 2005 feito pelos psicólogos Gordon Hodson e james Olson, do Canadá.
Outros estudos, realizados em épocas diferentes, mostram que nomes incomuns ou raros tendem a associar-se às situações menos favoráveis. Em 1954, Albert Ellis e Robert Beechley encontraram correlação entre nomes estranhos e incidência de distúrbios psiquiátricos. Em 1993, David Kalist e Daniel Lee identificaram a existência de um maior índice de reprovação e, também, de avaliações mais baixas de pessoas com nomes incomuns feitas por juízes. Outros dados interessantes dizem respeito às diferenças entre os gêneros. Dados estatísticos apontam para o fato de que, em geral, os nomes das meninas são mais variados e os mais populares mudam muito mais rápido ao longo do tempo.

Do ponto de vista evolutivo, pode-se pensar que os pais buscam nomes mais atuais e diversificados para as meninas por sentirem que estes aumentam a atratividade de suas filhas, ajudando a construir uma imagem jovem e exótica para elas. Ao contrário, os pais tendem a escolher nomes mais comuns e com certo apelo histórico para os meninos, o que sinalizaria que seus filhos são maduros e estabelecidos, elementos que costumam ser percebidos como atraentes nos homens. Também são muito interessantes os resultados de pesquisas sobre nomes que abordam as questões relativas às diferenças entre grupos étnicos. Em 2004, um experimento feito nos EUA pelos pesquisadores Marianne Bertrand e Sendhil Mullainathan, da Universidade de Chicago, apurou que currículos com nomes tipicamente negros têm 33% menos respostas dos empregadores do que os com nomes que não revelam etnicidade.
Mesmo diante de todos esses indícios, ainda é prematuro alardear o impacto do nome sobre a vida de uma pessoa. Principalmente porque temos de levar em conta que o nome de uma criança é dado por seus pais, ou por outros adultos significativos em sua vida. Ou seja, os doadores do nome têm suas crenças e valores e, em geral, as escolhas que fazem ao nomear a criança refletem isso. De certa forma, é difícil diferenciar o que é influência do nome, da genética e do ambiente no qual a criança se desenvolveu.

As pessoas que criam uma criança dão a ela seus genes, o ambiente no qual ela cresce e o nome que a identificará por toda a vida. Pode-se dizer que a escolha desse nome geralmente reflete os pensamentos, as emoções e as atitudes de quem o escolheu. Logo, os doadores do nome também são a fonte da natureza e da criação que configurarão o “destino” daquele que recebe a nomeação. Só como ilustração: podemos pensar que tipo de pais daria a seu filho um nome étnico, um nome que define sua cor ou sua religião? Que tipo de ensinamentos sobre as relações entre os diferentes esses pais passariam aos seus filhos? De que forma esses pais vêm sua condição étnica? Porque sentem necessidade de expressar essa condição nos nomes dos seus filhos? Que perspectivas de carreira esses pais percebem estar associadas à sua condição?…
Melhor dizendo, talvez o destino de uma criança comece a ser construído na visão de mundo que os seus pais acalentam. E, além disso, pesa o fato de que a visão de mundo dos pais, assim como cada nome dado a uma criança, traz em si uma ancestralidade assentada numa cultura, ainda que esta seja um dado inexplorado do pensamento inconsciente. Psicologicamente falando, a herança simbólica abrigada na inconsciência dos pais pode influenciar suas crenças, atitudes e valores, elementos nos quais suas representações da realidade se organizam e dos quais emergirá o nome com o qual querem chamar o próprio filho. Assim, talvez o significado do nome que você recebeu ao nascer apenas reflita o lugar que os seus pais creem que você poderá vir a ocupar no mundo e na vida!

Angelita Corrêa Scardua

Psicóloga, Mestre e Doutoranda pela USP (SP). Especializada em Desenvolvimento de adultos, na experiência de Felicidade e nos estudos da Psicologia Social.

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