Confundiu amor com passividade e se perdeu. Entrou na fila da espera, ali ficou por meses, anos, perdeu o calendário. Esperava essas coisas simples das pessoas que amam, saudade e abraços, curtos ou longos, não importava. Queria fazer escolhas no supermercado, rindo porque ele se enganou em alguma marca. Os planejamentos poderiam ser simples, o jantar de hoje, o almoço do sábado, descobririam novos lugares como quem segue as trilhas de um mapa do tesouro, desbravariam os recantos do mundo pra falar das coisas que não pedem estudo, só simplicidade. Falariam das árvores em volta, daquele filme esquisito, da correspondência que não chegou.
Depois, envelheceriam, rindo da barriga que se avolumava e da rugas que pernoitavam, Reclamariam do calor e do frio, do pão cascudo, do sorvete que derreteu. Anos na fila de espera não percebeu que se perdera. Muito virou pouco e pouco virou muito. O riso, encabulado, se escondeu, não sabia reconhecer os sinais estranhos que foram ocupando os cômodos.
O céu clareava e escurecia, o relógio rodava e rodava, as flores nasciam e morriam, era muito tempo na fila. Aguardava a entrega onde havia desconfiança. Pagaria todas as suas viagens mas não poderia voar, era como terra cultivada sem plantação, CD rodando sem música, lâmpada sem luz, terra sem chão.
Na fila de espera confundiu amor com passividade. Esperou por tanto tempo que ficou sem pernas, não conseguia ir pra lá e nem pra cá, só esperar, sem mobilidade nenhuma. Chamou um beija-flor, pegou carona, foi voar, queria saber dessas coisas de sonhar. Deixou o medo numa dessas gavetas que nunca se abre, deu bom dia pro cansaço e foi buscar o seu céu, foi ser inteira onde tinha espaço.
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