Por Mariana Dantas
Se você é daqueles que prefere mentir para não magoar um amigo que passou horas na cozinha e sua a comida ficou horrível ou elogiar alguém que está mal vestido em uma festa, já que ele não tem como voltar para casa para trocar de roupa, não se preocupe. Apesar de estar longe de ser um “super sincero”, suas mentiras são as mesmas de grande parte da população do País.
“Nem sempre a mentira deve ser encarada como um problema. É preciso avaliar bem a situação. Mentir pode estar ligado a vários fatores, até mesmo a uma questão cultural. O brasileiro, por exemplo, tem o costume de mentir por um motivo banal para evitar aborrecer ou constranger alguém”, afirma o psiquiatra Hugo Couto.
A psicóloga Priscilla Silva também concorda que a mentira é algo comum na sociedade. “Eu diria que praticamente todos já mentiram em algum momento da vida e eventualmente mentirão em alguma outra ocasião, pelos mais diversos motivos. As chamadas ‘mentiras para convívio social’ ou como algumas pessoas falam ‘mentiras brancas’ seriam mentiras mais amenas”, explica.
A mentira só passa a ser considerada um problema quando o indivíduo começa a estabelecer as suas relações através dela, busca prejudicar alguém ou tirar algum tipo de vantagem da situação. Um dos casos mais conhecidos no Brasil foi o do estelionatário Marcelo Nascimento da Rocha, condenado à prisão depois aplicar vários golpes e fingir ser oficial do exército, músico, piloto de avião e até herdeiro da empresa de linhas aéreas Gol. Sua história foi contada no filme Vips, estrelado pelo ator Wagner Moura.
Os mentirosos famosos do Brasil e do mundo
Em 2012, a professora Maria Verônica afirmou que estava grávida de quadrigêmeos e usou um enchimento falso para simular a gravidez.
O estelionatário Marcelo Nascimento da Rocha foi preso depois aplicar vários golpes pelo Brasil. Sua vida virou filme (Vips)
O pintor Henri de Toulouse-Lautrec (sec. XX) foi um grande mentiroso. Seu defeito físico na perna deu origem a expressão “a mentira tem perna curta”
Falsificador de cheques, Frank Abagnale Jr. teve sua vida relatada no filme Prenda-me de for capaz, com Leonardo DiCaprio
O pai da libanesa Hasnah Mohamed Meselmani coloca cristais nos olhos da menina para fingir que ela “chorava as pedrinhas”
Victor Lustig vivia praticando golpes no início do século XX. Ele chegou a vender a Torre Eiffel (Paris/França) duas vezes.
Holandesa Zilla Van Den Born simulou uma viagem de mais de um mês no Facebook usando Photoshop alegando uma pesquisa acadêmica.
Outro caso de repercussão nacional foi o da falsa grávida de Taubaté (São Paulo). Em janeiro de 2012, a professora Maria Verônica afirmou que estava grávida de quadrigêmeos e usou um enchimento falso para simular a gestação. Com a história, muitas pessoas chegaram a fazer doações de fraldas e roupas para o enxoval dos bebês. A professora e o marido chegaram a ser processados na Justiça por estelionato, mas a acusação foi arquivada em dezembro de 2014.
“Para algumas pessoas a mentira tornar-se um recurso tão essencial para as suas vidas que não conseguem parar de mentir, mesmo com suas relações ameaçadas, pois com o tempo as pessoas podem começar a notar as falsas verdades. Podem passar a mentir continuamente até por coisas bobas como dizer que saiu para jantar em tal restaurante quando na verdade ficou em casa”, afirma a psicóloga Priscilla Silva. Segundo ela, caso esta situação esteja trazendo sofrimento a pessoa que mente compulsivamente e/ou as pessoas ao seu redor, é preciso lidar com as questões e conflitos internos. “A psicoterapia de base analítica é indicada, e junto a ela, a depender da singularidade do caso, um acompanhamento de um profissional da psiquiatria.”
TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE – O hábito de mentir compulsivamente é conhecido como mitomania e, segundo o psiquiatra Hugo Couto, esse comportamento geralmente está relacionado com algum tipo de transtorno de personalidade. “Existe o mentiroso consciente, que mente para obter um benefício específico. Ele é um antissocial porque não se preocupa com o sofrimento que pode provocar no outro. Há também aqueles que mentem sem a intenção de prejudicar um terceiro, mas pelo fato de não aceitar sua realidade. Em alguns casos passam a acreditar na própria mentira”, explica.
São vários os transtornos que podem ter como sintoma a mentira compulsiva. Uma pessoa que sofre de Transtorno Bipolar, por exemplo, quando apresenta um quadro de euforia e elevação do humor, é comum criar situações fantasiosas para impressionar alguém. Quem tem Síndrome de Münchhausen pode fingir ou causar em si mesmo lesões ou doenças, através da ingestão excessiva de medicamentos, para chamar a atenção dos profissionais de saúde. Já uma pessoa que sofre de dependência química, quando tem uma recaída e volta a usar drogas, costuma mentir como mecanismo de defesa.
“Não existe remédio para curar a mentira. Quando a mentira aparece como sintoma de um transtorno de personalidade esse, sim, deve ser tratado”, explica Hugo Couto.
TEXTO ORIGINAL DE UOL