Por Maris V. Botari
Qual o parâmetro que indica a eficácia da psicoterapia?
O artigo trata de todas as modalidades: a terapia individual, terapia de grupo, de casal, ou de crianças.
Quando alguém busca psicoterapia, geralmente o faz por sentir algum desconforto emocional (depressão, ansiedade, medo) e apresentar comportamentos excessivos ou deficitários, como por exemplo: comer demais, dormir pouco, dificuldades de concentração, sudorese, palpitações, etc.
Em tese, a psicoterapia que “funciona” seria aquela que possibilita a remissão destes sintomas. Mas como chegar a este fim?
Existem diversas abordagens psicológicas, como se fossem diversos caminhos para levar a um destino. Todas têm demonstrado eficácia científica, e todas têm evoluído e sofrido modificações ao longo dos anos. Sendo assim, não se pode dizer que a psicoterapia que “funciona” seja esta ou aquela abordagem, mas sim, aquela que leva o indivíduo a se sentir melhor consigo mesmo e com o seu meio social.
Porém, não estou autorizada a falar em nome de todas, já que utilizo a Cognitivo-comportamental e a Neuropsicologia. Deste modo, devo me limitar a tratar da eficácia da psicoterapia dentro destas visões. Mesmo seguindo este caminho, minha experiência clínica se renova a cada dia, pois não existem duas demandas iguais.
Os pacientes e o contexto muda a cada dia.
Aquele paciente que na semana passada tinha dúvidas sobre determinadas decisões, na sessão seguinte estava mais determinado; aquele outro que estava cheio de certezas, agora parece estar carregado de dúvidas e conflitos. Lágrimas se transformam em sorrisos e vice-versa a cada nova sessão. Novos sentimentos surgem de corações que eram (supostamente) áridos; a coragem parece brotar como flores que nasceram no asfalto; sentimentos inconfessáveis têm passagem livre dentro do consultório de psicoterapia; certezas absolutas dão lugar à dúvidas; e dúvidas dão lugar a novas dúvidas.
Pressupostos, preconceitos e paradigmas construídos ao longo de toda uma existência, são implodidos à medida em que o indivíduo entra em contato consigo mesmo e consegue compreender que é um indivíduo inteiro, cheio de vontades, desejos e tendências e deste modo pode criar novos pressupostos e paradigmas. Os preconceitos nem sempre desaparecem, mas ganham nova compreensão.
As crenças sobre si mesmo vão se modificando… as pessoas tendem a ampliar a compreensão acerca de si mesmas, trocando a frase “EU SOU”, por “EU ESTOU”.
Portanto, é comum que deixem de lado aquela visão de ser-doente, para adotar uma visão “UNDER CONSTRUCTION”, que se renova a cada dia.
Concluindo:
Quando a psicoterapia funciona, as pessoas tendem a modificar suas crenças, controlar seus comportamentos e pensar de maneira funcional e questionadora; Passam enxergar suas qualidades.
Desenvolvem a capacidade de reversibilidade adquirem coragem para enfrentar novos riscos;
Ampliam a capacidade de organização cognitiva e tendem a levar uma vida mais organizada, obedecendo o SEU CONCEITO de organização; Desenvolvem as habilidades sociais e tendem a cultivar relações sociais melhores, pois compreendem o que o outro está sentindo, minimizando as dificuldades de relacionamentos;
Não deixam de ter sentimentos ruins, mas compreendem o que eles significam.
Autorizam-se a mudar. Dão se ao luxo de mudar de opinião no momento em que bem entender, afinal, estão ampliando seu senso crítico;
Respeitam o outro, pois a necessidade de aceitação agora não é “Gênero de primeira necessidade”, portanto entendem quando o outro pensa diferente e não se sente ameaçado por isso.
Conseguem lidar com as Perdas, abandonos e solidão de forma madura. Na prática isto significa dar-se ao luxo de sentir saudade, de chorar e expressar seu sofrimento da forma que achar adequada, pois compreende que todo sofrimento um dia chega ao fim. Mas enquanto o fim não chega, ele não deve ser ignorado.
Não vive em busca de um “Sentido para a existência”, pois aprendeu que a vida deve ser vivida momento-a-momento, e não como uma novela. Entende que há uma explicação para tudo, mas não se importa se não descobrir qual é a verdadeira.
Supera-se a dependência afetiva, pois aprendeu que não devemos nos anular por amor; na verdade, o afeto serve para construir, para dar qualidade às relações e não para escravizar.
Aprendeu que o verdadeiro perdão é aquele que proporciona a serenidade, não o esquecimento.
Portanto, a psicoterapia que funciona não é milagrosa; é fruto de muita reflexão tanto da parte do terapeuta, quanto do paciente.
Apenas para pontuar. reflexão é diferente de crítica! Pense nisso.
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