Por Gema Coelho
Os erros são companheiros de vida inseparáveis, além de sábios mestres, sempre e quando nos empenhamos em aprender com eles. De acordo com a perspectiva que tomarmos, um erro pode ser uma oportunidade de sucesso, uma experiência de profundo sofrimento, ou um acontecimento a mais em nossas vidas.
A atitude diante dos nossos erros é o mais importante de tudo. O sofrimento derivado de cometer um erro pode exercer um grande poder sobre nós, sobretudo se somos exigentes. Porém, quem é o protagonista principal que faz com que a gente se sinta tão mal quando nos equivocamos? A seguir, o apresentaremos para você: o crítico interno.
Você se lembra daquela pequena voz que surge no seu interior e que se dedica a julgar como você age, pensa ou sente? Não tem um tom muito elevado, mas até mesmo em seu sussurro, os efeitos que podem causar na gente são surpreendentes. E apesar de não sermos capazes de ver sua aparência, tem pinta de não ser demasiadamente grande… mas do que temos certeza é de que as consequência de escutá-la podem ser devastadoras.
Pois bem, te apresentamos a esse personagem que habita nosso interior e que, em algumas pessoas, atua como o protagonista principal das suas vidas e, em outras, como ator secundário: seu nome é Crítico e seu sobrenome Interno, Crítico interno, já o conhecia?
“Não deveria ter dito isso”, “Não vão me dar esse trabalho porque não tenho as habilidades necessárias”, “Nada dá certo pra mim”, “Sou um desastre, desse jeito ninguém vai querer ficar comigo”, são apenas alguns exemplos do que o nosso Crítico Interno diz pra gente.
Essa pequena voz à qual costumamos dar poder pode chegar a complicar nossa saúde emocional se não encontrarmos nenhum remédio. Para ela, nunca há nada suficientemente bem feito, ainda que tenhamos colocado todo o nosso esforço nisso. Só sabe estar alerta para nos avisar que desviamos daquilo que interiorizamos como certo.
Se tivéssemos que dar uma forma para ela, seria como um monstro com os olhos grandes que coloca uma cara ameaçadora cada vez que não fazemos o que considera certo ou que cometemos um erro, indutor da culpa e mestre da exigência. Que má companhia, não é mesmo?
Essa pequena voz surge de experiências passadas relacionadas com nossa educação ou com situações dolorosas que vivemos ou presenciamos para nos alertar que continuamos não fazendo as coisas corretamente. Normalmente são críticas que interiorizamos e que transformamos em um padrão habitual de pensamentos.
Nos ensinaram o valor da exigência, do esforço e do compromisso, mas se esqueceram de nos avisar que nem tudo pode ser perfeito. O mundo não é branco ou preto: está cheio de cinza, e devemos tomar consciência disso. A busca pela perfeição nos torna insistentes, mas ao mesmo tempo ansiosos e estressados, imersos em culpa e frustração se não conseguimos o que queremos.
Para o crítico interno só existe um modo “correto”, e se desviarmos dele, voltaremos a sofrer. No fundo, sua intenção não é ruim, procurar nos proteger das críticas, rejeições, vergonhas e condenações. O problema se encontra na sua falta de flexibilidade e na sua forma de comunicar-se através do medo, da ameaça e do desprezo.
Além disso, quanto mais credibilidade damos a ele, mais poder ele terá sobre nós, transformando-se em nossa forma de pensar habitual.
Como vimos, nosso crítico interno irá surgir como um lembrete quando nos equivocamos, desprezando-nos e culpabilizando-nos. Sua aparição dependerá de como a gente se sente, aparecendo nos momentos nos quais estamos mais vulneráveis, distorcendo a realidade e atacando nossa autoestima.
Até agora, aprendemos que ele manda e nós obedecemos, sem questioná-lo. Fazemos papel de carrascos e vítimas ao mesmo tempo. Mas, se não colocarmos limites, isso acabará nos destruindo. O que podemos fazer?
Em primeiro lugar, tenha em mente que o crítico interno foi crescendo com você e se instalou como sua forma de pensar. Por isso, você tem que identificá-lo para guiá-lo de maneira consciente e colocando os devidos limites. Você até pode imaginar como é falar com ele quando ele aparecer.
Em vez de dar-lhe credibilidade, questione-o, mas tratando-o com empatia e respeito. Sua forma de se relacionar com você foi definida através da crítica porque é a única coisa que lhe ensinaram, mas isso não impede que você mostre que há mais formas de fazer as coisas. Deixe-o saber que existe a flexibilidade além da rigidez, que existem muitas maneiras de interpretar o que acontece conosco.
Ensine que quando você comete um erro, a crítica o machuca, e que, a partir de agora, ser gentil se transformou na prioridade para sua saúde emocional.
TEXTO ORIGINAL DE A MENTE É MARAVILHOSA
Imagem de capa: Shutterstock/Brian A Jackson
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