Sob o tom descontraído de uma brincadeira, Michelle Fernanda Luckesi, de 30 anos, usou as redes sociais para lançar uma mensagem clara e direta: “Se o Faustão é rico por conseguir um transplante em alguns dias, eu sou milionária”. A intenção por trás da publicação era desmistificar os boatos que circularam recentemente, alegando que Fausto Silva, 73 anos, teria furado a fila de transplantes de órgãos graças à sua fama e recursos financeiros.
Michelle, residente em São Paulo, enfrentou o diagnóstico de hepatite autoimune, uma condição que afetou a função hepática e reverberou por outros sistemas do corpo. Em estado crítico, ela encontrou um doador compatível em meras 24 horas.
Recordando sua experiência, Michelle compartilhou que seu transplante ocorreu quando ela tinha apenas 18 anos, em um período em que sua vida era típica de uma jovem da sua idade. “Eu era completamente saudável, não ficava nem gripada”, recorda ela em entrevista ao UOL Viva Bem.
Entretanto, sua trajetória mudou drasticamente. Michelle, hoje aposentada por invalidez, narra como um dia despertou com dores de cabeça e náuseas. Logo, manchas avermelhadas emergiram em sua pele, acompanhadas de febre. Ao buscar ajuda médica, a equipe inicialmente suspeitou de dengue, instruindo-a a retornar caso os sintomas não desaparecessem em três dias.
“Os sintomas não melhoravam e eu me sentia cada vez pior. Dois dias depois, procurei outro pronto-atendimento e também não chegaram a nenhum diagnóstico. No outro dia, eu já estava muito fraca. Foi quando minha mãe me levou a outro hospital e lá decidiram me internar”, relata Michelle.
Apesar de diversos exames, os médicos não conseguiram chegar a um diagnóstico concreto. Em pouco tempo, ela entrou em coma e foi transferida para a UTI devido ao colapso de seu fígado e ao comprometimento de outros órgãos vitais. “Meu estado se agravou muito rápido e descobriram que meu fígado entrou em falência, e outros órgãos já estavam sendo prejudicados. Eu estava em estado gravíssimo.”, recorda a jovem.
Diante da gravidade, os médicos conduziram exames para avaliar sua atividade cerebral. Com resultados positivos, ela recebeu prioridade máxima na lista de transplante de fígado devido à urgência. “Os médicos falaram que eu só resistiria mais 48 horas sem um novo órgão. No dia seguinte, apenas 24h após entrar na fila, um fígado apareceu e eu pude fazer o transplante”, relembra ela.
Ao se deparar com informações falsas e noções equivocadas sobre supostos privilégios de Faustão ao garantir um novo coração após apenas 19 dias de espera, Michelle enfatiza a necessidade de compreender o Sistema Nacional de Transplantes e encorajar a doação de órgãos.
“Eu vi muitas pessoas escrevendo coisas absurdas sobre ‘furar fila’. Entendo a revolta, é angustiante viver sofrendo com uma doença grave. Mas não concordo com o que dizem. Existem muitos meios de informações sobre a lista de espera. Já existem muitos mitos que atrapalham a doação e consequentemente a fila não anda. O que falta é doador. Em vez de espalhar coisas ruins, espalhem sobre a importância da doação de órgãos.”
A lista de transplantes do Sistema Único de Saúde (SUS) não considera a situação financeira do paciente, sua notoriedade ou o hospital onde está internado. Ela é organizada com base na ordem de inscrição, priorizando crianças.
A gravidade do caso também é levada em conta, como demonstrado pelo uso de medicamentos para estimular a função cardíaca, indicando maior urgência.
A compatibilidade entre paciente e doador também influencia o tempo de espera.
Devido à logística, as listas de espera são regionalizadas, evitando longas distâncias no transporte de órgãos.
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