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Quem é você quando não está exercendo um papel?

Certamente você já conheceu alguém que se disse insatisfeito com a sua própria vida e sem entender o porquê, afinal não é incomum encontramos pessoas que nos dizem eu tenho um casamento bacana, sou mãe, sou profissional, sou dona de casa, sou avó, sou uma filha, mas sinto um vazio, uma tristeza, uma frustração.
Certamente essa pessoa seguiu o script dos papeis, mas se esqueceu que a vida não se resume aos nossos scripts. Quando alguém me conta uma história semelhante me vem à cabeça a pergunta:
Quem é você quando não está exercendo um papel? Essa seria a pergunta a se fazer.
Os papéis sociais são formas de se comportar previamente definidas que desempenhamos ao longo da vida e estão relacionados com determinadas funções e expectativas de como devemos agir dentro do nosso meio social.
Logo que nascemos recebemos os nossos primeiros papéis dentro da família, somos filhos, netos, sobrinhos de alguém e então vamos crescendo e nossos papéis vão aumentando a cada etapa da nossa vida. Passamos a ser amigos, namorados . Ao nos tornarmos adultos adquirimos o nosso papel profissional (sou médico, professor, etc) alguns tornam-se ainda pai, mãe, esposa, marido e etc.
Todos nós exercemos ao longo da vida diversos papéis e isso é natural, porém é importante dizer que os papéis que desempenhamos não representam quem nós somos verdadeiramente, muito pelo contrário às vezes uma pessoa se fixa em determinado papel porque ele lhe dá segurança, uma vez que dentro deste papel temos noções “claras” do que os outros esperam de nós, dentro dos papéis sabemos que temos certas funções a cumprir, temos uma espécie de roteiro, claro que esse roteiro é influenciado pela família e pelas suas crenças pessoais. No entanto tenho percebido que algumas pessoas se prendem aos papéis para não lidar com seu “eu” é como se elas não existissem sem os papéis que executam, daí esse sentimento de vazio, de não ser, de não existir como ser no mundo.
A verdade é que o papel que você exerce seja ele qual for não é o que lhe define, no entanto é muito comum ao pedir para uma pessoa se apresentar ela não saber dizer quem é, e então ela primeiro diz seu nome e seus papéis ex: sou a mãe do fulano, a filha do beltrano, trabalho com tal coisa, embora os nossos papéis situem a nós e aos outros porque nos dá uma sensação de “identidade, “O NOSSO PAPEL NÃO É AQUILO QUE SOMOS”. Daí o sentimento de insatisfação; quem somos nós fora dos papéis que exercemos diariamente?
A resposta seria algo assim… somos aquilo que sentimos, aquilo que desejamos, aquilo que gostamos ou não gostamos, esse é nosso “eu”, é isso que vai definir entre outras coisas a nossa identidade.

Existem pessoas, no entanto que nunca encontraram seu “eu” elas se aprisionaram aos papéis e consequentemente a tudo que se espera delas e neste caso ficam completamente perdidas na ausência de seu papel. Um exemplo claro disso é uma mulher que associou que a sua identidade era ser mãe e esqueceu de quem ela era e até de outros papéis e áreas de sua vida, esta pode sentir se extremamente perdida quando os filhos crescem e saem de casa, pois neste caso a sensação é de que ela perdeu a sua identidade ,porque ela atribuiu um papel a identidade de sua vida.
As pessoas presas aos papéis sabem exercê-los com maestria, elas sabem ser pais, mães, filhas, esposas, namoradas, mas não sabem “ser elas mesmas” e é isso que as angustia, esse distanciamento de quem eu sou além dos papéis que executo todos os dias.
Os efeitos de atribuir a um papel a sua identidade é que na ausência desse papel a frustração pode ser devastadora. Outro efeito é fazer de tudo para manter um papel mesmo que isso lhe cause problemas, quem de nós não conhecemos aquela pessoa que trabalha excessivamente mas não tem nada além do seu papel profissional, imagine como seria o vazio se essa pessoa perdesse o trabalho ou se aposentasse, ou uma pessoa que dedica-se exclusivamente ao papel de esposa/ marido em detrimento de quem ela é, ao romper esse relacionamento ela se sentiria desnorteada, pois viria a tona a angústia do não ser , que seria constatar que ela não é nada além dos papéis que exerce.
Algumas pessoas submetem -se até mesmo a abusos em suas relações pessoais e profissionais para não perder os papéis neste caso é preciso buscar ajuda.
Escrevi esse texto para refletirmos quem somos nós de verdade? Muitos de nós existimos, mas não chegamos a “ser” porque ficamos alheios a nós buscando apenas corresponder a papéis. Espero que possamos refletir que os papéis são importantes na vida e servem para nos dar referências e não para definir nossas identidades completamente .
Por fim Eu te convido a refletir quem você é de verdade quando não está exercendo seu papel? Você se conhece? Quais seus gostos, desejos, sonhos pessoais? Será que você precisa se apegar tanto aos papéis pra dizer quem você é?

Tamara Melo

Possui especialização em Dependência Química pela UNIFESP e Aprimoramento em Dependência Química pelo Centro de Referência de Álcool Tabaco e Outras Drogas. Realiza atendimento adulto e infantil em consultório particular, voltados para dificuldades emocionais e de relacionamento, além dos mais diversos transtornos. Como Psicóloga acredita que todo ser humano carrega dentro de si a capacidade de transformar a sua história, se puder dar sentido a ela. Tem como seu objetivo ajudar as pessoas a encontrar maior equilíbrio emocional para viver melhor. CRP:06/124176

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