“Quem inventou o amor? Me explica, por favor”. Legião Urbana sabiamente cantou essa música sabendo que, explicar, quer dizer, entender o amor não é tarefa fácil nem nunca será. Costumo brincar que o amor não precisa ser explicado, apenas sentido. Mas quando esse sentimento invade nossas vidas e nos arrebata de forma a nos tirar do eixo, precisamos compreendê-lo para realinhar a nossa órbita.
Quando ouvi pela primeira vez o que Gibran escreveu sobre o amor, eu achei muito forte e intenso suas palavras. Mas a simbologia utilizada fora tão marcante para mim que até hoje não consigo encontrar outro conceito que o explique melhor: “quando o amor vos chamar, segui-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados; e quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe, embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos; e quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim. Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa poda… Todavia, se no vosso amor, procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor, então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonásseis a eira do amor, para entrar num mundo sem estações, onde rireis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas… O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio. O amor não possui, nem se deixa possuir. Pois o amor basta-se a si mesmo… E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso. O amor não tem outro desejo senão o de atingir a sua plenitude.” ¹
Eu gastaria horas discorrendo ou exemplificando frase por frase que Gibran escreveu, mas acredito que estão tão claras suas palavras que ficaria chato e repetitivo. Entretanto, tem uma parte que gostaria de dar uma ênfase: “E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso.” Sem dúvida, isso é o que mais assusta do amor em nós. Não nos assusta o sentimento em si, o que tememos é a falta de controle sobre o amor – sobre a pessoa amada. Aí moram todos os perigos que aceira a loucura e a sanidade, o desespero e a doença.
Quero citar aqui o texto que acredito ser o mais conhecido da bíblia, que fala do Amor. Carta de Paulo aos Coríntios [1 Coríntios 13] “… O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta…“.²
Apesar de abrir uma ferida de morte ao ler tais palavras, acredito em todas elas. Não quero classificar o amor segundo nenhuma linguagem ou conceitos metafísicos de Arthur Schopenhauer, tão pouco falo de amor de mãe, de filho, de amigo, de amante – Amor é amor e ponto. Sem vírgulas, sem reticências, sem eteceteras. Costumava brigar com um amigo dizendo que amor de mãe é o único amor incondicional, mas hoje acredito que todo amor é incondicional, pois quando as condições começam a interferir, receio que talvez não seja mais amor. Qualquer coisa diferente [ou contrário] do que disse Paulo e Gibran, acredito que esteja mais próximo do egoísmo. O ciúmes, a inveja, o sentimento de posse, nada têm a ver com o amor, são se não, a mais pura demonstração de narcisismo e síndrome do umbigo.
Contudo, acredito que o amor só possa realizar-se em sua plenitude em pessoas inteiras. Acho bonito o termo “cara metade”, mas só vale para metáfora mesmo. Na prática, nenhuma pessoa “pela metade” será capaz de amar o outro ou de fazê-lo feliz. A pessoa, antes de qualquer coisa, precisa estar inteira para conseguir amar. Entretanto, nada impede que ela possa ser amada e, que talvez, o amor possa curá-la e transformá-la em uma pessoa inteira [novamente]. Se encontrar alguém assim pelo caminho, não hesite: Dê amor!
Raul Seixas dizia que “ninguém neste mundo é feliz tendo amado uma vez”. Eu discordo totalmente. Infelizes são as pessoas que nunca amaram nesta vida. Prefiro muito mais a frase “amar é permitir que alguém possa te destruir e confiar que isso não vai acontecer”. Amor é prova de fé, de coragem, a melhor parte de Deus em nós.
E que depois de ter amado não sobre se não a vontade de seguir amando, “porque o amor não sabe aquietar, por isso não pode dormir. Talvez adormecerão os sentidos; mas o amor sempre vela, porque sempre lhe faz sentinela o coração… Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho… A razão natural de toda esta diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar é causa de não amar e o ter amado muito, de amar menos”, Padre Antonio Vieira.³
Enfim, o amor não tem medidas, não há métricas no coração de quem o sente. Concordo com Engenheiros do Havaí “A medida de amar é amar sem medida, velocidade máxima permitida”. Então, avance os sinais, pisa fundo no acelerador, sinta a emoção de cruzar a linha de chegada, somente tome cuidado para não atropelar corações perdidos pelo caminho. Afinal, tudo que se sabe é que não se pode procrastinar o amor, então quando o amor chegar, viva-o – se entrega – se joga. E se alguém te falar “o amor te leva às alturas, mas não te oferece paraquedas”, você poderá dizer: Tudo bem, eu sempre quis aprender a voar!
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