Por Hara Stroff Marano
O poder está para os seres humanos como a água está para os peixes. Ele é o meio em que nadamos e, em geral, sequer o percebemos.
Ele é uma força básica de todas as interações sociais. Mais do que isso: o poder define o modo como nos relacionamos. E chega a determinar se você será ouvido, se suas necessidades receberão prioridade ou se serão totalmente ignoradas. E isso não está restrito ao ambiente de trabalho ou ao atendimento prestado no balcão da padaria da esquina. BetWinner entrar aproveite sua chance.
Muito pelo contrário: nas nossas relações mais íntimas, o poder é bastante relevante para determinar a nossa felicidade a dois — ou infelicidade, dependendo do peso com que ele é empregado. O problema para os casais é que o poder, da maneira como costuma ser exercido, representa uma barreira à intimidade. Ele prejudica a sensibilidade ao parceiro e impede a conectividade emocional.
O conflito por determinar “quem manda” em um relacionamento foi, por muito tempo, a tônica capaz de manter unidos muitos casais no decorrer da história, tal como uma lei física possibilita que planetas ou partículas se atraiam entre si. Mas correntes de pensamento recentes indicam que as relações afetivas tendem a dar mais certo quando a gangorra não pende muito para um lado nem para o outro. A igualdade não é apenas ideologicamente desejável, ela tem consequências práticas enormes. Ela afeta o bem-estar dos indivíduos e do relacionamento e promove harmonia e sensibilidade mútuas.
“A capacidade dos casais de resistir ao estresse, reagir a mudanças e reforçar a saúde e o bem-estar do parceiro depende de terem um equilíbrio de poder relativamente igualitário”, afirma Carmen Knudson-Martin, diretora do programa de Terapia Conjugal e Familiar da Universidadede Loma Linda, na Califórnia. Nos relacionamentos recentes, com homens e mulheres galgando posições sociais semelhantes, a igualdade é o melhor antídoto contra o isolamento, concordam os psicólogos. Mas ela tem sido algo difícil de conquistar e preservar.
SEJA INFLUENTE
A intensificação do individualismo e o desenvolvimento do casamento por amor, fenômenos ultrarrecentes na história, concentraram a intimidade na vida a dois. Até o século 20, explica a historiadora social Stephanie Coontz, do EvergreenStateCollege de Olympia, Washington, a intimidade era dispersada entre amplos círculos sociais e familiares: mães e filhos, irmãos e primos. Hoje, os círculos de intimidade se reduziram.“Tiramos todos os sentimentos especiais e expectativas de outros relacionamentos e os colocamos na relação do casal” , afirma Coontz. Isso deu um peso maior às relações afetivas.
“A intimidade se baseia em duas pessoas que têm a capacidade de ouvir e de falar, que têm a coragem de trazer cada vez mais de suas personalidades como um todo para o relacionamento”, afirma a psicóloga Harriet Lerner. “Ambos precisam de poder igual para definir o que querem e o que realmente pensam e acreditam. Se você realmente crê que não pode sobreviver sem uma relação, você não tem poder para ser você mesmo nela”, diz.
Muitas vezes, um parceiro entrega muito de si, e suas prioridades e valores fundamentais acabam comprometidos sob as pressões do relacionamento; uma pessoa cede mais do que deveria ou prioriza demais os objetivos da outra. “Historicamente, essa pessoa sempre foi a mulher”, conta Lerner. “Mas vejo isso acontecer mais nos dois sentidos hoje em dia, com as mulheres mais economicamente independentes. É preciso coragem para agir em prol de si mesmo”, afirma.
Segundo Lerner, o que acontece é que as pessoas vão cedendo e cedendo, começam a se ressentir e então desistem do relacionamento quando deveriam ter retomado seu poder muito mais cedo. “Elas precisam dizer bem antes: ‘Não quero que você me trate assim e não vou participar da conversa quando falar comigo desse jeito’.” Como a intimidade é mais importante do que nunca, a igualdade no relacionamento também se tornou mais necessária do que nunca.
Muitas pessoas associam o poder à manipulação e à coerção, mas os psicólogos e filósofos contemporâneos criaram um novo paradigma para analisá-lo: eles veem o poder como a capacidade de um indivíduo de influenciar os estados alheios e até de avançar os objetivos alheios enquanto desenvolve seu eu como um todo. “Se a mulher é tão influente quanto seu parceiro, então a relação é duradoura”, afirma John Gottman, professor emérito de psicologia da Universidade de Washington e diretor do Relationship Research Institute de Seattle.
Mas se ele é muito mais influente do que ela, a relação não dura. Para o decano de pesquisas de relacionamentos, um “processo de influência interligado” está no âmago do equilíbrio de poder. “O fundamental é sua capacidade de reagir às emoções de seu parceiro. Se tem poder na relação,você afeta seu parceiro com suas emoções. É um bom sinal para a estabilidade de longo prazo do relacionamento e a felicidade dos parceiros. Mas algumas pessoas têm uma inércia emocional muito alta; elas pesam muito, emocionalmente.”
Para Gottman, a sensibilidade ao parceiro é o que faz com que a relação pareça justa. O trabalho doméstico e os deveres com filhos nem mesmo precisam ser divididos meio a meio. “A relação necessita somente parecer justa. E isso exige flexibilidade e sensibilidade às emoções”, diz. Estar atento ao que agrada ou incomoda o outro.
A justiça pressupõe um elemento crítico, explica Pepper Schwartz, socióloga da Universidade de Washington: o respeito. Em entrevistas com milhares de casais, ela descobriu que a definição de um bom relacionamento é “melhor amigo”. “Os melhores amigos são igualitários, e o que mais caracteriza uma boa amizade é o respeito”, diz.
No casamento, Schwartz acrescenta, o respeito se aplica à divisão do trabalho, à tomada de decisão conjunta e especialmente à licença para se manifestar. “Por que limpar vasos sanitários serve apenas para mim e não para você? Certo, eu limpo os vasos e você limpa o cocô do cachorro, assim nós dois sabemos que temos trabalhos sujos que realizamos em prol do bem-estar coletivo da relação.” Não existe uma única medida objetiva de justiça. As pessoas podem aceitar uma divisão desigual do trabalho, desde que se sintam valorizadas, não desprezadas. “Injustiça nem sempre significa infelicidade igual”, ela diz.
UNIÃO PELA IGUALDADE
Sem parar muito para pensar, os casais adotam sem perceber padrões baseados na sociedade que favorecem as necessidades e desejos dos homens de maneiras que parecem inquestionáveis, um machismo arraigado. Em 200 anos, estima John Gottman, “os relacionamentos heterossexuais estarão no mesmo ponto de maturidade igualitária em que os relacionamentos de gays e lésbicas estão hoje”. É bastante tempo para esperar por uma mudança, mas reflete os achados de que as interações entre casais são muito mais diretas e carinhosas entre parceiros do mesmo sexo do que as lutas pelo poder que emergem entre os heterossexuais.
Em vez de depender da distribuição cultural dos papéis de gênero, gays e lésbicas precisam inventar suas próprias maneiras de dividir o trabalho e as decisões. Ter que decidir ativamente quem faz o que leva a uma maior conscientização sobre justiça e igualdade, mesmo depois da chegada dos filhos. Os parceiros do mesmo sexo fazem menos acusações e usam mais humor quando discordam.
“Há menos beligerância, menos dominação, menos medo e menos reclamação”, afirma Gottman no JournalofHomosexuality. Os casais heterossexuais podem ter muito a aprender com as relações homossexuais: a equidade é uma preocupação muito mais importante nos relacionamentos gays, e os parceiros se comportam de acordo com suas preocupações. Todas as relações poderiam se beneficiar ao reconhecerem que o amor e o poder, desde sempre considerados matéria e antimatéria no campo emocional, são, na verdade, forças convergentes.
“Há uma crença de que para ser amado você precisa abandonar o poder e vice-versa”, conta Adam Kahane, autor de Power and Love (Poder e Amor). “Então você escolhe um parceiro que cumpre a função que estava ausente.”
Na verdade, quando expressados separadamente, ele argumenta, o poder e o amor se degeneram. A falta de amor transforma o poder em interesse próprio irrestrito, enquanto a falta de poder torna o amor sentimental e romântico, exigindo a fusão e a perda de identidade. Uma relação saudável é dois e um ao mesmo tempo. O amor permite que os parceiros se realizem individualmente, mas esse crescimento também lhes dá a força para manter sua unidade. Poder, ele explica, não significa dominar os outros, mas a ânsia de se realizar. “Nada no mundo aconteceria sem poder. Ele é a força vital. O amor permite o poder.”
10 MANDAMENTOS DA IGUALDADE
O que ambos devem fazer para uma boa relação, segundo estudiosos
ATENÇÃO > Estar emocionalmente atento ao outro. Sempre escutar o que o parceiro tem a dizer e sentir-se ouvido.
INFLUÊNCIA > Responder às necessidades do outro e a seus pedidos de atenção, conversa e conexão. Ter a capacidade de afetar emocionalmente o parceiro.
CONCILIAMENTO > Fazer com que ambos influenciem a relação e possam tomar todas as atitudes juntas, buscando um comum acordo.
RESPEITO > Possuir uma consideração positiva pelo outro e enxergá-lo como admirável e merecedor, estimulando uma relação colaborativa e atenciosa.
INDIVIDUALIDADE > Manter uma personalidade própria. Conseguir ser você mesmo, com limites que refletem seus valores pessoais.
STATUS > Dar espaço para que ambos tenham direito de expressar suas necessidades e objetivos para o relacionamento.
VULNERABILIDADE > Estar disposto a admitir fraquezas, incertezas e enganos.
JUSTIÇA > Dividir deveres e responsabilidades de maneira que apoie o bem-estar individual e coletivo do parceiro.
REPARO > Esforçar-se conscientemente para esfriar as discussões e acalmar o outro, fazendo pausas e pedindo desculpas.
BEM-ESTAR > Promover sempre o bem-estar físico, emocional e financeiro do companheiro.
Imagem de capa: Shutterstock/Sanoma-tata