Um dos elementos mais importantes da nossa cultura é a mídia. Através dela nós nos enxergamos e somos enxergados pelo os outros, sendo desta forma um elemento importante na construção de nossas identidades. Os jornais são feitos de narrativas sobre a vida real que podem mudar drasticamente como um fato é percebido.
Quando ocorrem massacres como o de Suzano, o jornalismo tem o poder de tornar épica a trajetória de um assassino. É claro que nem sempre isso é feito de maneira consciente, eu imagino que poucas vezes seja, porém o fascínio inconsciente também serve de combustível às insanidades.
Os comunicadores podem escolher o ponto de vista do assassino e torná-lo personagem principal de suas narrativas. Descreverem suas rotas, falar dos planos em detalhes, narrar cada procedimento como se fossem eles a inteligência a ser exaltada. Eu, aqui, escolho por um momento outro caminho.
Silmara Cristina é merendeira. Ela domina os utensílios da cozinha e sabe como fazer o lanche dos estudantes. Essas são suas habilidades mais usadas no dia a dia; cozinhar e servir. Ninguém notou que nessas duas atividades estavam o seu treinamento secreto.
Quando começou o tiroteio na escola, nossa heroína abriu a cozinha e colocou o maior número de crianças possível lá dentro. Falou para elas deitarem no chão e com os colegas fez uma barricada na porta que impediu os atiradores.
Você não espera que alguém que vive preparando a comida, também seja uma guerreira que impeça mortes sem trocar tiros. Silmara é mesmo uma surpresa. É o primeiro herói, ou heroína, que eu tenho lembrança que além de salvar a vida das pessoas, faz um lanche gostoso para elas.
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