A saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa e no dialeto galego, que tem parentesco com o português. Mas a saudade ao mesmo tempo é filha da solidão que vem do latim “solitas”, que quer dizer solitário e junto com o “amor”, é uma das palavras mais constantes na boemia, na poesia, na literatura e nas letras das canções.
Não temos como fugir da saudade, uma vez que ela é um sentimento nostálgico provocado pela distância de uma pessoa, coisa e local, ocasionando a vontade de reviver experiências e momentos passados. Por isso que lembramos carinhosamente de amigos e parentes distantes, de animais de estimação que tivemos, das pessoas estimadas que faleceram, da infância e adolescência, das dificuldades e facilidades de épocas passadas – que são emoções que ficaram marcadas para sempre em nosso corpo, memória e coração.
A saudade é um sentimento plural que dói, que traz de volta boas recordações e além disso é fogo da paixão, choradeira, dor de cotovelo, uma emoção torrente que inspira poetas, compositores, namorados, amantes, traídos e gente de todas as idades. Então, a saudade nos dá conforto que significa “com força” e nos ajuda a internalizar essa coisa ou pessoa de quem gostamos e com quem construímos laços “pra pertinho do coração”.
Mas tem aquela saudade que doí demais e dá um aperto no coração que são as lembranças indeléveis dos entes queridos que faleceram e que serão continuamente chamas acesas em nossas vidas. Se o luto não for trabalhado de forma curativa poderá trazer dor, depressão e melancolia interminável.
Freud, em Totem e Tabu reafirma o papel curativo do luto. Ele nos diz: “O luto tem uma função psíquica de desligar dos mortos as lembranças e esperanças dos sobreviventes”. Para o pai da psicanálise, quando há a elaboração aceitável do luto, os mortos se transformam em afetuosas lembranças, em antepassados ou entes venerados para os quais dedicamos não somente carinho, mas aos quais nós voltamos, até mesmo, por meio de pedidos de ajuda, direção e alento em horas difíceis.
Quando a saudade continuar doendo e a ausência é sentida amarga e intensamente temos a oportunidade de preencher esse vazio com as coisas boas que a vida oferece: literatura, arte, música, espiritualidade, família, amigos ou com tudo aquilo que nos faz sentir melhor, dando ao nosso coração afago, para que, por mais algum tempo, ele consiga lidar com a meiga, querida, teimosa e dolorida saudade.
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