Por Octavio Fernandes
Ser pai de um filho com neoplasia, doença também conhecida como câncer, é algo que leva a pensar em tanta coisa, um verdadeiro turbilhão de emoções e reflexões. É um tanto duro perceber o quão tênue é a linha da vida, que precisamos estar atentos a tudo para evitar que o pior aconteça.
Se não bastasse todo sofrimento que passamos diante da impotência e do desgaste físico e emocional que o tratamento causa, temos ainda que manter o orçamento do lar, que sofre um severo impacto com as despesas adicionais que todo tratamento exige. Os gastos aumentam de maneira astronômica. É claro que quem não tem condições acaba não fazendo essas despesas, mas como a saúde está diretamente relacionada, acabamos sacrificando tudo para que os riscos diminuam. Algumas dessas despesas são: a pintura da casa antes da previsão de manutenção, pois não podemos ter mofos no ambiente do transplantado, a instalação de ar condicionado para necessidades de isolamento e diminuir insetos, a troca por piso frio que é mais fácil de manter limpo. Essas foram algumas de nossas necessidades, mas cada caso é único.
Aí entra a pergunta: como equacionar esse problema em que precisamos passar mais tempo ao lado do filho em tratamento e ao mesmo tempo produzir mais para manter o equilíbrio financeiro? É uma conta difícil de fechar, pois pais de filhos com essa doença não tem os mesmos direitos como se fossem eles os doentes.
Acabamos contando com amigos, reais e virtuais, que de alguma forma ajudam a patrocinar os extras do tratamento através dos shows de prêmios, rifas, vendas de camisas e depósitos voluntários.
Apesar de ser um dos problemas, a questão financeira não é o maior. A montanha-russa emocional talvez seja a pior parte. Num mesmo dia, podemos ter notícias maravilhosas acompanhadas de sensações de tristeza extrema. Basta um relato do sofrimento pelo qual seu filho passa. É nessas horas que precisamos nos vestir de muita força, com certeza provida de Deus, que nos permite resgatá-lo daquela dor e colocá-lo numa situação de segurança e conforto.
Quantas vezes, com o coração destruído, precisava alegrá-lo com representações teatrais, dançar balé no quarto para arrancar ótimas risadas, jogar estalinhos pela janela do hospital só para que pudesse ser criança?
Hoje, depois de passarmos por tudo isso e muito mais, podemos dizer que somos gratos por chegarmos até aqui. Ainda temos um caminho longo pela frente, mas depois de perder tantos amigos de luta que não resistiram ao tratamento, nos sentimos privilegiados pela vida, por Deus.
Temos um imenso sentimento de gratidão! Por cada fase que passamos, nunca nos sentimos sozinhos ou desamparados, por estarmos sempre cercados de profissionais dedicados e que lutavam conosco, por termos filhos guerreiros e parceiros, pela família que sempre esteve ao nosso lado, pelos amigos que nunca nos desampararam. Esperamos devolver isso à vida de alguma forma.
Octavio escreve regularmente sobre essa linda história em seu blog Um Café Comigo.