Quando o artista está vivo em qualquer pessoa, qualquer que seja o seu tipo de trabalho, ela se torna uma criatura inventiva, pesquisadora, ousada, expressiva. Torna-se interessante aos olhos de outras pessoas. Perturba, agita, esclarece e abre o caminho para uma melhor compreensão. Quando aqueles que não são artistas estão procurando fechar o livro, ele o abre e mostra que ainda há um grande numero de páginas possíveis. Robert Henri.
Muitas vezes o paciente em terapia é incentivado a falar sobre seus sentimentos e ao descrevê-los e revivê-los em suas experiências constata que a frustração será um mediador e a construção de suporte a sua firmeza. Uma boa terapia não oferece esperança, não é uma espécie de resolução de problemas ou fórmula mágica numa visão limitada de mundo é, sobretudo uma guerra, um constante enfrentamento. Grande é a pessoa que ao enfrentar seus demônios saiba conciliar-se e se torna quem se é. Terapia, não é treinamento empresarial, não é “coaching”, não é solução pronta, ela é como o ser humano inacabado. Paradoxalmente, terapia se dá no devir e oferece o melhor em saúde mental.
Lembramo-nos de Heidegger quando diz que não conseguimos pensar sobre o que fazemos, a não ser através do relato da vivência de tudo aquilo que é experimentado. O relato muitas vezes repetitivo é a busca de “querer ser” do paciente.
Diante da terapia observamos os pacientes com dificuldades de viver no efêmero presente, porque há expectativa de futuro e a noção de agora é a gênese do tempo, produzimos uma sucessão de “agoras” porque viver no presente é lidar com a realidade muitas vezes insuportável. Nietzsche dirá que: “a vida necessita de ilusões…”.
Para viver no presente criamos mecanismos de defesas. Esses são erguidos como um muro perante a dor e o sofrimento na intenção de proteger e sobreviver psicológica, física e emocionalmente. O maior problema de alguns pacientes é negar a vida como ela se apresenta, preferindo não enfrentar a realidade como observa Lacan “sair de cena”. Tais defesas ao serem criadas permanecerão para o resto da vida, tornando-se assim prisioneiros da angústia.
Olhar o passado para localizar uma diferença em relação à atualidade para, estabelecer possibilidades novas é a conquista do homem, o passado é um “agora” que aconteceu.
Articula-se o passado, presente e futuro, o antes, agora e o depois, pois são amarrados e fixados. Esse ordenamento não é linear. É cíclico. Não há certezas finitas.
A vida é ação e atividade e tem formato de drama. Porque o homem é um vivente que precisa fazer o seu ser, ele não é terminado. É um “por vir”. É um movimento de crescimento de força e esvaziamento de força, ganho e perda. Ciclos, de ascensão e queda. É alteração, transformação e criação no “aqui e agora”. Essa dinâmica, não se faz numa fôrma. Ela é da dimensão existencial. E por isso a frase: tornar-se quem tu és, faz tanto sentido. O trabalho da reflexão é revelar no “osso”, a estrutura dessa fôrma.
Nietzsche em seu pensamento “amor fati” vai deixar claro que para amar a existência e alegrar-se com ela e com tudo o que ela implica não somente o trágico, mas também suas inúmeras possibilidades e potencialidades criativas e experimentais é preciso estar vivo, desperto, conectado, ou seja, afirmando a vida tal como ela se apresenta. Amor fati é amar a morte, amar a perda, a dor, mas amar a dança, a música, a luta, a batalha, as vitorias acima de tudo… amar tudo na existência … tudo que quer expansão, é um lançar-se.
Um dos assuntos que chegam ao consultório é quando o paciente em terapia se responsabiliza pelos seus atos e se depara com essa liberdade de “ser quem é”, assim transforma e contribui com o mundo, ao invés de manter a distância e interpretar o cotidiano, descobre o caminho e nesse caminho próprio, não encontra ninguém. Como diz Nietzsche: “Nunca é alto o preço a pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo”. É bom lembrar que o papel do terapeuta é de interagir e conduzir o processo da tomada de consciência do paciente, mas toda escolha por um dos caminhos diferentes haverá consequências.
Existem modos na existência para viver, é preciso escolher qual melhor maneira de realizar a potência de cada um, pois é expandir quem se é de verdade, de como gosta ou não gosta de ser, assim como todo o artista ao fazer arte.
Com a ênfase na experiência consciente; a espontaneidade e o poder de criação e de expansão do indivíduo a arte se faz presente cada vez mais como parte integrante desse processo.
Metaforicamente assim é o artista diante das suas possibilidades limitantes da existência percebe que a sua obra de arte não expandirá, o desespero toma conta e aparecem os sintomas. O sintoma carrega em si a sua marca pessoal e o seu sentido é traduzido com ajuda terapêutica, porém para obter a alegria de todo o artista essa experiência lhe trará na obra de arte as diversas partes da sua realidade e a possibilidade de transformar de um jeito singular o “compartilhar” do seu enorme prazer em fazer arte. Podemos entender quem faz arte é pintor, o pedreiro, o bombeiro, o cirurgião, o cantor, o poeta, o escritor, o psicólogo, o engenheiro, o médico, ou seja, todos dotados de poder criativo, capazes de moldar a si mesmos ao fazer arte.
O artista, que somos nós, ao criar transforma, se reinventa e ao transpor para uma nova dimensão, ultrapassa sua própria limitação.
É um processo, um movimento, um devir, ao se parar esse processo aparecerá à doença. Ao se fazer o que agrada é tornar possível o impossível é ressignificar sua própria existência.
“A arte e nada mais que a arte! Ela é a grande possibilitadora da vida, a grande aliciadora da vida, o grande estimulante da vida.” Nietzsche
Bem vindo o Bem e o Mal. Bem vindo o que há em você que quer expansão.
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