Segundo Freud, a age regression (regressão de idade) é um mecanismo de defesa do ego que resulta em uma reversão temporária ou de longo prazo a um estágio anterior de desenvolvimento, fazendo com que a pessoa evite lidar com impulsos de maneira adulta. Para o psicanalista, esse processo se daria inconscientemente; entretanto, um grupo considerável de pessoas têm contestado essa ideia. Para muitos adeptos da age regression, a prática pode ser um hobby ou até mesmo um estilo de vida.
O tema foi abordado de maneira esclarecedora em uma matéria de Letícia Simionato para o Tab Uol. A reportagem conversou com Laura Pini – que prefere ser chamado pelo pronome masculino – , de 19 anos, que passou a agir como uma criança para lidar com sentimentos ruins e traumas. Ele realiza as regressões infantis junto de um caregiver, Rodrigo*, amigo que conheceu pela internet e que assume a posição de cuidador e auxiliar.
“[…] Víamos Laura sobre a cama, de pernas cruzadas, usando um macacão jeans e uma tiara no cabelo. Na boca, revezava três mordedores infantis coloridos, emitia sons guturais e gargalhadas. Minutos depois, víamos outros objetos que Laura ia garimpando, na ânsia de distração: mamadeira, urso de pelúcia, boneca, chocalho. Como um bebê, mexia as mãos de forma desengonçada e mantinha os olhos arregalados enquanto explorava os detalhes do que tocava.”, diz a reportagem, que acompanhou por videochamada um dos episódios de regressão de Laura à idade de 1 a 3 anos.
“O caregiver de 18 anos agia como um pai orgulhoso que ri das traquinagens do filho e não pode desviar a atenção. ‘Cuidado para não se machucar’; ‘não bota o mordedor muito fundo senão vai passar mal’; ‘não pode colocar a boneca na boca, só o tetê’. Laura soltava palavras indistinguíveis quando incentivado. ‘Consegue falar buraco?’ — ‘o caco’. ‘Qual música está cantando?’ — ‘vilaéamo’, o que Rodrigo traduziu como Vila Sésamo.”.
Laura, que trabalha com tatuagem, contou à reportagem da Tab que suas regressões quase sempre terminam com o caregiver o colocando para dormir — depois de um tempo, acorda e volta para a vida adulta. Ele disse ainda que embora a regressão possa ser voluntária, com objetivos terapêuticos, a maioria dos episódios acontece involuntariamente. “Não é uma escolha para mim. Tem dias que me dá um pico de sentimento forte, não consigo lidar, aí regrido e tenho crise de birra igual criança.”.
Diferentemente de Laura, a influencer Moon Queiroz, de 21 anos, encara a regressão como uma forma de meditação. “É um hobby, não é algo de que necessito”, afirma. Segundo a jovem, que é formada em pedagogia, não basta só usar chupeta ou mamadeira. “Quem regride entra numa mentalidade infantil.”
Já para a desenvolvedora de TI Sarah, de 27 anos, a regressão lhe dá forças para voltar à realidade. “Depois de sair do meu mundinho cor-de-rosa, fico recuperada”. Segunda ela, desde a adolescência, suas ações foram descritas como “coisas de criança”. “As filhas da vizinha vinham em casa, passávamos o dia brincando. Cantávamos Xuxa e víamos Barbie. Agora, elas estão maiores e não querem mais algumas coisas. Eu não queria crescer, chorava.”
A psiquiatra Miriam Gorender, professora associada da UFBA (Universidade Federal da Bahia), afirma que a regressão não é uma prática validada como terapia, mas é inofensiva. “Eu não impediria que um paciente regredisse, desde que, caso ele precise, isso não o impeça de fazer um tratamento que a gente saiba que tem efeito.”
Para ela, a regressão pode ser uma forma de estabelecer uma identidade e não deve ser ridicularizada. “É uma acusação injusta, por exemplo, associar à pedofilia, que só acontece quando há uma criança de verdade saciando o desejo de outro.”
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de TAB UOL.