Aresistência ao processo analítico ocorre para muitos analisandos, principalmente para o sujeito que ainda evita a análise com inúmeros obstáculos existenciais, monetários ou temporais. A resistência é tão criativa quanto o inconsciente, afinal, é de lá que ela vem. Isso significa que a resistência dificilmente é percebida enquanto tal, e com isso veremos a importância desse texto. Não se trata de uma tentativa de decifrar o inconsciente, mas se o que rege o ser humano é o conhecimento sobre as coisas, e principalmente sobre si mesmo, deixar que a resistência impeça o início de uma análise certamente é mais custoso do que revelar os bloqueios à análise.
A lacuna entre o sofrimento e o movimento pode custar caro. Para alguns, ela consiste de tempo; para outros, de valor. A resistência se manifesta através desses quesitos como uma forma do sujeito se opor a qualquer mudança de estado, e se há algum sintoma, a resistência ocorre pelo mesmo motivo que o gerou. Sabe-se que processo analítico não é o fim do arco-íris, e quem resiste consegue prever isso com exatidão. Então por que revirar uma estante que está arrumada e etiquetada com cada assunto intocável da sua vida? Ora, porque uma hora a estante não suporta mais gavetas, as etiquetas descolam, e o que um dia estava arrumado, hoje é a fonte de um sofrimento maior. Para tempo e valor existem dois pontos de vista.
Um diz respeito ao sujeito consigo mesmo, e outro ao sujeito com o processo analítico. Tudo isso é essencialmente subjetivo, mas desconsiderar acontecimentos externos, como a hostilidade de uma figura de autoridade à análise, atribuição da neurose aos adoecimentos orgânicos e até uma certa melhora do que levou a considerar o início da análise, é um erro.Em outras palavras, a demora em decidir iniciar algum movimento, isto é, o tratamento, é um empecilho crucial e independe da análise propriamente dita.
Depois dessa decisão tardia e custosa, é o tempo que se dispõe para análise que compromete a condução do tratamento. E assim os inúmeros adiamentos e as maçantes desmarcações ocorrem sem que o aspirante ao tratamento perceba que esse é apenas mais um sintoma que confirma a utilidade que a análise terá. O mesmo acontece para o valor que o sujeito atribui ao processo analítico, esteja ele em análise ou não. Ora a cultura do “faça você mesmo” convence que os percalços devem ser resolvidos solitariamente, ora a mesma cultura dispensa a possibilidade de um ganho real com o tratamento.
Isso, claro, quando o sujeito já notou que ninguém atinge o alento de um estado de nirvana, quero dizer, que todo ser humano sente angústia de alguma forma, e ele não é uma exceção.Agora que alguns exemplos da resistência foram definidos, resta-nos atentar que chegou a hora de suspender essa organização angustiante, e lembrar que o tratamento analítico não é estritamente para quem está nitidamente mal, mas sim para o sujeito que deseja melhorar. A associação entre análise e doença mental é um equívoco ultrapassado, tendo em vista que a contemporaneidade admite e demanda a saúde mental.
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