Num primeiro momento, qualquer criança se sente ameaçada, perante a hipótese de vir a ter um irmão. O receio de que os pais deixem de gostar dele, ou que o coloquem em segundo plano acarreta um grande sofrimento. Esta angústia pode ser minorada, se a vinda do irmão for preparada com alguns cuidados.

Tudo se deve iniciar no momento em que sabe que está grávida. Ao chegar a casa, conte ao seu filho a novidade e explique-lhe que um irmão significa um companheiro para brincar e uma companhia para toda a vida, que o poderá apoiar nos momentos menos bons e que os unirá um amor incondicional.

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Ao longo da gravidez permita-lhe e estimule-o a acariciar a sua barriga e a participar nas compras para o enxoval e na decoração do quarto. Ele sentir-se-á importante e não colocado de lado.

Chegado o momento do nascimento o seu filho deverá ser das primeiras pessoas a ver o irmão. Não ceda à tentação de o deixar em casa de familiares, porque impede o momento do conhecimento, que é vital para todo o processo. A partir daí, intensifique sempre a ideia de que ele é o irmão mais velho e você precisa da ajuda dele para cuidar do irmão, que é mais pequenino e frágil.

Como estimular a cumplicidade?

Por certo já terá reparado que as crianças gostam, em regra , umas das outras. Por vezes nos jardins, assistimos a cenas ternurentas em que os bebés se beijam mutuamente, embora o conhecimento seja muito recente.

Existe automaticamente uma empatia, acompanhada pelo interesse de conhecimento que os leva a assumir estes comportamentos. Ás crianças um pouco mais velhas, fascina-as os seres pequeninos que, sendo parecidos com bonecos, são no entanto de carne e osso.

Querem, por isso mesmo, tocar-lhes, vê-los dormir e chegam até a beliscá-los enquanto dormem, só para experimentar o que acontece. Mais tarde, gostam de os pegar no colo e de lhe fazer festas. Alguns irmãos mas velhos, tornam-se grandes defensores dos seus pequeninos, não deixam que ninguém se aproxime e gritam “o bebé é meu ! ” .

As relações evoluem à medida que a idade avança e se podem tornar companheiros de brincadeiras. O mais velho gosta de mandar e o mais novo sente-se valorizado, sempre que o irmão lhe permite participar nas brincadeiras.

O problema surge, quando são os privilégios que tem que passar a partilhar. Chegar a um consenso quanto ao programa de televisão, pode ser uma tarefa que envolva algumas brigas.

A rivalidade é normal

No meio das brigas de almofadas e das birras, as crianças acabam por aprender muito sobre os outros e sobre si mesmas. Contudo, a rivalidade só cresce e se instala, se for permitida no seio da família.

Fazer comparações entre os filhos é algo que se deve evitar a todo o custo. Embora os pais raramente assumam as suas preferências de uma forma clara, podem fazê-lo de uma maneira indirecta e subliminar sendo que as crianças são muito sensíveis neste ponto.

Observações do tipo “já viste como o teu irmão faz desenhos tão bonitos”, “não comas mais doces, queres ficar gordo como a tua irmã !”, levam as crianças a sentirem que não são amadas o suficiente.

Um pode ser mais extrovertido, o outro mais sensível por isso sentem e actuam de modos distintos que os pais se habituaram a perceber e a aceitar. Cabe-lhes a tarefa de mostrar aos filhos que, apesar das diferenças, gostam igualmente de todos eles.

Evite interferir nas brigas entre eles

As brigas entre os irmãos são já uma tradição. Só quem não teve irmãos é que não se lembra das guerras de almofadas ao deitar, das embirrações e das invejas. Os pais não podem, nem devem desiludir-se com os filhos, por eles brigarem entre si.

O amor é um sentimento tão forte, que pode perfeitamente contemplar alguns momentos de raiva e de vingança.

O facto de brigarem muito, não implica que gostem menos uns dos outros. Os irmãos do mesmo sexo costumam entender-se melhor, já que partilham dos mesmos interesses e podem brincar juntos. A diferença entre os sexos, faz com que rapazes e raparigas (moças) vão divergindo cada vez mais em termos de interesses.

Chegada a adolescência o problema acentua-se cada vez mais. A menina quer ser tratada com delicadeza e gosta que apreciem a sua beleza, o rapaz pretende que apreciem a força dos músculos … o que leva a brigas sucessivas.

A luta pelo poder e, sobretudo, pela atenção dos pais, pode fazer com que os episódios de desavença se acentuem. É hoje sabido, que as brigas duram mais tempo, se os pais se intrometerem. Assim, quando os filhos se envolvem numa briga, tente manter-se neutra neutros.

Não caia na tentação de achar que tem que proteger um ou outro porque rapidamente transforma a situação a relação num triângulo. Para evitar isso, perante as brigas a melhor atitude é manter alguma distância.

Deixar que sejam eles próprios a resolver o assunto entre eles. É conveniente que vá ao quarto e lance um aviso para o ar do tipo «já que começaram a brigar, agora encontrem a solução para o problema, eu não tenho nada a ver com os vossos assuntos ! », depois saia do quarto.

Em geral as discussões diminuem no tempo e na intensidade, quando não há envolvimento dos adultos.

Regressões no desenvolvimento

Se não existir todo um trabalho de preparação para a chegada do bebé, pode ser que a o irmão mais velho passe a assumir atitudes menos correctas, como birras e obstinações ou então que regrida no desenvolvimento.

É a maneira que a crianças encontram para, através do comportamento, demonstrarem a sua total incapacidade para lidar com a situação. Podem voltar a usar chucha, querer beber leite pelo biberon (mamadeira) ou mesmo fazer chichi na cama .

Ao regressarem à situação de bebés, pedem as atenções dos pais. Perante esta situação, converse com o seu filho e explique-lhe carinhosamente, as vantagens de crescer.

Peça-lhe ajuda para cuidar do irmão e elogie tudo o que ele fizer correctamente. Deste modo estará a fortalecer-lhe a auto-estima e puxá-lo “para cima”. Quando os motivos que estão na base do retrocesso, deixarem de o afectar, ele voltará a apresentar o comportamento adequado à sua idade.

No caso de a situação se manter, é preferível procurar a ajuda de um psicólogo clínico, por forma a que este técnico avalie o que se passa e a ajude a ultrapassar este momento sem restarem sequelas.

Veja na próxima página Qual a diferença de idade menos problemática ? .

Qual a diferença de idade menos problemática ?

Algumas mães questionam-se sobre o intervalo mais adequado para ter os filhos. É hoje sabido que se as crianças tiverem um ano de diferença, dificilmente surgirão conflitos.

Nesta altura, os bebes não possuem ainda uma ideia muito clara acerca de si próprios, o que os impede de se aperceberem totalmente da perda de exclusividade. O mesmo se passa se a diferença de idades for muito acentuada.

Por exemplo, para um adolescente o nascimento de um irmão é algo que lhe traz grandes alegrias e muito pouca rivalidade, uma vez que já adquiriu a sua independência face às figuras parentais, o que lhe permite um certo distanciamento.

A idade mais problemática situa-se entre os dois e os quatro anos. Nesta altura, a criança já adquiriu uma perfeita consciência de si mesmo e dá-se conta que o nascimento de um irmão vai introduzir na sua vida uma série de mudanças que lhe são penosas.

 

Teresa Paula Marques

Vivo em Lisboa, mas nasci há 48 anos, no Tramagal (Abrantes). Desde 1992 que me dedico à psicologia, nas suas mais variadas vertentes ...

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