Por Amanda Cruz
Nesta semana, foi ao ar uma cena muito emblemática na novela “A Força do Querer”, da Rede Globo. Nela, as personagens Irene (Débora Falabella), a amante da história, Joyce (Maria Fernanda Cândido), a esposa, e Ritinha (Isis Valverde), que é nora de Joyce, se atracaram em um banheiro por causa de Eugênio (Dan Stulbach), o marido em questão, que nem estava presente. Esse núcleo proporcionou a cena de maior audiência dessa novela até hoje e, considerando que essa criação da autora Glória Perez tem sido a novela mais popular dos últimos quatro anos, o resultado foi bastante significativo para a emissora. O problema é que esse enredo de mulheres brigando entre si e competindo não se restringe somente à ficção.
A psicóloga Raquel Baldo explica que historicamente esse conceito parte de uma ideia heroica, como se a personagem que bate estivesse “defendendo” os valores da família de uma ameaça. Mas será que a mulher vista como oponente é de fato uma ameaça que precisa ser combatida ou será que o que realmente precisa ser desconstruído são as ideias que nos fizeram acreditar nisso? A discussão desse assunto é complexa e estamos longe de uma resposta resolutiva. Mas refletir sobre o assunto já é um começo.
Atualmente é comum vermos mulheres ocupando o mercado de trabalho, alcançando cargos de destaque dentro das empresas e tomando decisões sobre o que é melhor para suas vidas. Porém, ainda há muito a ser conquistado e infelizmente não são todas as mulheres que conseguem ter acesso a uma faculdade e a um emprego.
Durante muito tempo, inclusive, a atuação da mulher na sociedade se restringiu ao casamento e a cuidar dos filhos. Vale ressaltar que não há problema algum em uma mulher se dedicar a essas atividades. O problema é que por longos anos essa era única opção de atuação da mulher na sociedade.
“Sendo assim, o casamento era o principal recurso de vida da mulher, ela tinha como objetivo de sucesso ter um marido, ser esposa, a função materna. Defender um casamento nos tapas era compreensível, porque se ela não tivesse o marido ela não seria ninguém. Por isso, antes a mulher se sujeitava e precisava estar em um papel desesperador para garantir um lugar na sociedade, mesmo que apanhasse, fosse traída”, completa.
Somente a partir dos anos 70, com o crescimento da economia nacional, as mulheres passaram a ocupar mais cargos de trabalho, de acordo com o livro “Mulher e Trabalho: as discriminações e as Barreiras no Mercado de Trabalho”, de Irede Cardoso.
A rivalidade entre as mulheres é antiga e começa a ser perpetuada ainda na infância. “Isso ainda é muito comum. Os meninos sempre andam em grupo, incluem mais pessoas, mas a coisa mais comum é ver as meninas andarem em duplas, no máximo trios. Essa menina mais adiante, quando olhar para outra mulher, ela vai sentir uma ameaça. Vai reparar no corpo melhor, no cabelo melhor, são comentários feitos muito frequentemente”, explica.
Mesmo hoje em dia, com o discurso feminista tomando força, esses comentários ainda continuam a ocupar as rodas de mulheres. “Você vê isso em comentários entre as mulheres. É uma fantasia de empoderamento, mas a mulher pensa que é mais do que a outra, e isso acontece porque talvez ela ainda carregue essa ideia de que precisa buscar um marido, mesmo repetindo que quer ser solteira”, analisa Raquel. “A mulher ainda tem um longo caminho pela frente, a visão de inimiga é muito frequente”, completa.
O fato de muitas vezes as mulheres se encararem como inimigas está muito atrelado ao que elas aprenderam que era certo. Por exemplo, o culto à estética, a obrigação de estar sempre arrumada, a necessidade de seguir a cartilha do casamento e filhos. “É quase uma carga genética do quanto elas têm que ser boas para se garantirem na sociedade”, conta a psicóloga.
Pode-se dizer, então, que a mulher moderna arca com os sintomas originados pelas gerações passadas. “Vivemos hoje algumas neuras, algumas inseguranças que talvez não sejam nossas, são de estruturas anteriores que arcamos até hoje”, explica.
Um dos passos mais importantes para que esse cenário se transforme e para que no futuro as mulheres não se vejam mais como rivais está no diálogo. “Parece que estamos no caminho, mas é preciso falar, continuar falando, expondo os pensamentos, as possibilidades que uma cena de novela ou de cinema gera. São muitos conceitos que vivemos e falamos, mas no fundo não nos damos conta, só reproduzimos porque aprendemos. Isso não é questionado se é bom ou não”, diz a psicóloga.
“Ao falarmos sobre o que pensamos, o que sentimos sobre as coisas, o que enxergamos, damos oportunidade de reestruturar o feminino e fechamos um pouco dessas heranças, que ainda vamos carregar, mas que podem virar algo histórico que não interferirá mais em nossas ações no futuro”, completa.
E para dialogar, os envolvidos não precisam sempre concordar. Ouvir opiniões contrárias enriquece o debate e ajuda a construir essa nova fase das mulheres. “É importante ouvir quem concorda com uma visão machista, quem se enxerga em cenas de ódio entre as mulheres. Esses valores são algo a ser considerado e é necessário encontrar essa parceria entre a mulher do passado e a mulher de hoje”, finaliza Raquel.
Imagem de capa: Shutterstock/Yellowj
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