Desde o início da internet plataformas e redes sociais propiciaram o “encontro” de pessoas que, na vida real, talvez nunca se conhecessem. Entretanto, se por um lado essa ferramenta abriu um infinito de possibilidades, ela também nos deixou vulneráveis frente a pessoas que têm um discurso inicial, mas, na prática, não são o que dizem ser.
Pessoas mal intencionadas podem ser muito convincentes, principalmente quando quem está do outro da tela, não tem como rapidamente saber se tudo o que é dito é verdade. A internet permite a maquiagem perfeita. Somando- se a isso, a paixão também nos prega peças, pois, na web, tendemos a fantasiar relacionamentos antes de começa-los. A própria Netflix, recentemente, publicou o documentário O Golpista do Tinder, que contava a história de três mulheres que foram vítimas de um profissional nesse tipo de sedução.
Isso foi o que aconteceu com a escritora inglesa Ruth Tunnicliffe, de 61 anos, que em 2010, e após um divórcio, começou a receber “recados” de um admirador chamado Petter McMahon. Peter usava o Facebook para enviar dezenas de mensagens, fazia promessas, parecia simpático e agradável.
Após muita insistência, ela, já envolvida, aceitou visitar Peter em Nashville, nos Estados Unidos em fevereiro de 2011. Encontraram-se no aeroporto, e os primeiros dias foram como ela havia sonhado. Peter parecia ser querido na cidade, cumprimentava muitas pessoas e usava seu charme para conseguir o que queria. Nessas situações, ele já apresentava Ruth como sua noiva enquanto a convencia a abrir um negócio com ele para que pudessem ficar juntos.
Os sinais de que havia algo errado, entretanto, começaram a aparecer quando, após viajarem a várias partes dos Estados Unidos, Peter nunca a levou a sua própria casa. Em seguida, o passaporte de Ruth simplesmente “desapareceu”, o que dificultava a sua saída do pais.
A paixão realmente dificulta o senso crítico da pessoa, e, por ainda estar vivendo uma “lua de mel”, Ruth não tomou providências imediatas. Divertiram-se durante alguns meses com o dinheiro de Ruth até que a renda se esgotou. Nesse momento, Peter já não era mais o “príncipe encantado” e tinha diversos episódios de violência. Aí a situação ficou mais identificável como um caso de sequestro e cárcere, pois, além do desaparecimento do passaporte, Ruth era violentamente atacada se fizesse perguntas.
Especialista em dependência afetiva explicam que, ao contrário do que o leigo pode pensar, a pessoa que sofre esse tipo de violência, desenvolve um grau de dependência e medo que a impedem de reagir de maneira apropriada. A pessoa sente-se acuada, sem autoestima, sem saídas. Ela deixa de ser quem ela era.
O relacionamento, já sem dinheiro, evoluiu para subempregos e noites dormidas no carro.
Certo dia, Ruth encontrou seu passaporte e começou a imaginar possibilidades de finalmente fugir. Ela conta que parou o carro perto do bar onde ambos trabalhavam, e disse que tinha esquecido algo lá. Nesse momento, ela foi até o carro, pegou uma caixa com seus pertences mais importantes que já tinha separado, e correu até um posto de polícia mais próximo.
Peter ainda tentou encontra-la, mas ela Ruth foi forte e não voltou atrás. Com ela ficou um grande trauma, mais R$200 mil em dívidas e a consciência de que foi enganada em um momento em que se encontrava vulnerável e carente. É muito mais fácil compreender isso depois que o tempo passa, mas os predadores sabem reconhecer suas vítimas e identificar as brechas em que elas podem ser “capturadas”.
Ruth hoje está bem, é casada e escreveu uma trilogia de livros sobre sua história chamada “To love, honor & betray” e ajuda a conscientizar pessoas sobre como é menos difícil do que parece se tornar rapidamente uma vítima.
Peter tem paradeiro desconhecido.
***
Imagens: reprodução