Por Acácia Lima
Certa vez eu ouvi “é assim que é, paciência” e confesso que fiquei chocada. Acostumada a ter as rédeas de muita coisa na minha vida em minhas mãos, ouvir que não tenho controle sobre tantas coisas foi um balde de água fria para mim. Mas imagine que pretensão a minha, se até as flores da minha casa independem de minha vontade, o que dirá o futuro.
O fato é que eu entendi a frase, mesmo que ela tenha sido dita de uma maneira desagradável. Na verdade sempre concordei com ela, afinal há que se ter paciência para viver bem. Todo mundo sabe disso, mas a gente se morde de raiva por causa disso. Quem é que nunca quis pular no tempo, dar um salto e, como num passe de mágica, ver a vida diferente?
Entretanto, correndo todo o risco do mundo de parecer piegas, nada traz mais sabor à conquista do que a luta, a vitória pela persistência, os buracos que parecem não ter saída, os degraus gigantes e os nem tanto. Tenho certeza de que quem me lê concorda também.
O problema é que a gente se esquece disso quando está lá, se arrastando pela montanha sem fim. Pois, o negócio é tratar de lembrar, assim como eu pelejo todos os dias para não esquecer: o que nos engrandece é a superação daquilo que só a gente sabe. A satisfação está em vencer naquilo que é mais escondido, que ninguém vê, ninguém desconfia, mas só a gente.
É isso que me enche de amor e orgulho, perceber que há um avanço dentro de mim, um crescimento que não precisa de aplauso. Pois o que é uma honra pra mim pode ser desimportante demais para o outro, e tudo bem. Mesmo.
Olhar para a superação eleva a auto-estima, isso é fato. A pena é que a maioria de nós não gosta de olhar de onde a superação vem: de uma fragilidade anterior da qual se envergonha. Por isso, ao invés de assumir as dificuldades a gente prefere se esconder e se fantasiar de super-homem, super-mulher, mega isso e aquilo.
Poucas vezes ouvi alguém falar de suas deficiências com o coração aberto, sem armas nem armaduras, só para dividir mesmo. Falar para o outro que a vida é feita de escadas, braçadas, respiros, suspiros, deleites, lágrimas e alma lavada. Amizade, certa tristeza, e um tanto de alegria. Felicidade, no final das contas. Afinal, tudo isso é felicidade, sim, e repartir é companheirismo, deixar de parecer onipotente, até porque ninguém é mesmo e isso, todo mundo sabe.
Desmistificar a perfeição, assumir que cada um tem necessidades próprias. Não idealizar: tudo isso nos ajuda a baixar a guarda e aceitar melhor a vida, afinal, cada um sabe o que mais lhe apetece. Como já dizia Voltaire, “Para o sapo, o ideal de beleza é a sapa”.
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