“Bebê Rena”, que estreou em abril na Netflix, está gerando debates sobre stalking e transtornos psiquiátricos. Baseada em uma história real, a série apresenta Martha (Jessica Gunning), uma advogada que se apaixona obsessivamente por um barman, Donny Dunn (Richard Gadd), após um ato de gentileza. O que começa como uma simples paixão rapidamente se transforma em um perigoso caso de perseguição.
Martha envia 41.071 e-mails, 350 horas de mensagens de voz, 744 tweets, 46 mensagens no Facebook e 106 cartas ao aspirante a comediante. Quando Donny não retribui seus sentimentos, ela passa a adotar comportamentos violentos.
Com o sucesso da série, especialistas discutem a possibilidade de Martha sofrer de uma síndrome psiquiátrica rara conhecida como “Erotomania” ou “Síndrome de Clérambault”.
“A Erotomania é uma síndrome psiquiátrica delirante caracterizada por uma fixação irreal, podendo representar um perigo real para a pessoa objeto desse desejo”, explica o psicólogo Alexander Bez. “rata-se de um transtorno mental grave no qual o indivíduo acredita firmemente estar sendo amado por outra pessoa, interpretando ações simples como expressões de amor”, acrescenta.
Pacientes com esse quadro geralmente têm como alvo figuras públicas, celebridades ou pessoas de status elevado. “O erotomaníaco acredita que seu pretendente está sempre dando sinais, mesmo quando eles nem se conhecem”, afirma a psicanalista Andréa Ladislau.
A Erotomania pode ser categorizada em dois níveis:
Nível Primário: Conhecido como Síndrome de Clérambault pura, é um subtipo específico do transtorno obsessivo-compulsivo com forte componente delirante. Nesse estágio, não há outras condições psiquiátricas associadas, tornando o tratamento especialmente desafiador e com respostas terapêuticas limitadas.
Nível Secundário: Além da Erotomania, podem estar presentes outras condições mentais e comorbidades, complicando o quadro clínico. Entretanto, a resposta aos tratamentos tende a ser mais favorável do que no nível primário, exigindo muitas vezes a combinação de abordagens terapêuticas.
“Os sintomas e sinais variam em intensidade de paciente para paciente, mas incluem comportamentos obsessivos, agressivos e até mesmo perigosos, especialmente para quem confronta ou tenta impedir o portador do transtorno de se aproximar da vítima escolhida”, comenta Bez. Esses comportamentos podem incluir: perseguição online, crença em comunicação telepática ou o ato de guardar objetos relacionados à vítima.
A incidência desse transtorno é pouco conhecida, mas estudos sugerem que pode afetar 0,3% da população. “Suas causas variam conforme a predisposição psicogenética de cada um, incluindo traumas na cabeça, abusos na infância, esquizofrenia, negligência na infância ou outras doenças psiquiátricas”, cita Ladislau.
O diagnóstico da Erotomania envolve uma avaliação psiquiátrica detalhada, incluindo entrevistas clínicas e, por vezes, avaliações de familiares e amigos para verificar a gravidade dos sintomas. O tratamento inclui psicoterapia, uso de antipsicóticos, antidepressivos e ansiolíticos, além de outras abordagens para trabalhar os sintomas associados.
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Fonte: Delas/IG.
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