O que você pensa sobre seu trabalho? Seu trabalho produz satisfação? Já parou para pensar sobre isso? O que vêm à sua mente quando ouve a palavra trabalho? Você já ouviu a frase: “com um trabalho como este qualquer um fica doido!?” […] Pois bem! Decidi escrever sobre essa temática, que faz parte de nosso cotidiano e geralmente não paramos para refletir sobre aquilo que fazemos diariamente e seus possíveis efeitos em nossa saúde. Muitas vezes esperamos tão ansiosamente pela “sexta-feira” que acabamos relacionando o trabalho como algo ruim, doloroso e difícil e não aproveitamos a semana e a rotina de maneira mais intensa, leve e criativa, porém isso é algo que faz parte de nossa cultura.
Sendo assim, o trabalho durante muito tempo, remeteu-se como uma experiência que se misturava com dor, sofrimento e até mesmo, punição. Desde os tempos antigos, era comum o trabalho ser percebido como a ação daqueles que não tinham mais o direito à liberdade e precisavam carregar o fardo do trabalho em suas vidas. Dessa forma, a punição ou até mesmo tortura, vieram constituindo o trabalho ao longo do tempo. Pensando no significado da palavra trabalho, do latin “tripalium” que significa tortura, algo que remete a uma obrigação que não se faz pela própria vontade. Desse modo, é possível perceber que o trabalho pode causar sofrimento e desgaste no sujeito trabalhador.
Será que é só sofrimento que o trabalho traz?
Obviamente que não é só sofrimento que faz parte do mundo do trabalho. Essa é apenas uma de suas composições. Ele pode produzir sim satisfação e prazer, produção de saúde! Segundo Bianchessi e Tittoni (2009), o trabalho produz satisfação e prazer quando os trabalhadores encontram condições facilitadoras, trazendo a certeza de que suas tarefas são valorizadas, uma questão de visibilidade de suas práticas, que passa pelo reconhecimento do outro. Também podemos pensar o trabalho como catalizador de processos criativos dos trabalhadores, pois proporciona ao sujeito ter autonomia, tanto financeira, quanto no sentido de ter uma ocupação, obtendo contato com outras pessoas, promovendo interação social. Além de que, o trabalho hoje se constitui como uma identidade que carregamos, é como se fosse nosso “sobrenome”.
Assim, temos duas dimensões que atravessam o mundo do trabalho: o cotidiano pode causar tanto prazer e satisfação, quanto sofrimento e desgaste nesse sujeito, sendo que, cada um utiliza de respectivos mecanismos para lidar com essas tensões. Uns adoecem mais, outros menos, outros se mantém “aparentemente” saudáveis.
Será então que meu desgaste vem do trabalho?
Vejamos! Quantas vezes pensamos em mudar de emprego, pensando que a situação irá melhorar, que teremos mais ânimo e disposição para trabalhar, sentindo assim, menos cansaço e desgaste. E mesmo que venhamos a procurar outro emprego, muitas vezes, nada disso ocorre: o desânimo continua, entre todos os outros exemplos citados. Na verdade, o “problema” não está no emprego em si, mas na maneira como nós estamos olhando para as situações e interpretando-as no ambiente de trabalho e além dele.
Esse exemplo nos mostra que devido à complexidade que envolve o mundo do trabalho como as tensões, o medo da perda do emprego, entre outras situações torna-se difícil “decifrar” na vida das pessoas, de onde estão vindo as tensões e os sofrimentos que se “escondem” em várias áreas de suas vidas, podendo ou não ter relação com sua vida laboral.
E quando esse sofrimento não é visível? O sofrimento quando não se remete a nível físico ou orgânico trata-se de algo difícil de ser percebido, pois devido às pressões do dia a dia, o trabalhador tende a silenciar-se. Mesmo assim, esse sofrimento é notável nos mais diversos tipos de profissões. Diante disso, é possível perceber que todos nos mobilizamos em alguns momentos, somos atravessados pelo que vivenciamos. A trajetória profissional se mescla a altos e baixos e é composta das mais diversas intensidades para cada trabalhador. O estresse, as desfavoráveis condições de trabalho, o desgaste que se dá a nível psíquico faz com que os trabalhadores precisem de amparo para que possam encontrar estratégias para lidar com tais desafios sem que haja adoecimento.
Referência utilizada:
BIANCHESSI, Desiree Luzardo Cardozo; TITTONI, Jaqueline. Trabalho, saúde e subjetividade sob o olhar dos trabalhadores administrativo-operacionais de um hospital geral, público e universitário. Physis. v. 19, n.4, 2009.
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