Priorizar a si mesmo é uma prática saudável, útil e necessária. Colocar em prática essa habilidade não é um ato de egoísmo, porque amar essa pessoa que se reflete no nosso espelho sem desculpas, condições ou adiamentos é cuidar de si mesmo: investir no bem-estar pessoal e na qualidade de vida. Além disso, quem cuida de si mesmo como merece também pode oferecer o melhor de si para os outros.
Por exemplo, é curioso saber que o próprio Sócrates centrou parte de seus ensinamentos no conceito de autocuidado ou o que foi definido naquela época como “epimeleia heautou“. Mais tarde, Michel Foucault voltaria a se incidir nessa idéia, para aprofundá-la mais um pouco e concluir o seguinte: somente quando uma pessoa consegue se conhecer verdadeiramente, cuidando de si mesmo e se oferecendo valor, ela pode alcançar a verdadeira liberdade.
“Se você não tem amor próprio, a que amor pode aspirar?”-Walter Riso-
A verdade é que não sabemos em que ponto e por que razão a maior parte das pessoas começou a ouvir que colocar em prática esse tipo de estratégia era um ato interesseiro e egoísta. Confundiram termos, até o ponto de nos fazer acreditar que o altruísmo e o respeito pelo outro não harmonizam nenhum pouco com o autocuidado ou com a possibilidade de priorizarmos a nós mesmos como merecemos. Algo totalmente falso.
Assim, e quase sem nos darmos conta, fomos construindo relações onde habita esse devoto sacrifício que nos faz pensar que quanto mais oferecemos aos outros, mais vão nos amar, mais vão nos valorizar. Vínculos onde o que fazemos, na verdade, é abandonar o amor próprio em uma valeta à própria sorte, sem olhar para trás, pensando que fizemos o que era certo, o que todos esperam de nós.
Vamos evitar esta prática nociva que desencadeia muitos dos nossos problemas, frustrações, ansiedades, noites sem dormir e até mesmo dores físicas…
Quando uma pessoa deixa de priorizar a si mesmo para preencher sua agenda, sua mente e suas vontades com frases como “tenho que fazer isso ou aquilo”, “esperam o máximo de mim” ou “tenho que fazer isso por essa pessoa”, a única coisa que ela consegue é se sentir esgotada. Ela fica vazia de energia, de identidade, de desejos e, acima de tudo, de autoestima. O mais complexo de tudo isso é que às vezes colocamos em prática estes hábitos sem pensar, sem refletir durante um momento sobre se queremos realmente fazer aquele favor, aquele ato ou essa ação.
Os psicólogos nos explicam que caímos no automatismo do “fazer, fazer, fazer”, racionalizando essas ações como algo natural e necessário. Porque se formos úteis aos outros, seremos valiosos e porque se formos necessários para nossos entes queridos, então seremos amados. No entanto, esta regra de três nem sempre dá o resultado esperado; na verdade, são raras as vezes em que isso acontece.
O que acontece nesses casos é algo igualmente devastador e triste. Ao perceber que nossos esforços e sacrifícios contínuos não são valorizados, desenvolvemos uma visão muito crítica de nós mesmos, nos culpamos por termos sido tão ingênuos, tão devotos, por ter confiado tanto.
Às vezes essa voz interna pode ser muito cruel e, quando isso ocorre, não tarda em aparecer a somatização, traduzida como aquela dor muscular, aquele cansaço que nos tortura, aqueles problemas digestivos, aquelas infecções, aquelas dores de cabeça e até mesmo aquela queda preocupante de cabelo…
Abandonar a satisfação exclusiva das necessidades dos outros nos mancha como pessoas, nos dilui e nos drena até ficarmos vazios em termos de ânimo, esperanças e identidade. Quando isso acontece, a primeira coisa que experimentamos é um profundo cansaço físico e um denso nevoeiro mental…
Existem muitas pessoas assim, incrustadas em itinerários dos outros, como locomotivas que atravessam os trilhos de outros territórios, de outros mundos alheios ao seu. Elas levam cargas que não são suas como sendo próprias e não têm um só dia de férias; um dia para serem elas mesmas e cuidarem de si, para servirem exclusivamente aos desejos delas mesmas. Manter essa situação durante muito tempo coloca o nosso equilíbrio e a nossa saúde mental em perigo, e é por isso que recomendamos fazer uma mudança de foco nessa inércia.
Para concluir, estes quatro passos não se aprendem de um dia para o outro. Se tivermos vontade e tomarmos a firme decisão de cuidar mais de nós mesmos e de entender que priorizar a si mesmo é um ato altruísta, necessário e essencial, dia após dia seremos mais eficazes nessas estratégias: manter o cuidado pelo outro, mas também por nós.
Imagem de capa: Shutterstock/Subbotina Anna
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